A pedra esteve sempre ao lado do homem, quer como material nas obras, quer como elemento espiritual - os amuletos, por exemplo - não fosse ela a mais polivalente dos inertes.
Aos sábados, excepto quando calha uma folga, o que é raro, devo sair cedo para o serviço. Às 5h30. Isso implica dormir cedo na 6ª feira, no que nem sempre sou disciplinado. Mas ontem, por acaso até o fui.
Meia hora antes das 23, deitei-me no vale de lençóis. E justo quando o sono ia vindo, o vizinho com quem partilho a parede do quarto toma a liberdade de subir bem alto o volume da música, pondo a coitada da parede a vibrar. Estão já a ver essas casas-anexo de quintal, que sempre ficam siamesas de outras, ironicamente sem acesso directo e tal... Não conheço esse bendito vizinho, com tão poucos conhecimentos de convívio urbano. Calculo apenas que seja jovem (talvez adolescente), a julgar pelo tipo dançante de música com que me tortura ciclicamente de há dois anos para cá, muito Rap da cara! Ele deve achar que não faço o mesmo por não ter semelhante utensílio de ruído. Olha que até fui aguentando, mas, às tantas, opa!, o sono já se cansava de esperar. A hipótese de contacto pessoal era nula, na medida em que, para sair do quintal em que moro e ir ao dele, teria de dar volta ao quarteirão. Foi então que me lembrei de uma pedra com que de vez em quando dou jeito aos calcanhares, e lá estava eu a bater na parede. Pú!, pú!, pú!. Quanto mais me irritasse a música, mais procurava a localização estratégica para o devido pú!, pú!, pú!. E pronto, resultou!... Volvidos uns 10 minutos, a música parou, e por uma questão de justiça, parei também com as pedradas contra a parede.
Ai, se não tivesse a minha pedra, estava lixado.
Gociante Patissa, Benguela 20 Novembro 2010
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Caro Gociante,
bela peça!
espero que tenha guardado a pedra em bom lugar.
abs
meu caro José Doutel Coroado, não evitei o sorriso malandro. De facto a pedra continua no seu canto, é o mínimo depois do histórico remédio de ontem. Grato pelo carinho e volte sempre.
Meu Amigo
Gostei da tua crónica e acho que vou seguir o teu exemplo...Tenho umas vizinhas adolescentes que põe a música altissima para toda a rua e a horas menos próprias...Vou munir-me de uma pedra e dar sinal que, os de lado de cá, querem dormir...
Bj
Graça
Pois é, cara amiga Graça, mais doloroso do que o volume arrogante de som é tentar entender a "normalidade" que as pessoas vêm em incomodar outras. É chato, sim.
Um abraço e votos de bom fim de semana
Olá amigo Patissa,
Há pessoas que não respeitam ninguém!
Gostei da tua estratégia.
Um beijo e bom domingo.
Subrinho, amiga AC, "Há pessoas que não respeitam ninguém"...Umas vezes até porque nem sequer sabem o que isso é. Votos de uma boa semana
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