De repente, o toque no teto, aquele jazz umbilical que só a chuva sabe orquestrar. Pouco importa se foi por poucos minutos. Deu para vê-la e sentir que me dava as boas-vindas. Obrigado, senhora dona chuva, que já ia longa a saudade, já que nunca mais passou lá por Benguela.
Depois daquelas chamadas e SMS para a família e pessoas chegadas, depois de um bom banho, seguido de um bom funji com repolho, há forças para juntar umas ideias. Claro, com as nádegas cansadas (a esponja na verdade é “rasa”), sono aparentemente acumulado, daquelas coisas que só quem viajou por terra sente. Foram cerca de seis horas em três Hiaces diferentes, tudo por culpa do Novo Código de Estrada, uma ida memorável pelos ligeiros impasses.
Era pouco depois das cinco e meia quando chegamos à paragem “camioneiro”, seguindo as orientações baixadas ontem pelo bilheteiro da SGO. «Não recebemos dólares e também os [22] bilhetes para hoje já acabaram. Amanhã vendo os outros 22… é a regra da empresa», sentenciava. Ainda sugeri a elaboração de uma lista de espera. “Não! Aqui não fazemos isso, vem só amanhã”. Ordem dada, ordem cumprida (não é assim quando não se está em posição de vantagem?!). Mas à hora combinada, hoje, e com aquela “frieza profissional”, disse-nos o compatriota que só tinha bilhetes para o autocarro do dia seguinte. «Os colegas não avisaram, até a minha família perdeu lugar», sustentou.
Um Hiace era justa alternativa, até porque cobrava os mesmos 2.500,00 kwanzas que o autocarro. Carro lotado, motorista ausente. Pega o cobrador no seu telemóvel e, quinze minutos depois, lá surge o mestre justificando, baixinho, que estava a dormir. Às seis e quarenta e tal deixávamos o parque. Parecia táxi de outro “mundo”, tal era a comodidade lá dentro. Motivo? O novo Código de Estrada tem fama de severo em casos de excesso de lotação.
«Daqui ao Huambo fazemos quantas horas nessa via da Ganda?», perguntei ao cobrador, na mania de controlar sempre o tempo. «Isso não se conta», desencorajou.
Postos na Ganda, surgia uma conversa “estranha” sobre operação stop. O “nosso” motorista apercebe-se de que “está mesmo duro, licença de táxi da província de Benguela não vale no Huambo”. Multa? Cento e noventa mil kwanzas. Meia hora depois, surgia uma solução criativa: troca de passageiros com outro Hiace vindo do Huambo. Adeus conforto, já que o motorista não temia superlotação.
A meio do caminho, um sonante protesto tomava conta dos passageiros, que acabavam de ouvir a conversa ao telefone, na qual o motorista negociava com um suposto subordinado a possibilidade de findar apenas em Longonjo, passando os passageiros para outro Hiace que tinha a pintura azul-branco.
«Só aceitei vos trazer para vos facilitar… isso já é um endendimento motorista-motorista; vocês, como passageiros, já não têm nada a ver», defendia-se. O protesto baixou de tom, mas a viagem continuou até Caála. «Aqui vocês têm que endender o meu caso. Sem pintura própria não posso entrar na província, só nos municípios». Silêncio. «Meu tio mesmo é comandante da Viação e Trânsito, me chamou atenção, que não vale a pena arriscar». Lá o homem pagou os 50 kwanzas por cada passageiro e estávamos outra vez a mudar de carro. No final, como nos filmes, tudo saiu bem… e ainda bem!
Espero, ansioso, que me levem a passear para rever o Huambo sede. Gostaria (mesmo!) é de ter novidades a respeito de algumas povoações e Ombalas, que conheci enquanto integrante de grupo de pesquisa em 2005: Ombala Tchiaia, Sambo e Mbave. Até amanhã…!
Gociante Patissa, Kalomanda, Huambo, 5 de Maio de 2009
Depois daquelas chamadas e SMS para a família e pessoas chegadas, depois de um bom banho, seguido de um bom funji com repolho, há forças para juntar umas ideias. Claro, com as nádegas cansadas (a esponja na verdade é “rasa”), sono aparentemente acumulado, daquelas coisas que só quem viajou por terra sente. Foram cerca de seis horas em três Hiaces diferentes, tudo por culpa do Novo Código de Estrada, uma ida memorável pelos ligeiros impasses.
Era pouco depois das cinco e meia quando chegamos à paragem “camioneiro”, seguindo as orientações baixadas ontem pelo bilheteiro da SGO. «Não recebemos dólares e também os [22] bilhetes para hoje já acabaram. Amanhã vendo os outros 22… é a regra da empresa», sentenciava. Ainda sugeri a elaboração de uma lista de espera. “Não! Aqui não fazemos isso, vem só amanhã”. Ordem dada, ordem cumprida (não é assim quando não se está em posição de vantagem?!). Mas à hora combinada, hoje, e com aquela “frieza profissional”, disse-nos o compatriota que só tinha bilhetes para o autocarro do dia seguinte. «Os colegas não avisaram, até a minha família perdeu lugar», sustentou.
Um Hiace era justa alternativa, até porque cobrava os mesmos 2.500,00 kwanzas que o autocarro. Carro lotado, motorista ausente. Pega o cobrador no seu telemóvel e, quinze minutos depois, lá surge o mestre justificando, baixinho, que estava a dormir. Às seis e quarenta e tal deixávamos o parque. Parecia táxi de outro “mundo”, tal era a comodidade lá dentro. Motivo? O novo Código de Estrada tem fama de severo em casos de excesso de lotação.
«Daqui ao Huambo fazemos quantas horas nessa via da Ganda?», perguntei ao cobrador, na mania de controlar sempre o tempo. «Isso não se conta», desencorajou.
Postos na Ganda, surgia uma conversa “estranha” sobre operação stop. O “nosso” motorista apercebe-se de que “está mesmo duro, licença de táxi da província de Benguela não vale no Huambo”. Multa? Cento e noventa mil kwanzas. Meia hora depois, surgia uma solução criativa: troca de passageiros com outro Hiace vindo do Huambo. Adeus conforto, já que o motorista não temia superlotação.
A meio do caminho, um sonante protesto tomava conta dos passageiros, que acabavam de ouvir a conversa ao telefone, na qual o motorista negociava com um suposto subordinado a possibilidade de findar apenas em Longonjo, passando os passageiros para outro Hiace que tinha a pintura azul-branco.
«Só aceitei vos trazer para vos facilitar… isso já é um endendimento motorista-motorista; vocês, como passageiros, já não têm nada a ver», defendia-se. O protesto baixou de tom, mas a viagem continuou até Caála. «Aqui vocês têm que endender o meu caso. Sem pintura própria não posso entrar na província, só nos municípios». Silêncio. «Meu tio mesmo é comandante da Viação e Trânsito, me chamou atenção, que não vale a pena arriscar». Lá o homem pagou os 50 kwanzas por cada passageiro e estávamos outra vez a mudar de carro. No final, como nos filmes, tudo saiu bem… e ainda bem!
Espero, ansioso, que me levem a passear para rever o Huambo sede. Gostaria (mesmo!) é de ter novidades a respeito de algumas povoações e Ombalas, que conheci enquanto integrante de grupo de pesquisa em 2005: Ombala Tchiaia, Sambo e Mbave. Até amanhã…!
Gociante Patissa, Kalomanda, Huambo, 5 de Maio de 2009
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Viva!
cada vez mais sagaz...
Definitivamente: escreverei somente poemas.
Não me dissestes que ias ao planalto!
Um abraço ao dorso.
Bangula
Pelo descrito, é caso para dizer “Cristo dai-me paciência”.
Independentemente dessa viagem atribulada como descreveu, ela acaba por ter a sua graça no final da mesma. Mantém a força de vontade para poderes continuar a escrever e colocar imagens, que muitas das vezes, alegram os blogs. Boas férias
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