“Mas não estão a ouvir?! Ainda vou bater com mais força. –
tóc, tóc, tóc, - Estão ali?”
“Mas quem é?”
"Sou eu, vizinho.”
“Eu ainda tenho vizinho?”
“Assim então estás a falar como?! Sou eu, o teu
brada Venceslau, da parede ao lado…”
“Não conheço…”
“Ah, é de se desprezar? Então, 15 anos de porta à porta,
agora já não me conhece?”
“Mas não me chamaste de bruxo, bwé de nomes feios – filho
disso e daquilo – antes de me bloquear, só por alertar que na
campanha é preciso pensar no dia seguinte, que somos o mesmo povo, que daqui a
cinco anos haverá mais?!”
“Ai!… Afinal não sabes, né? Eu sou uma pessoa de mente
aberta, vizinho. Posso te ofender no facebook, te bloquear, ficar inimigo
contigo, né?, mas pensas que, tipo, aqui em casa misturo? Aquilo fica mesmo nas
redes sociais. Fora comemos e chupamos juntos. Se tens dúvida, experimenta
pagar aí na cantina. Estás ver, né?”
“Por acaso, não. Não estou a ver…”
“Meu, mano, isso é século 21. Nas redes sociais é uma
coisa, aqui no dia-a-dia é diferente. A nossa amizade não pode ficar afectada…”
“Aié? E nas redes sociais estás com que nome?”
“Venceslau mesmo…”
“E eu?”
“Você mesmo…”
“Ora pois. Então tu me sujas, ameaças, eliminas os meus
comentários de me defender, insultas a torto e a direito… agora queres-me
convencer que tens duas caras?!”
“Ainda põe pause nesse tema, velho. Venho em paz, naquela
base habitual já…”
“Que base?”
“Só para o vizinho esticar a mangueira em cima do muro. Me
cortaram a água, velho. O que faz esse governo, esse governo!… Quer dizer, a
pessoa vota, e o resultado é esse?!”
“Mas cortaram porquê? Deves ter dívida com a Empresa de
Águas e Saneamento, não?"
"Até só perdi o meu rico tempo a tentar-lhes explicar.
Quando acabar de pagar o crédito da motorizada, até vou regularizar a dívida,
faltam só dois anos…”
“Hahahahaha. E o estado vai esperar dois anos para facturar o que consomes?!”
“Por isso vim aqui como homem, na paz, apelar o vizinho,
exortar por uma mente aberta e neste âmbito me fornecer água durante o defeso.
Até não é bem por mim, é mais pela família, as crianças que vão à escola. O
irmão, sendo pai, o que tem a dizer?”
“É simples. Pega nas bandeiras e T-shirts, faz um cordão
enorme, amarra no arco do balde e lança ao parlamento ou ao comité. Não andaste
aí todo radical?”
“Também não é assim que se tratam os amigos, velho,
desculpa lá! Acha isso realista?”
“Ah, é, né? Neste caso, pede a qualquer um dos deputados
para te fornecer água de Lexus, ya? Agora me dá licença, vou mais é ajudar a
mulher a lavar a loiça...”
“Até era uma coisinha de nada. Negar uma simples água?! Mas
você afinal é assim complicado porquê, velho?”
Gociante Patissa | Aeroporto Internacional Dr. António
Agostinho Neto – Catumbela | 27 Agosto 2017
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