A NUCA É O GUME DA LEI (poema inédito, esperando que os doutores do plágio estejam de férias nas redes sociais, claro)
Saúdo-te, minha mãe
como o grilo ao orvalho
em Julho
daqui onde cantamos
o cântico trémulo de guerra
Sem quartel
alô! Tá tudo?
Teu chamado é sugestivo
Ofereço-te as insónias do mundo
não te escolhi ontem
pior hoje o itinerário
Se/quando chamas
eis que me faço à tua presença
Na esperança de que bem estejas
aliás não espero
fio-me mesmo
Sabedoria és tu
por cá é por um fio
fio dourado
Ao pescoço
com o latente espectro
Do nó
a nuca é o gume da lei
invejo-te o lugar da parábola
de onde nos visitas
panorâmica
Luanda também é uma maravilha, minhã mãe
como roupa colorida no estendal
sempre ao avesso
Agora que te consolidas
na república do enigma
trilhos em plumas sonhados a vida inteira
recolho-me à minha insignificância
Chamar-me-á o mundo de poliglota
mas é porque não domina
que nada domino
do teu idioma
o enigma que te define e descreve agora
por isso te peço, minha mãe
Sê directa
juntaste a ninhada
a reivindicar chamadas perdidas
da nossa parte
para contigo
quando até sem telefone saíste
Conheço-te o valor da palavra
se dizes que ligaste, ligaste
Penitencio-me pela incúria
Mas se demais não peço
eis-me a indagar, alô, minha mãe!
Era para dizer o quê?
Pela tua ninhada
Sê directa, minha mãe
Bênção, mamã
Gociante Patissa, 13 Julho 2021 | www.angodebates.blogspot.com
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