segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Cidadã morre soterrada (Quando desafiava montanha para sustento)

Uma cidadã de 32 anos, que em vida se chamou Maria de Fátima (MF), moradora do Sector da Hondokela no Bairro da Santa-Cruz, Lobito, faleceu soterrada no passado dia 29/10, por volta das 10h50. Maria deixa viuvo e dois filhos.
MF fazia parte do grupo de mulheres entregues à miséria e que, para a sua subsistência, se dedicam à extracção de terra arenosa, daquilo que ainda sobra do antigo morro residencial da já falida Açucareira, junto da ponte do Estádio do Buraco. O produto, que transportam à cabeça, é comprado geralmente por pessoas de baixa renda, que, na falta de cimento, rebocam as suas obras com terra e areia.
«O lugar estava húmido, mas ela não conseguiu dar conta do recado. Chegou ao local, tentou extrair a terra e automaticamente a terra desabou sobre ela. E, o pelo peso da terra, já não resistiu e acabou por sucumbir», contou à reportagem do Boletim a Voz do Olho um dos mais antigos responsáveis da Subcomissão de Moradores do Bairro da Santa-Cruz, Celestino Dias “Tino” (CD). Após o alerta de testemunhas, conta a nossa fonte: «nós demos todos os procedimentos jurídicos: ligamos para a terceira esquadra, a qual nós pertencemos, e por sua vez também ligou para a investigação criminal para fazer chegar ao piquete».
A área representa um perigo eminente, já que, tendo sido desbastada pela construtora francesa, Satom, pouco sobrou do morro para aguentar o poste de alta tensão, o que vem sendo agravado pela erosão e pela acção de cidadãos que vêm neste “garimpo” um ganha-pão. A par disso, a bacia formada à sua volta pela força das chuvas tem constituído também um risco de afogamento para os petizes que fazem da água parada uma “piscina”.
«Não é a primeira vez» - recorda CD- «Pela primeira vez se deu, se bem me lembro, o ano passado, já se deu um caso idêntico: a terra desabou e houve unicamente um ferimento. Pela segunda vez, a terra desabou, acabou por sucumbir uma senhora e saíram dois feridos. E esta, nós podíamos denominar como terceira vez».
Após este recente infortúnio, nenhum “garimpeiro” voltou ao local, algo que CD encara com indiferença por recear que, passado o choque, tudo volte à mesma. E justifica: «Nós já havíamos alertado que ninguém mais deveria fazer aquele trabalho, mas como se sabe, que hoje o índice de desemprego é maior, nós podemos alertar, eles fazem daquilo o seu ganha-pão; eles continuam a levar a sua actividade laboral, que é a extracção de terra junto do poste de alta tensão».
Sabe o AV-O que o entulho do local é a solução projectada pelas autoridades.
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