Não é preciso ser perito para perceber que no afã de arrancar gargalhadas da plateia, os actores parecem aproveitar-se da tendência do público vibrar mais quando propositadamente se erra na pronúncia das palavras, se usa palavrões ou se abusa no uso de gestos obscenos.
Cai-se então no imediatismo oportunista, comprometendo-se desta forma toda uma necessidade de inculcar em próximas gerações a cultura do teatro. E é aí onde seguramente se está a pecar. Que impressão é que queremos semear? De que o teatro feito em Angola é “palhaçada”, tal como o considerou em Portugal o actor Orlando Sérgio, o “Moisés”, do “Conversas no Quintal?”
Será que não se leva em conta que os apelos dos artistas por via da imprensa fazem alguns encarregados levar filhos a cultivarem o gosto por teatro? Colocou-se a questão no final da peça ao actor do Oásis e assistente de encenação, Adão de oliveira “Rolf”. “O teatro é o contraste da vida e tal como ele é, – defendeu – nós nos preocupamos muito seriamente com as técnicas que ele exige; não estamos muito preocupados com os palavrões, porque, até certo ponto, esses palavrões fazem parte do dia a dia. E eles só surgem para enriquecer, até certo ponto, uma determinada cena”.
Não seria arte obviamente se ocultasse os disparates ditos no dia a dia. Mas usá-los para “enriquecer”!? E o nosso entrevistado contradiz-se, quando de seguida afirma que “os palavrões não fazem parte da cena”, mas que estes dependem da “liberdade artística” do actor, embalado na emoção do personagem. “Mas nós também estamos preocupados com isso. Por exemplo na peça de amanhã não poderá haver palavrões”, dizia.
Também questionado pelo AV-O enquanto promotor do espectáculo e falando como professor, António Pedro “Ratinho” advogou que o uso de palavrões não é bem próprio das artes cénicas, não sendo também algo de ruim. E argumenta: “Nós somos artistas e a nossa é uma arte viva. O teatro é uma ilusão de naturalidade, de acordo com a época e a personagem a representar. E uma vez que é o teatro como se fosse um flash do dia a dia, nem sempre estamos em condições de ocultar os factos.
Até se poderia levantar como argumento o facto de acontecer de noite, conquanto em condições normais já as crianças estariam a dormir. Mas seria ainda assim um falso argumento.
Afinal, o crescimento do teatro angolano é um processo que hoje lança as bases, com o crescente surgimento de grupos e palcos. Enquanto coisa “nova” é ainda maior a responsabilidade educativa do artista, na medida em que não há limites de idade para massa assistente. (Fonte: Boletim "A Voz do lho, Julho/2007)
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