Manuel Rui Monteiro, o agora octogenário, pertence a uma geração de intelectuais, artistas e actores do nosso processo histórico cuja vida e obra já não cabe na linearidade biográfica do indivíduo mas, na dialéctica da vida, em como nos espelhamos na trajectória que Angola nos lega. Pioneiro na transição entre as décadas de 1970 e 80, anos de guerrilha e revolução, entrelaço Manuel Rui nas aspirações do hino nacional, nas utopias mais nobres do País novo. Chegado ao meio urbano, acho Manuel Rui encarnando em forma de papel o griot que a guerra me roubou no Monte Belo em chamas. "SIM, Camarada!”, livro de capa encarnada, sempre disposto no gabinete do meu pai, em nós da OPA simbolizava a disciplina. Mas vejo também Manuel Rui na pedra do charco em Quem Me Dera Ser Onda, uma sátira que não deixa de denunciar a tensão pós-colonial ainda por resolver entre as classes sociais. É uma pena que por cá chegar aos 80 seja subverter a esperança de vida. Saudades dos avós!”
Gociante Patissa
(*) depoimento publicado hoje na íntegra no Jornal de Angola a pedido do jornalista e escritor Isaquiel Cori, no dossiê sobre os 80 anos do escritor Manuel Rui Monteiro, convite que aceitei sem perder a oportunidade de refilar antes de quê e tal...)
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