A embaixada de Angola no Brasil criticou à Agência Lusa a entrevista feita no Programa de Jô que abordava a sexualidade das mulheres angolanas, exibida pela Rede Globo de Televisão e que está sendo investigada pelo Ministério Público Federal no Rio de Janeiro sob a acusação de preconceito.
"Com a manifesta conivência do entrevistador, aparentemente apostado em estimular índices de audiência, recorrendo ao primarismo do culto ao bizarro, o entrevistado deturpou e manipulou tradições culturais e costumes locais, dando-lhes colorido anormal", afirma a embaixada de Angola em comunicado divulgado à Agência Lusa.
A nota da embaixada afirma ainda que "mais uma vez, o apelo ao exotismo, real ou imaginário, foi usado como meio de marketing para vender jornais, programas de rádio ou de televisão de má qualidade".
As denúncias contra o programa de Jô Soares surgiram há dez dias e ainda não há uma conclusão da procuradora regional dos Direitos do Cidadão, Márcia Morgado, responsável pelo caso, declarou nesta terça-feira à Lusa o Ministério Público (MP).
No Programa do Jô, que foi exibido no último dia 18 de junho, o angolano Ruy Morais e Castro, atualmente taxista na cidade paulista de Campinas, comenta costumes de uma tribo de seu país a partir de fotografias, relacionando os penteados das mulheres com a sexualidade.
Em um dos exemplos, o entrevistado diz que o penteado de uma mulher na faixa dos 20 anos indicaria que ela havia feito uma incisão no clitóris para que se tornasse tão "apertada" quanto uma menina de seis ou sete anos, idade em que as mulheres dessa tribo iniciariam a vida sexual.
"Foi uma atitude bizarra do Programa do Jô, que deveria nos dar um direito de resposta. A entrevista com o taxista foi uma aberração porque expôs, execrou a mulher, e não levou em conta os valores de uma cultura e de sua ancestralidade", disse à Lusa uma coordenadora do Coletivo de Mulheres Negras do Rio de Janeiro.
Essa entidade, que impulsionou outras organizações sociais a entrarem com queixa no Ministério Público contra o Programa do Jô e a TV Globo, considera que a entrevista foi "ofensiva a todas as mulheres, em particular às mulheres negras, pelo tom de deboche e desrespeito às mulheres muila".
Segundo outra representante do movimento negro brasileiro, Alvira Rufino, houve uma "violência psíquica contra a mulher negra".
"Não se pode analisar a cultura de um povo e fazer críticas a costumes pré-estabelecidos partindo de uma visão eurocêntrica. O programa foi preconceituoso, racista e teve a intenção de desvalorizar os costumes de um povo", disse à Lusa a presidente da Casa de Cultura da Mulher Negra.
A organização não-governamental feminista E'leèkó - Gênero, Desenvolvimento e Cidadania-, se manifestou igualmente contra o programa e qualificou a entrevista como "desrespeitosa para com a mulher angolana".
"O preconceito saiu do taxista, mas o Jô não só entrou na brincadeira, como foi jocoso e também riu muito. Temos mesmo que procurar a justiça para reeducar a sociedade, porque não temos no Brasil o exercício do cotidiano da cidadania", disse à Lusa a representante da ONG, Rosália Lemos. As investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro deverão ser concluídas em um mês.
De acordo com a assessoria de comunicação do MP, se for comprovada a existência de irregularidades no programa, a procuradora Márcia Morgano poderá entrar com uma ação na justiça ou atuar de maneira extrajudicial, fazendo apenas uma advertência ao Programa do Jô e à TV Globo.
Texto: ngonoticias (citando a Lusa)Nov 28, 07:30
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
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