domingo, 13 de novembro de 2022
sábado, 29 de outubro de 2022
Um adeus impossível à FILÓ (*)
Atrás de mim, um céu carregado de chuva anunciada pelos humanos da meteorologia preenche a moldura da janela. Era suposto desfilar nas primeiras horas de terça-feira, agora desmentida por um meio-dia a espreitar seco o telhado. Diante de mim, uma tela em branco, um teclado e as ideias em vôo espiral, mas aterrar mesmo, que é bom, nada! Na banda, uma cidade em prantos, é a Filomena Maria, carismática locutora de Ombaka, de malas feitas para o além.
E no pulsar desses minutos não produzidos, penso na ansiedade da gente envolvida no TELEGRAMA, jornal digital que se propõe chegar nos próximos dias ao público angolano. Tenho o compromisso de assinar uma coluna na edição inaugural a convite do seu mentor. É a história que se repete volvidos sete anos sobre o parto do Correio do Sul (de vida efémera e descontinuado ao quinto número) onde dei o meu contributo voluntário na editoria cultural.
De lá para cá muito mudou em nossas vidas profissionais, a começar por já não residirmos na nossa velha província. Daí que ao receber a convocatória pendi logo para a indisponibilidade, visto que há uns anos abracei o ramo da assessoria de imprensa, o que recomenda um certo distanciamento em relação à rotina jornalística. Aliás, já-se se diz, “cada escolha é uma renúncia”. Ainda assim, cedi parcialmente, perante o momento histórico na vida de um kamba.
Entre mim e o Nelson, que também é Sul, há uma Benguela a transcender nas suas teimosias juvenis, no imaginário, na sociocultura, no mito do rio, no sal das ondas, enfim no capital colectivo sem fronteiras chamado memórias. Benguela, há que dizê-lo, é uma mãe que se faz mão, aberta e abundante, para quem escolhe poisar ou para o impulso de quem siga o vôo livre.
Longe da banda, serve de consolo a velocidade das redes sociais, mau grado nem sempre virem notas alegres. Até começo a duvidar se esta chuva não será, afinal, lágrimas de uma Benguela que vê partir a sua Filó, das mais alegres acácias da 92.9 FM. Cala-se uma conselheira, terapeuta de casais, uma patriota também talhada para lidar com gerações mais novas.
Estamos nos estúdio em Dia do Herói Nacional, quatro jovens mais a locutora e o operador de som. O poeta Mbangula Katúmwa, o líder juvenil Cristiano Fernandes, o jornalista Nelson Sul e eu. A pauta gira em torno das façanhas de Agostinho Neto, papo conduzido pela carismática Filó e o recital intervalados por música de circunstância. A dado passo alguém questiona quanto tempo mais faltará para que as figuras de outros movimentos sejam também reconhecidas heróis. Fica-me a memória triangular desta irreverência cidadã do Nelson, que apanha todos desprevenidos no ido consulado do presidente JES, aspirando uma Angola de inclusão.
A Filó já cá não estará para acompanhar a afirmação dos putos que despontaram na década de 2000 e que tão carinhosamente amparava para emitirem opiniões. Tive a sorte de participar em duas caravanas de assalto à sua casa para homenagear a voz aposentada, uma com o Yuri Mulaja e o Mbangula, a outra deu-se ainda este ano com o pessoal do Ombaka Teatro.
Eis pois a crónica de um adeus impossível à Filó, eu porque temporariamente atirado nas europas, o Nelson porque retido na capital a dar parto ao seu projecto jornal TELEGRAMA.
Gociante Patissa | Escritor | Lisboa, 18 Outubro 2022
(*) Crónica publica na edição inaugural do jornal digital O TELEGRAMA
quarta-feira, 5 de outubro de 2022
sábado, 17 de setembro de 2022
No Dia do Herói Nacional, que pouco acertadamente se reduz à figura de António Agostinho Neto (líder que levou à proclamação da independência de Angola do jugo colonial português), a vênia merecia a todos os nacionalistas e heróis anónimos. Pela parte que me toca, cito Manuel Patissa (pela pide grafado PATIÇA, meu avô paterno e xará) líder religioso da IEA que fez parte dos "indígenas" condenados pela polícia política portuguesa sem julgamento e desterrados para a cadeia de São Nicolau, hoje Bentiaba, de 1961-66.
domingo, 11 de setembro de 2022
Versão umbundu do livro de poesia e fotografia de José Eduardo Agualusa disponível em Lisboa desde 07 de Setembro. A obra sai pela Urukum, tem exemplares manufacturados e numerados, capa de kapulana, a tradução para umbundu foi do poeta angolano Gociante Patissa
terça-feira, 30 de agosto de 2022
CONTAGEM PARA LÊ-LA, crónica de Yosefe Mwetunda
No dia 24 de Agosto do ano corrente, Angola foi às urnas pela quinta vez. A primeira vez, histórica mas imprópria para recordar, teve lugar nos dias 29 e 30 de Setembro de 1992, tendo sido o infeliz argumento de uma narrativa marcial que consumiu incomensuráveis pessoas humanas desta jovem pátria de África e do mundo.
À luz dos parcos números disponíveis no sítio oficial da Comissão Nacional Eleitoral (adiante CNE), o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) conquistou a maior fatia do eleitorado, sagrando-se vencedor das eleições legislativas, seguido pela União Nacional para a Independência Total de Angola (doravante UNITA). Nas presidenciais, as colocações foram similares: José Eduardo dos Santos, na altura presidente do MPLA, foi feito (ou fez-se) primeiro presidente eleito de Angola, sob acirradas alegações de fraude por parte de Jonas Malheiro Savimbi, segundo colocado.
Os últimos quatro pleitos foram realizados com periodicidade ordinária, deveras fruto do 4 de Abril de 2002, data em que o fratricídio que sucedeu a luta pela dipanda foi sepultado pelas pás da paz no jazigo do tempo histórico.
Quando o discurso da reconciliação e reconstrução nacional ganhava imperatividade, coube a uma nata estimável de angolanos definir a data das eleições legislativas de 2008, nos dias 5 e 6 de Setembro, as primeiras do tempo do silêncio das armas. No que tange a essas, a CNE apurou 81,64% dos votos para o MPLA e, para o seu principal adversário político, a UNITA, 10,39%. Nesse comenos, para a infelicidade de toda a consciência que saúda a supremacia da vida humana, Savimbi já dormia o sono do qual nunca mais acordou, mas o seu rebento político voltou às alegações da fraude. Fraude em 1992, fraude em 2008.
Os angolanos voltaram a pintar o dedo a 31 de Agosto de 2012. Um novo quadro jurídico-legal orientava as eleições em Angola. Como efeito da publicação da Constituição da República de Angola (em frente CRA) a 5 de Fevereiro de 2010, as eleições legislativas e as presidenciais foram tornadas ingredientes do mesmo prato, ao qual o legislador constituinte chama por eleições gerais. É lei, sons gerais para o país. E não é de leis quaisquer. É da lei das leis, minhas senhoras e meus senhores. A presidente, no novo e actual paradigma, apenas se chega com a carruagem para lamentar. Para lamentar? Não, perdoem-me. Queria escrever parlamentar. Entenda-se carruagem parlamentar, portanto.
Voltas à parte, em 2012, o MPLA, na altura com José Eduardo dos Santos a adquirir mais uma feliz catalogação inédita, a de primeiro presidente eleito ao estilo eleições gerais, voltou a arrancar das urnas a maioria qualificada. A CNE escrutinou 71,84% para o MPLA e, mais uma vez a secundar, 18,66% para a UNITA. A estrela em brinde. Era o hat-trick. Para o Galo Negro, fraude em 1992, fraude em 2008, fraude em 2012.
Com todas as bitolas legislativas das eleições de 2012, com ligeiras alterações, mormente a introdução do registo eleitoral oficioso, foram realizadas, no dia 23 de Agosto de 2017, as segundas eleições gerais, as quartas nas contas holísticas. No marcador, os craques de sempre e os carneiros, também, de sempre. O MPLA, com o seu novo rosto, João Manuel Gonçalves Lourenço, cortou a meta com 61,08%. A UNITA, com Isaías Samacuva à cabeça pela terceira vez, incluindo as legislativas de 2008, içou 26,68%, trazendo à tona, para recusar o póquer do adversário, a narrativa da fraude. Fraude em 1992, fraude em 2008, fraude em 2012, fraude em 2017.
Hoje, 29 de Agosto de 2022, com a publicação dos resultados definitivos das eleições gerais de 24 de Agosto, sob a batuta da CNE, o MPLA sobe ao presidium pela quinta vez consecutiva, sagrando-se, como se diz nas lides desportivas, penta campeão, com 51,17% (124 deputados), apesar de, admita-se a conclusão, ter perdido, para o tradicional adversário que no todo granjeou 43,95% (90 deputados), o petróleo de Cabinda, do Zaire e de Luanda.
Mais uma vez, à tese das eleições livres, transparentes e justas, engendra-se a antítese da fraude, parida muito antes do anúncio dos resultados definitivos. Fraude em 1992, fraude em 2008, fraude em 2012, fraude em 2017, fraude em 2022, vaticina a UNITA do tão discursado Adalberto Costa Júnior, motorista do GIP, tendo Abel Chivukuvuku como pendura.
Nas ruas, há gente a partir a cabeça. Somam as visualizações de fotografias e vídeos de pessoas trajadas com as cores do partido vencedor a sofrer violência nas ruas. Reprova- se, reprove-se com veemência. Há gente que julga que se ACJ falou, logo é verdade: o MPLA não ganhou as eleições. A liberdade de consciência permite que se duvide das decisões da CNE e de todos outros actores do drama eleito oral.
Nas ruas, até quem não sabe quanto dá dois mais dois, para não falar da conversão de votos em assentos parlamentares, expele dos pulmões o ar suficiente para dizer que o pleito foi justo ou fraudulento. Convenhamos, a UNITA não é portadora de ingenuidade, ao ponto de repisar o fumo sem que alguém tenha acendido fogo. Fraude vezes cinco, a ser mesmo fraude, é igual a desespero mesmo.
Nos próximos dias, é provável que o dossier venha passar das mãos de Manuel da Silva para as de Laurinda Cardoso. Atentos aos entes que ambos dirigem, diríamos passar da CNE para o Tribunal Constitucional, mas da mesmice não se passará, contanto que os citados órgãos, sob o olhar cúmplice da CRA e da lei, são propensos a desequilibrar a balança a favor do partido com a maior galeria presidencial. Mas, enquanto a tal UNITA que alega fraude ainda esboça a sua contagem paralela, eis-me aqui, junto de todos os amantes desta Angola, a olhar para a CNE que espera a contagem para lê-la. Para lê-la, somente e ponto.
Luanda, 29.08.22.XXI.18.00
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José Guilherme João Muetunda nasceu em Julho de 1991, no município de Mavinga, província do Cuando Cubango, Angola. Licenciado em Direito pela Universidade Metodista de Angola, adoptará, quando for escritor, o pseudónimo Yosefe Mwetunda. Autor de poucos textos (mais poemas e crónicas) publicados, o aludido pode ser lido na extinta revista Luzeiro Gospel, onde assinou, só para citar, o poema Evangelho da Graça. Na viva Palavra&Arte (virtual), Mwetunda tem, entre outros, o continho “sexo da bênção”. Tem ainda textos no extinto jornal Nova Gazeta, rubrica poema do leitor e no blogue Angola, Debates e Ideias (www.angodebates.blogspot.com) e em Palavras são tantas: colectânea de poemas e crónicas de jovens autores angolanos, sob a chancela das editoras Perfil Criativo (Portugal) e Alende Eleições (Angola), com a organização do escritor Gociante Patissa.
sexta-feira, 26 de agosto de 2022
segunda-feira, 15 de agosto de 2022
NO DIA 24 DE AGOSTO... Por uma questão, até, de bom senso, volte para casa depois de votar. Cidadania e participação não tem de ser sempre e necessariamente por meio de acção directa. "Votou, sentou" só criaria transtornos desnecessários em época de si mesma já sensível como são as eleições. Não é com ira nem emotividade que se muda o país. Às instituições do Estado cabe o dever patriótico de garantir lisura; aos partidos políticos e seus agentes cabe ou afinar mecanismos de monitoria institucional, ou desistir do processo, caso não acreditem na seriedade do mesmo. Instigar o populismo é errado, não importa se feito pela situação ou pela oposição. O país não precisa de instabilidade. Uma palavra final à nossa Polícia Nacional e demais forças da ordem: compatriotas, que no cumprimento do vosso papel levem sempre presente que SOMOS UM MESMO POVO E QUE ANGOLA NÃO PRECISA DE MAIS MÁRTIRES. Obrigado
terça-feira, 26 de julho de 2022
Victor Manuel Patissa (26 Julho 1946 - 21 Julho 2001). Saudações, meu patriota, a partir deste lugar onírico chamado Pátria, tão maior que qualquer mortal, como bem cedo legaste aos teus com uma vida de só sacrifícios consentidos. E seguiremos honrando à altura dos nossos limites em tua memória e virtudes🇦🇴🇦🇴🇦🇴
domingo, 24 de julho de 2022
A propósito da requalificação do Museu Nacional de Arqueologia em Benguela
Pedem-me para tecer algumas palavras sobre a requalificação do Museu Nacional de Arqueologia, localizado na cidade e província de Benguela, Angola. Ora pois, considero ser uma intervenção pertinente para responder ao desafio de tornar os museus cada vez mais atraentes e até mesmo auto-sustentáveis, na sua função de santuário especializado do ramo científico em que se inserem.
O também conhecido como antigo armazém de escravos guarda ainda uma narrativa, do ponto de vista do seu funcionamento, em certa medida ligada ao desenrascar, dada a carência generalizada com que se vem debatendo. Pelo que a nova era vem também homenagear os homens e mulheres que ao longo dos anos dão o seu cunho pessoal para a preservação daquele Museu, aqui com particular realce a Pais Pinto (já falecido). Vale lembrar a proeza de terem saído desse elenco duas Ministras da Cultura, as académicas Rosa Cruz e Silva e Maria Piedade de Jesus.
De resto, para quem já teve a oportunidade de visitar a Europa, salta à vista o grande investimento na museologia, feito não só por iniciativa singular dos Estados, mas também com fundos da própria União. E realmente nós só temos a ganhar imitando bons exemplos, para bem do saber e da preservação do nosso acervo nos planos nacional e internacional.
A localização do Museu Nacional de Arqueologia numa zona emblemática da cidade (ao lado do Palácio do Governador e da Praia Morena, também alvos de requalificação) constitui um cartaz de boas-vindas para o turista, embora para mim o valor dos monumentos seja ainda maior quando estes residem no coração do cidadão comum, do ponto de vista da sua função social e da identificação. Por isso, vejo que a obra representa, fundamentalmente, uma oportunidade de demonstrar lisura e boa governança na gestão de fundos públicos, com vista à consolidação de um país cada vez mais comprometido com a ética republicana, a transparência e demais valores de cidadania.
Faço parte de uma geração que se descobriu na sua vocação da escrita criativa e de comunicação social ali mesmo no pátio do Museu Nacional de Arqueologia, que nos anos 90 serviu de cenário de gravações do programa infanto-juvenil Comboio de Amizade, da Televisão Pública de Angola.
Gociante Patissa | 24 Julho 2022 | www.angodebates.blogspot.com
sábado, 9 de julho de 2022
sexta-feira, 8 de julho de 2022
[poema inédito] MOSCOVO A BARCELONA
Entre Moscovo e Barcelona
Voa a mortalha
Ou o chamado da soberania
da saúde
para a saúde
da soberania
Ngolêh
Entre Moscovo e Barcelona
Angola e a mortalha
“humbi-humbi”
Ou o havemos de voltar
Que conta netos
Nas paredes e nos homens
Palácio Pegasus
Quatro décadas d’envergadura
Moscovo a Barcelona
Solene indagação
Em paz
E os santos de casa?
A nós resta sonhar
“Kakele ka cimbamba”
Até que um dia
Até que um dia
Porque
“Cilanda ongombe citunda vonjo”
Peleje meu hospital
ao suspiro final
Do mais alto
Também.
Gociante Patissa | Luanda | 10 Setembro 1979 - 08 Julho 2022| www.angodebates.blogspot.com
Línguas, gelos e labaredas
Gociante Patissa, in «Guardanapo de Papel», 2014, pág. 42. NósSomos. Vila Nova de Cerveira, Portugal
sábado, 2 de julho de 2022
A acontecer: GOCIANTE PATISSA AUTOGRAFA O HOMEM QUE PLANTAVA AVES
Aguardamos por si na Cozinha da Leitura para a sessão de autógrafos e tertúlia à volta do livro de contos O HOMEM QUE PLANTAVA AVES. Vamos a
té às 13h de hoje, sábado, no Kassenda, Luanda, rua 24 (fo CIRA ( iniciativa da Editora Acácias). Venha adquirir o seu exemplar por 3.900 Kz. 👏🏻👏🏻🇦🇴
#gociante_patissa
#escritor_angolano
#editoraacacias
#luanda
#uniaodosescritoresangolanos
#uea
domingo, 5 de junho de 2022
sábado, 28 de maio de 2022
[Vídeo] Puxa Palavra com João Carrascoza (Brasil) e Gociante Patissa (Angola)
sábado, 30 de abril de 2022
[Poema inédito] DE QUE NOS VALE DIA DO IDOSO?
Carrego a estiagem
Na ponta do dedo
Húmidos dedos regados
Salgado fluído do olhar
Feito guardanapo insubmisso
Carrego a estiagem
No punho cerrado
Que me alivia o peso da cabeça
Só somar troncos e frondes serrados
Enterrar bolsas de sombra
Tremer-nos o osso cada meia centena dos nossos
"Nda tukunamenla vali pi?"
Resulta que desse punho encharcado
Salgado fluído do olhar
Não flori
Um poema que seja
Desse ao menos um’estrofe
Algo que desce e destoa cifras
D'esperança micro-universo
Vida cá da gente
É semana cósmica abreviada
Na quarta a velha Flora seca
"Ame ame ciyunge"
Na sexta é o fogo que se afoga
"Sekulu Ndalu watusya vali"
De que nos vale Dia do Idoso
Oh fôlego taxado a meio século?
Gociante Patissa | Luanda 30 Abril 2022 | www.angodebates.blogspot.com