domingo, 24 de julho de 2022

A propósito da requalificação do Museu Nacional de Arqueologia em Benguela

Pedem-me para tecer algumas palavras sobre a requalificação do Museu Nacional de Arqueologia, localizado na cidade e província de Benguela, Angola. Ora pois, considero ser uma intervenção pertinente para responder ao desafio de tornar os museus cada vez mais atraentes e até mesmo auto-sustentáveis, na sua função de santuário especializado do ramo científico em que se inserem. 

O também conhecido como antigo armazém de escravos guarda ainda uma narrativa, do ponto de vista do seu funcionamento, em certa medida ligada ao desenrascar, dada a carência generalizada com que se vem debatendo. Pelo que a nova era vem também homenagear os homens e mulheres que ao longo dos anos dão o seu cunho pessoal para a preservação daquele Museu, aqui com particular realce a Pais Pinto (já falecido). Vale lembrar a proeza de terem saído desse elenco duas Ministras da Cultura, as académicas Rosa Cruz e Silva e Maria Piedade de Jesus.

 

De resto, para quem já teve a oportunidade de visitar a Europa, salta à vista o grande investimento na museologia, feito não só por iniciativa singular dos Estados, mas também com fundos da própria União. E realmente nós só temos a ganhar imitando bons exemplos, para bem do saber e da preservação do nosso acervo nos planos nacional e internacional.   

 

A localização do Museu Nacional de Arqueologia numa zona emblemática da cidade (ao lado do Palácio do Governador e da Praia Morena, também alvos de requalificação) constitui um cartaz de boas-vindas para o turista, embora para mim o valor dos monumentos seja ainda maior quando estes residem no coração do cidadão comum, do ponto de vista da sua função social e da identificação. Por isso, vejo que a obra representa, fundamentalmente, uma oportunidade de demonstrar lisura e boa governança na gestão de fundos públicos, com vista à consolidação de um país cada vez mais comprometido com a ética republicana, a transparência e demais valores de cidadania.

 

Faço parte de uma geração que se descobriu na sua vocação da escrita criativa e de comunicação social ali mesmo no pátio do Museu Nacional de Arqueologia, que nos anos 90 serviu de cenário de gravações do programa infanto-juvenil Comboio de Amizade, da Televisão Pública de Angola.

 

Gociante Patissa | 24 Julho 2022 | www.angodebates.blogspot.com

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