segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Janeiro foi fatal - Um morto por dia nas estradas de Benguela

Cento e sessenta e quatro acidentes de viação foram registados na província de Benguela em Janeiro último, de que resultaram 33 mortos, numa cifra de um por dia. O número de feridos anda à volta de duas centenas, estando os danos materiais calculados em cerca de 18 milhões e meio de kwanzas. Já na primeira semana de Fevereiro ocorreram 28 acidentes, provocando três mortos e 36 feridos. O município de Benguela é o que mais casos registou.

Os dados foram revelados recentemente pelo 1º Superintendente Conceição Gomes, quando representava o Comando Provincial da Polícia Nacional na mesa redonda sobre “Perigos no Trânsito”, do programa radiofónico pela cidadania e saúde preventiva, “Viver para Vencer”, produzido pela ONG angolana AJS – Associação Juvenil para a Solidariedade.

«Nós temos como causas destes acidentes a imprudência, fundamentalmente, onde engloba o desrespeito às regras de trânsito, destas, as manobras perigosas, a condução em estado de embriagues, a fadiga, a utilização de instrumentos inapropriados, como sendo os telemóveis», realçou o
1º Superintendente Conceição Gomes.


KUPAPATAS RESISTENTES AOS REGULAMENTOS, DIZEM QUE A CULPA É DO CAPACETE

É quase impossível falar do trânsito em Benguela sem tocar na figura dialéctica do kupapata, ou mototaxistas. Tão úteis, que surgem no momento da aflição e da emergência. É só passar pelos hospitais para confirmar a sua prontidão. Mas, no melhor pano cai a mancha, tendo em conta os perigos que causam no trânsito com as suas ultrapassagens pela direita e, acima de tudo, generalizado desconhecimento do código de estrada. Este último, por sua vez, consequência do bastante débil mecanismo de atribuição de licenças de condução tutelado pelas administrações municipais. «Quatro em cada dez acidentes envolvem um kupapata», já lembrava, há coisa de um ano, uma alta patente da Polícia de Viação e Trânsito.

A equipa do Viver para Vencer procurou auscultar opiniões de três segmentos da população que mais usa dos transportes colectivos, um kupapata, um estudante e um zungueira.

«Quando estou a andar na minha mota, o que me atrapalhava é só o capacete», referiu o conterrâneo kupapata para adiante justificar que deixou de usar o referido protector por lhe causar subida de tensão arterial. Adepto do argumento segundo o qual o capacete impede o sentido de audição, o nosso interlocutor dramatiza: «muitos que estão a morrer por causa do capacete, porque aquilo mata. Só tem que ser na via longa, daqui ao Huambo, mas aqui na cidade traz acidente. Mesmo eu que estou a falar, escapei de morrer», asseverou.

No entender de Edmundo Francisco, presente à mesa redonda enquanto Coordenador Executivo da AJS e estudante de psicologia, o assunto dos perigos com o kupapata
«é importante e deve ser debatido, porque faz parte das preocupações da sociedade, que está preocupada com a segurança no trânsito».

Por seu turno, o sociólogo Ronaldo Fernandes considera paradoxal a tese da insegurança supostamente provocada pelo uso do capacete, já que «no mundo afora, o uso do capacete é tão normal e todo mundo usa, é diário e não incomoda nada». E para dissipar dúvidas, esclareceu que também já experimentou o uso do capacete.

Outra voz “irredutível” quanto o uso do capacete é a do 1º Superintendente Conceição Gomes, que junta à obrigatoriedade da lei a necessidade moral de protecção de uma das mais essenciais parte do corpo humano, no caso a cabeça. Pelo que, em seu entender, trata-se de irresponsabilidade dos jovens.

Começava a escurecer quando entrevistamos a conterrânea zungueira, justificando-se por isso a aflição em que se encontrava. Logo ela, que até tinha uma preocupação sagrada: «quero ir fazer jantar do meu marido, que essa hora está à espera que a mulher foi vender, e os táxis estão difíceis», revelou. Questionada se gostava (entenda-se tinha o hábito) de andar de mototaxi (kupapata), a cidadã zungueira disse que não,
«porque algumas pessoas não regulam».

Para o jovem estudante, o principal motivo de insegurança quando sai à rua é notar ausência dos agentes reguladores do trânsito. «Gosto de andar de hiace, porque mota é um perigo», disse. De autocarro sim, mas, por serem lentos, «só anda quando falham os táxis. De mota, mesmo já é no último caso», confessou.
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1 Deixe o seu comentário:

Soberano Kanyanga disse...

É urgente que a Sociedade reflicta seriamente sobre a sinistralidade rodoviária. "Já faz mais mortos dos que a guerrilha"... Será?
Mas o assunto é muito sério e gravoso.
Let's think about!

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