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Em Dezembro, estava com uma consultora australiana no aeroporto, quando me deu um estalo de saber se haveria voo para Lubango no dia seguinte. Sim, foi a resposta. Uma breve conversa com a mãe e irmãos chegou para o “até breve”! De mochila nos cornos e máquina fotográfica, paguei um moço, dono de um turismo velhinho que deu grande jeito, pois calhou ser dia de operação stop. Às tantas, outra vez a bordo do mono-motor da SAL, desembarcávamos no Lubango.
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Uma vez reinstalado numa barata pensão no Lubango, a preocupação era reforçar o dinheiro do bolso, aflição que durou até descobrir que o banco sol funcionava temporariamente nas instalações da Jembas. A atendedora, além de linda, estava em boa disposição. Resolvido! Mais volta, menos volta, bilhete de passagem comprado para a manhã seguinte com o destino Kunene.
Minutos antes da hora de partida, apresentei-me. E para meu espanto, os mecânicos substituíam o eixo de trás por um outro também já velhinho. Com quase duas horas de atraso, o autocarro ainda teve o infortúnio de “empurrar” uma viatura ligeira, que fazia ultrapassagem arriscada em cima da curva, não contando com o buraco (esgoto sem a tampa). Mais outra meia-hora até a polícia autorizar a partida, por volta das 11h30. Às 3h00 chegávamos à Santa-Clara. Havia um viajante, agente da polícia, que era um tagarela magistral. Não deixou ninguém dormir, mas o triste não foi isso: é que ele é de Catete, e só piorou os estereótipos.
Presumo que dava nas vistas meu ar de inexperiente. Foi o que achei quando me abordou um jovem que chegara de madruga num Jeep, também da Orcalves, lamentando-se do desconforto combinado do excesso de velocidade e má condição da via. Apresentamo-nos e passei a ter um cicerone. Desinteressado? Era negociante e, se tivesse que levar carimbo por cada passar de fronteira, veria o passaporte esgotado. Explicou às autoridades que eu era seu irmão, a quem foi buscar. Deu certo. Às tantas, ele implicava com meu sotaque inglês “de branco”, receando talvez dar pista a desconfianças. Não me cabia nem apetecia denunciá-lo, até porque como angolanos, falantes de Umbundu e distantes da Terra, éramos mais do que irmãos… entrando na Namíba.
No Oshikango, paramos para matabichar. Vou seguir para Oshakati, dizem que há lá bons preços, sem imposto, contei-lhe. Não chegas a Windhoek? Não, estou um pouco cansado. Quê isso, meu mano?! Então visitas um país sem chegar na capital? Um jornalista? Não diz isso. Deixei-me convencer. No táxi para Ondangua, não gostei do gesto do motorista em parar junto de cada polícia fronteiriça, como que a dizer “estão aqui suspeitos”.
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E lá conheci a capital. Com Jorge, não há canto de Windhoek que fique por visitar. E na hora de voltar, no último dia do ano, trazia com agrado um letreiro que vimos numa loja: “we welcome your returned goods” (aceitamos de bom gosto o produto que você devolver) – dissonância brutal com o que vemos cá. Boa nota também para o projecto de habitação para pessoas de baixa renda, que é contra a tendência angolana de crescimento de armazéns na cidade, e garagens virando vivendas…
Gociante Patissa, Lobito, 20 Julho 2010
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