Abracei no prolongado o convite do mano Lauriano Tchoia para conhecer Nambuangongo, Bengo
província, primeira região militar dos anos de Angola guerrilheira. Ia ser outra aventura sem compromisso. É como prefiro conceber as deslocações ao interior onde não se pode esperar muito em termos de alojamento e serviços. O turismo vale mesmo só como colírio para os olhos intoxicados da city.
Conforme a baixa cinzenta fica para trás, ganha lugar o verde incitado por uma chuva que procura desmentir os efeitos da estiagem, na ordem dos três meses, que já tanto empobreceu famílias e mercados. Cacuaco dilui as fronteiras de Luanda pela vívida clorofila, o verde da diversidade vegetal que se estende e é de encher os olhos.
Não tarda, é Caxito (podia bem ser Coxito). A capital da província abre as portas mas não se deixa atravessar em linha recta, tapumes e contornos vibram em nome de um programa de investimentos públicos que soa PIIM. Salta à vista a disposição de agentes da polícia num só local. Está explicado. Há manifestação e megafone. Jovens empunham cartazes por um Bengo mais desenvolvido, menos desvios de verbas e por um adeus à Mara, governadora.
Deve faltar pouco para chegar, diz-nos o faro, libertos de pesquisa prévia e do GPS. A estrada parece alongar-se de propósito, o serpentear por entre as serras é agravado pelas lombas no asfalto. De quando em vez preenchem o quadrante aldeões que inundam o mercado luandense de mandioca, kizaka e banana, também chineses e serviçais locais da exploração de inertes (alivia notar que ultimamente já não vão os orientais ao volante dos seus pesados camiões).
Volvidas quatro horas chegamos a Onzo, paragem-mercado informal que faz cotovelo para Muxaluandu, comuna sede do município. Aguardam-nos mais 14 quilómetros, diz-nos, solícito, o agente regulador de trânsito (que não existe). A escassos metros, em lareira a céu aberto um comerciante tem dois macacos a assar, seus dentes cerrados. Um terceiro, rosto ensanguentado do procedimento que o neutralizou, beira o lume. Não faltam é clientes para degustarem nacos do nosso “ancestral” darwiniano. Mas logo me reprimo pela instintiva repulsa ao “canibalismo”. Ora, o que difere o macaco do boi e da galinha que degusto e bem?
Passamos por Kixiku e na memória a satisfação de trilhar a banda da banda musical Vozes do Nambua. Às 15h fazemo-nos a um quintal com ares de hospedaria, mais de 300 km. Está em obra, especulamos. Ao fundo um senhor, estômago avantajado e outras saliências mais, desmente. Quarto ainda temos. As condições são, digamos, enfim... A fome ronca, não há ali socorro. Somos orientados a ir à praça. E lá vamos nós. Funji de carne de gazela e kizaka. Fiquei-me pela kizaka.
Pela manhã, deixamos Muxaluandu onde nos foi vetada a foto de cliché com a Administração Municipal ao fundo. Tirem só na escola, também sai bem, instruiu o guarda em serviço, que à nossa chegada abandonara por uns instantes o posto para ir buscar a sua máscara, por sinal a única que constatamos em quase 12 horas que andamos pelo interior do Bengo. A pandemia da Covid é uma nova guerra que o interior ainda não interioriza, se é que já o fez.
Já em Cana-Cassala, 35 km mais para cá, o giro levou-nos à área residencial dos governantes. A um deles, que deduzo administrador-adjunto, perguntamos o significado do nome da comuna, no que foi humilde em dizer que desconhecia e recomendou-nos abordar a comunidade. Fiquei a pensar no que mais o governante não desconhecerá da localidade.
Gociante Patissa | Nambuangongo, 21 Março 2021 | www.angodebates.blogspot.com
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