O Rav-4 em que seguíamos pára ao portão. O polícia do lado de dentro faz um gesto giratório com o indicador direito, num claro “façam meia volta, retirem-se imediatamente!”. Só nesta altura nos lembramos de olhar para o relógio, que por acaso até marcava 17 horas e qualquer coisa. Será por ser tarde ou por ser sábado?
Nunca pensei que o Huambo tivesse algo que me fosse excitar algum dia, depois da impressão negativa de há quatro anos atrás – havia mexido demais com o meu lado sensível ver crianças menores de 15 anos fabricando carvão ou no biscato de camponeses para alimentarem os avôs, em aldeias e Ombalas (município da Tchicala-Tcholohanga) situadas a menos de 200 Km do Huambo sede, que já esbanjava Jeeps, “palácios” e concursos fúteis bem recompensados –. Mas volvidos quatro anos, curiosamente, estava eu (entre e com os amigos) ansioso, rezando para o polícia ser mais generoso. Era um “must” a visita à Chianga, a base da Faculdade de Ciências Agrárias (FCA).
Chico Pobre, rico em dinamismo por sinal, desce do carro para abordar o polícia do lado de fora. Este, num misto de charme e autoridade, caminha em direcção contrária. Mas não resiste perante um Chico persistente e bem instruído a “representar” que vinha no carro um escritor ávido de explorar as potencialidades turísticas do Huambo. Exibia inclusive o livro, como que a dizer “é verdade mesmo, chefe!”. Passados poucos minutos, três outras viaturas juntam-se à fila, crescendo a onda de nobres motivos, e o polícia, “angolanamente”, permite a entrada.
Enquanto o carro segue à velocidade de funeral, vejo-me baralhado com tanto a ver, tanto a fotografar. E agora, falo mesmo assim!, a quem ainda duvida da legitimidade do Huambo em reclamar o estatuto de “Capital Ecológica” perguntem-lhe só se já visitou a Chianga…
Mas a surpresa estava ainda por vir. “Vocês já viram um bunker a sério?”, desafiava um turista encontrado no local. O nosso “não” era evidente no semblante apanhado desprevenido.
Só mais dois passos, estávamos à entrada do bunker… de Jonas Savimbi. Com todos os mitos que o nome e a guerra acarretam, estávamo s entregues ao relato das façanhas “do mais-velho” na voz de um dos agricultores. Da parte do nosso guia, não faltou o convite para enfrentarmos a treva do antigo esconderijo de luxo do líder “carismático mas brutal”. A aventura era, no entanto, impossível para quem contava só com as lanternas dos telemóveis. Nem mesmo eu, cujo primeiro emprego foi andar em câmaras-escuras na revelação de rolos e impressão de fotografias a preto-e-branco, aceitei. Podia se dar o caso de existirem cobras ou outros bichos letais… e não ficava bem incomodá-los (portanto, uma questão de respeito ao próximo, não de medo…!).
Já a sair, vemo-nos forçados a testemunhar o filme de um casal fazendo amor no seu carrinho de vidros transparentes, bem à beira do lago, num local tão alcançável, tão de todos, que só mesmo a ditadura da libido justificaria tal egoísmo.
Manda a consciência de turista reconhecer que o rosto da cidade do Huambo melhorou acentuadamente. Fica até difícil lembrar-me daquela imagem anedótica de estradas com semáforos bons mas sem asfalto. “Agora o Huambo é outro”. E quando chegar a hora de regressar, levo mais uma lição comigo: o Huambo é para se ir conhecendo aos poucos. Nada melhor que voltar.
Gociante Patissa, Palácio de Vidro, Huambo 10 de Maio de 2009
Nunca pensei que o Huambo tivesse algo que me fosse excitar algum dia, depois da impressão negativa de há quatro anos atrás – havia mexido demais com o meu lado sensível ver crianças menores de 15 anos fabricando carvão ou no biscato de camponeses para alimentarem os avôs, em aldeias e Ombalas (município da Tchicala-Tcholohanga) situadas a menos de 200 Km do Huambo sede, que já esbanjava Jeeps, “palácios” e concursos fúteis bem recompensados –. Mas volvidos quatro anos, curiosamente, estava eu (entre e com os amigos) ansioso, rezando para o polícia ser mais generoso. Era um “must” a visita à Chianga, a base da Faculdade de Ciências Agrárias (FCA).
Chico Pobre, rico em dinamismo por sinal, desce do carro para abordar o polícia do lado de fora. Este, num misto de charme e autoridade, caminha em direcção contrária. Mas não resiste perante um Chico persistente e bem instruído a “representar” que vinha no carro um escritor ávido de explorar as potencialidades turísticas do Huambo. Exibia inclusive o livro, como que a dizer “é verdade mesmo, chefe!”. Passados poucos minutos, três outras viaturas juntam-se à fila, crescendo a onda de nobres motivos, e o polícia, “angolanamente”, permite a entrada.
Enquanto o carro segue à velocidade de funeral, vejo-me baralhado com tanto a ver, tanto a fotografar. E agora, falo mesmo assim!, a quem ainda duvida da legitimidade do Huambo em reclamar o estatuto de “Capital Ecológica” perguntem-lhe só se já visitou a Chianga…
Mas a surpresa estava ainda por vir. “Vocês já viram um bunker a sério?”, desafiava um turista encontrado no local. O nosso “não” era evidente no semblante apanhado desprevenido.
Só mais dois passos, estávamos à entrada do bunker… de Jonas Savimbi. Com todos os mitos que o nome e a guerra acarretam, estávamo s entregues ao relato das façanhas “do mais-velho” na voz de um dos agricultores. Da parte do nosso guia, não faltou o convite para enfrentarmos a treva do antigo esconderijo de luxo do líder “carismático mas brutal”. A aventura era, no entanto, impossível para quem contava só com as lanternas dos telemóveis. Nem mesmo eu, cujo primeiro emprego foi andar em câmaras-escuras na revelação de rolos e impressão de fotografias a preto-e-branco, aceitei. Podia se dar o caso de existirem cobras ou outros bichos letais… e não ficava bem incomodá-los (portanto, uma questão de respeito ao próximo, não de medo…!).
Já a sair, vemo-nos forçados a testemunhar o filme de um casal fazendo amor no seu carrinho de vidros transparentes, bem à beira do lago, num local tão alcançável, tão de todos, que só mesmo a ditadura da libido justificaria tal egoísmo.
Manda a consciência de turista reconhecer que o rosto da cidade do Huambo melhorou acentuadamente. Fica até difícil lembrar-me daquela imagem anedótica de estradas com semáforos bons mas sem asfalto. “Agora o Huambo é outro”. E quando chegar a hora de regressar, levo mais uma lição comigo: o Huambo é para se ir conhecendo aos poucos. Nada melhor que voltar.
Gociante Patissa, Palácio de Vidro, Huambo 10 de Maio de 2009
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Obrigada Patissa
Por me levar a passear a esses lugares.
Bjs
Dulce
Eu é que agradeço, cara Dulce o carinho do seu carinho. Não foi desta q consegui trazer-lhe a foto do maboqueiro, embora não faltasse vontade. Infelizmente o regresso foi (igualmente) pela via da Ganda, quando a planta abunda nas bandas do Balombo e Bocoio. Continua na agenda a preocupação.
Abraços meus!
Aiué saudades do Huambo...
Feliz que tenhas ficado com melhor impressão desta vez :)
Kanuthya, minha mana, curti o Huambo. É verdade que ainda é das cacimbas que saiu a água, eqto as torneiras aguardam pelos "esforços do governo", mas o balanço é positivo.
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