terça-feira, 26 de maio de 2009

Crónica: “Interferindo ou não?”

Quando ouvi na Rádio 5 a ênfase, “ele já adverte que não permitirá que interfiram no seu trabalho”, uma ilação automática ocorreu: o novo técnico dos Palancas Negras (selecção nacional angolana de futebol) não trazia apenas competência e uma torre de troféus, percebi que o homem tinha mesmo os “tomates no lugar” (para dizê-lo de forma poética). Por essa lógica, Manuel José era uma escolha acertada (não obstante acusações por confirmar ou desmentir de que auferia um exagero de centenas de dólares).
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Foi numa entrevista exclusiva ao telefone para a Rádio 5 que ouvimos a confirmação da contratação do português, que vem “limpar os borrões” de Mabi de Almeida no comando da selecção de Angola, organizadora do Campeonato Africano das Nações (CAN) 2010. E de facto, ele confirmava que gostava de desafios e que, acima de tudo, não permitiria que interferissem no seu trabalho.

Excluindo a possibilidade de ser só, como dizemos em Umbundu, água quente que não queima casa, inclinei-me mais para a ideia de se tratar de alguém que não “engraxa” para se afirmar.

Aliás, é preciso não ignorar que há bem pouco tempo ouvimos o técnico Oliveira Gonçalves a descarregar sobre as críticas da imprensa as culpas do fracasso. Não sendo nada elegante nem recomendável tal expiação (já outrora registada por outras figuras), seria no entanto menos justo ignorar que os jornalistas são muitas vezes tentados a exceder o poder do microfone, debitando juízo de valores sobre particularidades longe do seu domínio. Mas há outros agentes cuja interferência é mais presente e com contornos subtis.

Adepto da máxima “seja utópico, exija o que é realista”, reforçada talvez pela experiência no mundo de ONG’s, gosto de pessoas que ascendem na base da competência, pois não nos obrigam a “engraxar” com elas. Pelo que, ter ouvido Manuel José a dizer o que disse, fez-me indagar sobre como agiriam os “treinadores de bancada”.

E não tardou que surgisse o teste, quanto a Manuel José permitir ou não interferências. E a manchete do Jornal de Angola não se fez esperar: “Manuel José ignora Love Kabungula”. Seria caso de interferência ou exposição de um facto apenas? Restava ouvir os argumentos de razão do treinador, na base da não inclusão do melhor goleador do gira-bola (ao serviço do 1º de Agosto), uma vez que incluía Man-Torras, que não é titular no Sport Lisboa e Benfica.

E a decepção foi ouvir (de viva voz) o técnico Manuel José justificar que convocou com base numa lista de 60 atletas, sendo destes, 20 pontas de lança. “Não tive esta informação [referindo-se ao bom momento de forma de Love]. Não conversei com o Pedroto, que até é meu amigo”, dizia, para acrescentar: “quis fazer a selecção à minha maneira”.

Caro professor José, como é que se vai convocar uma selecção (não importa se o técnico está no estrangeiro) sem questionar o que é vital? Ora, se o argumento era termos um treinador que conhecesse o futebol africano, não seria obrigação sua fazer um levantamento junto da FAF dos melhores atletas a actuarem no campeonato nacional?

Oxalá esse erro crasso de comunicação não abra antecedentes para próximas interferências.

Gociante Patissa, Benguela 26 Maio 2009
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2 Deixe o seu comentário:

Soberano Kanyanga disse...

Muito barulho se fez para a inclusão de Love na Lista dos convocados do tuga Manel Zé. Veremos o que Love nos vai apresentar e darmos razão a quem a merece. Uma coisa porém não pode ser desconsiderada: Os barulhentos favoráveis a Love morrem de love pelo D'Agosto e não por Love.
Pode crer!

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Oi, Canhanga! Espero que estejas bem consigo e os seus.

Quanto à questão Love e Man'Zé, agradecia só que não nos incluissse entre os "advogados por causa própria". Só não inlcui o David por falta de certeza nos dados - como disse da outra vez, não sou tão "seguidor" do desporto, havendo por isso detalhes q me escapam. Nossa intenção foi mesmo desencorajar esse erro de comunicação (ou de atitude?) do outro.
Abraços e juntos!

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