Querendo brindar os habitantes com um monumento que representasse em simultâneo a alegria, o trabalho, a esperança, enfim a vida, certo governante passou dias e noites a matutar. “Que tal uma estátua dourada, e da mais vistosa altivez”? Mas chegou a reconhecer que uma estátua não era a mais feliz representação do seu povo, de quem se queria tributar a virtude de trabalhador e inspirador.
Estabelecendo paralelismo com o sorriso de uma criança, inspirador e que precisa de cuidados, veio a solução: decretou a construção de um jardim, com a maior variedade possível de plantas. E vindo do coração tal oferta, melhor lugar para a sua implementação só podia ser no coração da cidade.
Não havendo nada mais feio do que manchar as flores com desvios e má orçamentação da obra, o governante cuidou de identificar o empreiteiro com a maior reputação na sua região. E porque cumprir os prazos não é de todo um milagre (como se nos quer impingir nessa nossa Angola), lá o empreiteiro fez a entrega da obra, um mês antes do prazo acordado. Mas a euforia do governante murchou, no momento da inauguração, perante uma constatação:
“Desculpa, caro empreiteiro, mas há aqui um erro, e que erro!…”
“Como assim, nobre dirigente?”
“Como vai construir um jardim com tamanha beleza, sem no entanto pensar na passadeira? É preciso abrir caminho para o povo”.
“Pensamos na passadeira, sim, desde o início. E é aí que está a questão. Deixa que o povo comece a usar o jardim. Lá onde eles forem passando, surgirá o caminho. Só então colocaremos passadeira. É o que recomenda o nosso jardineiro”.
Moral: “O mais importante é resolver os problemas do povo” [com o próprio povo, acresceu alguém].
(*) Adaptação da parábola contada por Mário Guerra, tido como o decano da classe jornalística em Benguela, por volta de 2003, durante uma palestra promovida pela Coligação "Ensino Gratuito, Já!".
Gociante Patissa, Benguela 08/07/10
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