Sempre que chega o sábado, tenho a obrigação de ir ao trabalho às 5H30. E é com o sentimento de estar a ser sub-aproveitado (na busca do poder de compra) que dou de caras com a rua. Quase que dá para ouvir a vizinhança e gente normal a ressonarem. Mas, quando passo pelo Café perto de casa, vejo gente a trabalhar e me dou conta do quanto a minha cruz não é seguramente a mais pesada. Eis um convite para desfazer o meu semblante de mártir.
Sem tirar a mente do relógio, ocupo uma mesa, abro um livro ou rabisco um papel qualquer, enquanto espero que as meninas me venham atender. Um quarto d’hora é o máximo dos máximos que me resta gastar ali, pelo que seria desperdício passá-los na sala climatizada, quando se tem uma esplanada e uma rua meio acordada para apreciar.
Como sempre, algo perturba-me. Com todo o respeito que tenho pelas pessoas que fumam, há que aceitar que o fumo do cigarro cheira mal, um contraste até ao gesto elegante com que se fuma. Mas enquanto o meu lado intolerante se lembra das teorias de “como fumam os que não fumam?”, revoltando-me em silêncio contra o papel de fumador passivo, cala-me um detalhe: a esplanada é lugar para fumadores, portanto quem se sente mal acomoda-se na sala climatizada. Aliás, está de parabéns a gerência por facilitar tal coabitação.
Gosto desta palavra, “coabitação”, que é sinónima de precaução. E procuro sempre não incomodar os outros nos espaços públicos, à luz da idosa máxima “não faça aos outros o que não gostares que te façam”. Lembro-me de uma pessoa chegada, que preferia faltar às aulas a ter que suportar as guedelhas do professor, um intelectual rastafariano. Para dizer que as pessoas, às vezes, incomodam-se pelos mais inesperados motivos. Mas o que me surpreendeu (mesmo!) foi a cena de anteontem no “Quintal da Tia Xica”, um sítio para comer e beber na cidade de Benguela.
Sob minha influência, decidimos (éramos cinco colegas) preterir a feijoada da “Mangueirinha”, optando pelo funji com carne grelhada e lombi. Mas como o tempo é dinheiro, vi-me forçado a aproveitar a demora da chegada do almoço para atender a incumbência urgente de converter em PDF um relatório e proposta de projecto da AJS. Não seria a primeira vez que trabalharia por cima do joelho num restaurante – por acaso até seria a terceira na “Tia Xica”.
Nisto, explodiu de nervos Mr. Pirle, um homem do futebol interbairros – no entanto um ilustre desconhecido para mim até aquele dia – que tomava as suas cervejas. “AQUI É LUGAR PARA COMER, NÃO É PARA LIGAR ESTAS COISAS DE INTERNET!”, condenou. Não entendendo até que ponto um computador ligado daria cabo do sabor da cerveja, tratei de tranquilizá-lo: “não é nada de pornografia, ya!?”. O homem irritou-se ainda mais com o “ya!”, arranhando o limite da estupidez. “O senhor não me conhece, nem sabe o que estou a fazer…”, contra-ataquei, em vão. Finalmente entra em campo o garçon em serviço, que vem ter comigo e manda desligar o computador. Foi então que abandonamos o local, deixando o outro “em paz”, em direcção à “Mangueirinha” atrás da feijoada. Mas não sem antes oferecer um livro (da minha autoria), que foi imediatamente jogado ao chão.
Sinceramente, é cada vez mais imprevisível o grau de intolerância do ser humano. Será que teremos de arranjar, nos restaurantes, um espaço também para “confinar” os utentes de computador?
Gociante Patissa, 05 de Abril de 2009
Sem tirar a mente do relógio, ocupo uma mesa, abro um livro ou rabisco um papel qualquer, enquanto espero que as meninas me venham atender. Um quarto d’hora é o máximo dos máximos que me resta gastar ali, pelo que seria desperdício passá-los na sala climatizada, quando se tem uma esplanada e uma rua meio acordada para apreciar.
Como sempre, algo perturba-me. Com todo o respeito que tenho pelas pessoas que fumam, há que aceitar que o fumo do cigarro cheira mal, um contraste até ao gesto elegante com que se fuma. Mas enquanto o meu lado intolerante se lembra das teorias de “como fumam os que não fumam?”, revoltando-me em silêncio contra o papel de fumador passivo, cala-me um detalhe: a esplanada é lugar para fumadores, portanto quem se sente mal acomoda-se na sala climatizada. Aliás, está de parabéns a gerência por facilitar tal coabitação.
Gosto desta palavra, “coabitação”, que é sinónima de precaução. E procuro sempre não incomodar os outros nos espaços públicos, à luz da idosa máxima “não faça aos outros o que não gostares que te façam”. Lembro-me de uma pessoa chegada, que preferia faltar às aulas a ter que suportar as guedelhas do professor, um intelectual rastafariano. Para dizer que as pessoas, às vezes, incomodam-se pelos mais inesperados motivos. Mas o que me surpreendeu (mesmo!) foi a cena de anteontem no “Quintal da Tia Xica”, um sítio para comer e beber na cidade de Benguela.
Sob minha influência, decidimos (éramos cinco colegas) preterir a feijoada da “Mangueirinha”, optando pelo funji com carne grelhada e lombi. Mas como o tempo é dinheiro, vi-me forçado a aproveitar a demora da chegada do almoço para atender a incumbência urgente de converter em PDF um relatório e proposta de projecto da AJS. Não seria a primeira vez que trabalharia por cima do joelho num restaurante – por acaso até seria a terceira na “Tia Xica”.
Nisto, explodiu de nervos Mr. Pirle, um homem do futebol interbairros – no entanto um ilustre desconhecido para mim até aquele dia – que tomava as suas cervejas. “AQUI É LUGAR PARA COMER, NÃO É PARA LIGAR ESTAS COISAS DE INTERNET!”, condenou. Não entendendo até que ponto um computador ligado daria cabo do sabor da cerveja, tratei de tranquilizá-lo: “não é nada de pornografia, ya!?”. O homem irritou-se ainda mais com o “ya!”, arranhando o limite da estupidez. “O senhor não me conhece, nem sabe o que estou a fazer…”, contra-ataquei, em vão. Finalmente entra em campo o garçon em serviço, que vem ter comigo e manda desligar o computador. Foi então que abandonamos o local, deixando o outro “em paz”, em direcção à “Mangueirinha” atrás da feijoada. Mas não sem antes oferecer um livro (da minha autoria), que foi imediatamente jogado ao chão.
Sinceramente, é cada vez mais imprevisível o grau de intolerância do ser humano. Será que teremos de arranjar, nos restaurantes, um espaço também para “confinar” os utentes de computador?
Gociante Patissa, 05 de Abril de 2009
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A minha alma fica parva...
Não aprecio o termo "tolerância", parece implicar uma postura de "faço-te o favor de aceitar algo", isto no devido contexto.
Nesse caso parece ser ou atitude infelizmente costumeira de quem se julga acima dos restantes mortais ou um escape idiota para uma qualquer frustração (geralmente se sugerimos a natureza da dita frustração, os "intolerantes" ficam furiosos)
Seria o barulho ensurdecedor do teu teclar? As fortíssimas radiações do monitor que lhe aqueciam as birras? ;)
Estas sem dúvidas, cada vez mais galgo. Parabéns. Alias, já me esquecia, quanto a dica da convencia; esqueça, nao tarde lemos em restaruantes e lugares para comentes e bebentes "SÓ PARA QUEM USA COMPUTADORES"
abraço.
Infelizmente há muitos desses "intolerantes" pelo mundo fora! Acredito que sao pessoas frustradas com elas mesmo, mais do que com o mundo, sao pessoas amargas que encontraremos ao longo da vida... Esperando que a nossa tolerância ensine os restantes, deixo-te um beijinho e um parabéns e boa sorte para a publicação do teu livro(s)
Oi a todos,
Kanuthia, entendo q, no fundo, às vzs, o trmo é usado na política para "dsfarçar" 1 certo maniqueismo.
UniPiaget, valeu o encorajamento. Continuo a pensar q o papel da Universidade deve ser, mais do que cobrar propinaa, promovr interacção ntre os diferents actors. Q o Blog tnha longa vida!
Áfrika, "it's been quite a long while...". Obrgado pela força, acho q escritors da geração da "teimosia", o trmo é meu - podndo ser entndido como auto-didactismo - precisam de mais atenção para minimizar a lacuna q é a falta de oportunidads de formação, ou seja, para irem reforçando sua auto-estima/confiança.
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