“Meu jovem, tudo bem?”
“Tudo, sim, mestre. Muito obrigado, mestre. O mestre como vai?”
“Tem de ir, meu jovem, tem de ir. Esse país não dá muitas opções, sabes meu caro? Olha, nestas minhas andanças no insta chamou-me a atenção um texto teu assim muito pertinente... Muito bem escrito. Sintético, fácil de ler, actual e tudo mais...”
“Ah, aquele sobre O Andar da Carruagem, meu kota?”
“Esse mesmo! Meu puto, aquilo é de um alcance que faz a pessoa acreditar que temos jovens! Meu puto, é assim que tem que ser! Muito bem conseguido. É preciso não se acomodar...”
“Fico sem palavras mestre. Nem todos conseguem elogiar nós que procuramos lugar ao sol...”
“É de coração meu puto. Continua assim, está bem? O texto está tão bom que merece ser lido por mais pessoas. Posso partilhar? Mo envia então quando puderes, ya? São quantos parágrafos mesmo?”
“Já enviei, mestre. São só cinco parágrafos de quatro linhas.”
“Meu puto, recebi, o texto está mesmo muito bom. Só uma pequena sugestão, posso?”
“Claro, mestre, é uma honra melhorar com os conselhos dos gurus...”
“Estás a ver no último parágrafo, eu se calhar metia assim uma coisinha ali assim, tás a ver?”
“Tipo quê?”
“Tipo assim uma linha mais directa, sabes?”
“Aié? Está bem mestre. Tem razão.”
“No segundo parágrafo se calhar davas assim um retoque, sabes?”
“É isso, né, mestre?”
“Mesmo o título também, acho que falta ali qualquer coisa. Se quiseres posso te ajudar a refazer...”
“Né, mestre?”
“O parágrafo de abertura eu mexia um bocado. O leitor precisa de sentir O Andar da Carruagem...”
“Ah, ok. Com os solavancos e tudo? Está tudo aí, mestre, se calhar não fui claro...”
“Mas o texto está muito bom, meu puto, continua mesmo assim, está bem?”
“Certo, mestre.”
“Ah, e outra coisa, estás a ver o parágrafo quatro, acho que o três também, se calhar punhas um pouquinho mais de ênfase nos sintagmas. Abrias um pouco se calhar na linha de raciocínio...”
“Na problematização?”
“Isso mais ou menos. Como a ideia é sobre O Andar da Carruagem, talvez ver as variáveis. Então se é carruagem, o ónus recai ao maquinista ou ao passageiro ou a quem aprecia a paisagem? Será que bater nos actores com o signo da equidade colhe verosimilhança? O âmago está no ónus. Estás a seguir o raciocínio, meu puto?”
“Se é ânus de quem que está amargo, doutor?”
“Ónus, meu, ónus! Entendeste?”
“Bem, a palavra se calhar é filosofia, não entendi só lá muito bem. Mas é assim, mestre, se calhar vou escrever um outro texto, esse como já foi visto, fica só já assim, né?”
“Pois, se calhar é melhor. Mas continua, gostei muito do teu texto, está bem?
“Esse kota como é então? Será que um dia vamos aprender com isso dos mestres e a lucidez a jeito?
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Luanda, 23 Agosto 2021
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