Fiquei a saber com o noticiário da RNA hoje que a antiga boss do NDI (National Democratic Institute), agência americana subrecipente da USAID, Isabel Emerson, de ascendência portuguesa, está de volta a Angola, pelo menos oficialmente, agora nas vestes de responsável da União Europeia, com posição de adjunta de uma das áreas, sempre ligada à temática do desenvolvimento. Por volta de 2003, Isabel Emerson e o seu NDI constituíam a elite de doadores para ONG's nacionais, as quais não podiam obter financiamento directo da USAID senão por meio da World Learning (representada pela luso-canadiana Fern Teodoro) e do IRI (Instituto Republicano Internacional), com cujo representante não cheguei a cruzar. De Isabel guardo a recordação de quando fui contratado para um trabalho pontual de pesquisador de grupos focais para sondagem de opinião de angolanos sobre a expectativa da realização das primeiras eleições depois do fim da guerra, que se especulavam para 2004. Fiz parelha com o Silvério Loth Santos "Vadinho", da Okutiuka, num workshop que teve lugar no quintal do INAC, na Calemba, onde tive o gosto de conhecer o Augusto Santana, um misto de metodólogo e comediante, conheci ainda a Nela (ex-actriz do Julu. Onde anda mesmo ela?). O Santana era também o boss do NCC (National Counseling Center, ONG angolana detentora da Rede Terra). Essa viagem que fiz de avião no trajecto de hora e meia entre Benguela e Luanda pode ter sido a mais desastrosa do meu percurso ao serviço das ONG's, que iniciou com a fundação da AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade), em finais de 1999. Explico. Tendo recebido da parte do Zetó José Patrocínio a indicação de participar na pesquisa por indisponibilidade da D. Manuela Costa, comprei a passagem e me enfiei no avião da SAL para depois ser ressarcido, como era usual. Permitam-me transcrever uma parte da crónica da "minha segunda vez em Luanda": Desembarquei às 9h00 no terminal da Sal com aquela pressão no ouvido e que obriga a apertar as narinas com a ponta dos dedos para desentupir. Ainda no aeroporto 17 de Setembro, o amigo Florêncio André, da TPA, pede-me para entregar aos estúdios centrais cassetes de vídeo, matéria urgente para o telejornal. Ia negar?! Um favor à comunicação social era investimento no quadro das relações públicas. Bagagem recolhida, tirei da agenda o contacto que me fora fornecido pelo mestre cabeçudo Zetó José Patrocínio. De um telefone público liguei para o NDI (Instituto Nacional Democrático), ONG americana dirigida por Isabel Emerson. Desculpa, mas deve ser um engano. Não é, venho da parte do projecto Omunga, sou líder da AJS, parceira na Rede Municipal da Criança de Rua do Lobito. Senhor, a reserva está em nome da Sra. Manuela Costa. Pois, estou a substituí-la, o Zetó já tratou disso. Deixa ainda consultar. Um minuto depois: É como disse, não há mesmo como te acolher. Só me restou comprar o regresso no vôo das11h00. Raiva, frustração e humilhação mesmo povoavam. Não tinha telemóvel nem havia telefones nos escritórios, quanto mais e-mail para tirar satisfações com o mestre. A agravar a aflição, dois companheiros de viagem para quem transferi o favor da TPA não aceitaram e lá regressei com as cassetes pensando nas consequências ao repórter por sabotar o telejornal. Posto em Benguela, diz-me o Zetó que fora um equívoco do pessoal logístico. Andava estafado da altitude, desmoralizado pelo USD 220 perdidos. O outro vôo sairia às 15h00. Coloquei todas as variáveis da equação na mesa. Contratos com ONG internacionais aquilatavam sempre o CV, um sonho de fundadores de ONG locais para injectar capital e alicerçar parcerias. Por último, o contrato seria de USD 550, pelo que para quem já perdeu, engolir o sapo e encaixar USD 330 era a melhor opção. Às 16h45 recebia as boas-vindas do senhor Domingos, de Land Cruizer, que ajudou a ver a maka da TPA. Findo o treino, em Benguela entrevistamos homens e mulheres ligados à agricultura, mercado informal, ex-militares, tudo devidamente anotado e gravado em cassetes. O resultado da pesquisa chegou a ser apresentado em livrito, tendo como um dos processadores o economista Justino Pinto de Andrade. Bem-vinda de volta, Isabel, e que não deixes de advogar por mais financiamentos das ONG's nacionais (sobretudo as pequenas). Gociante Patissa, Luanda 16 Novembro 2021 | www.angodebates.blogspot.com | Foto: DW África
terça-feira, 16 de novembro de 2021
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» Crónica | O REGRESSO DE ISABEL EMERSON, AGORA PELA UNIÃO EUROPEIA
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