quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Crónica: «Não há crise nos partidos políticos, o país é que está em crise»

Boletim voto legislativas 1992
O que se passa nos partidos políticos são divergências e sinal da existência de democracia interna. Crise é o que o país vive, insuficiências nos serviços sociais básicos e a fraca cultura do confronto de ideias. Foi a tese com que Martins Domingos iniciou a intervenção no debate “Sociedade Aberta”, emitido ontem pela Open Society via Rádio Morena Comercial. Martins representou a Associação de Jornalistas e Juristas “Mãos Livres”, mais uma das causas que serve.

No seu característico sentido polémico (alguns dirão radical), Martins vai-se impondo na construção da cidadania por via do debate, que é por natureza um campo onde os consensos não se impõem. Conheci-o como mentor de uma organização juvenil emergente engajada na promoção ecológica. Era também até há pouco tempo representante do braço juvenil do partido político PRS. Integra ainda uma plataforma da sociedade civil. Aderiu ao partido Bloco Democrático. Sempre activo.

Enquanto assistia pelo aquário ao ambiente na cabine de emissão, que por sinal conheço bem, veio-me à memória um dos piores debates que alguma vez moderei. Corria o ano de 2006. Eu realizava o programa de mesa-redonda semanal “Viver para Vencer”, produção da AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade). Como o espaço de antena era suportado pelo PNUD/Fundo Global e pela Embaixada Americana, os temas alternavam, ora saúde pública ora promoção do exercício da cidadania.

Naquele dia falávamos do contributo dos movimentos políticos juvenis na promoção da cidadania e reconciliação nacional. Cuidamos de trazer os principais partidos com sede em Benguela. Pelo perfil, convidamos também um “mais-velho” com formação académica em ciências humanas e por ser líder cristão – estava ali o equilíbrio, acreditávamos. Contrariamente, veio do kota a maior tensão. Primeiro, chegou uma hora antes à rádio com o subtil interesse de manipular (é este o termo) os demais convidados para se alterar o tema, quando tinha o convite com uma semana de antecedência, onde vinha o assunto, os objectivos e potenciais convidados. Para sua tristeza, os demais chegaram muito pouco antes do arranque do debate, alguns até pouco mais tarde, diga-se.

Depois o ancião, talvez habituado a impor suas posições, naquele dia até subjectivas quanto baste, queria que falássemos apenas das vantagens da paz e nada mais! Para nós, vinha tarde a “ordem”. Uma vez no ar, ele começou por arrasar o título do programa: “Viver para Vencer”, não! Viver é para se entender e não humilhar os outros”, advogava, sobranceiro. Durante hora e meia, foi um ambiente pesado, com pelo menos dois abandonos deliberados de estúdio, ao qual voltava sem convite da produção. No final, disse que o espaço podia ser melhor aproveitado. Também achei.

Voltando ao programa de ontem na Rádio Morena, deixei os bastidores com a feliz convicção que o moderador, Zé Manel, e os diferentes actores sociais em estúdio fizeram com elevação verbal o seu trabalho. Sei que pelo menos estiveram lá representados o MPLA, a UNITA e mais alguns membros da sociedade civil, isso, numa altura em que praticamente está aberta a campanha eleitoral para 2012. O resto é seguir colocando Angola acima de qualquer intenção político-partidária.

Gociante Patissa
Benguela, 04 Agosto 2011
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3 Deixe o seu comentário:

Nelson Sul D'Angola disse...

Apesar de ter sintonizado o meu pequeno Rádio pouco mais de 15 minutos do fim do programa, pude acompanhar e com alguma reserva as intervenções dos representantes partidários e das associações cívicas. É importante que se discuta a vida democrática dos partidos políticos sobretudo aqueles que pretende ser poder. Senti que o tema teve como pano-de-fundo a aparente crise dentro do maior partido na oposição. Quando o partido da situação vive uma situação de género, bastando olhar para a União de Tendências do MPLA que a anos tem questionado liderança de JES.

Notei como negativo do programa o facto de o apresentador ter feito referencia ao novel Grupo de Reflexão dentro dos maninhos e não o União de Tendências do MPLA. Quanto o resto é pacifico!

Nelson Sul D'Angola disse...

Caro Patissa, agradecia que apagaces o primeiro comentário

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Ok, caro Sul D'Angola, pedido pacífico e aceite, já que era repetição do mesmo contributo. Obrigado pelo comentário e viva a democracia! Um abraço bem daqui.

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