LIVRA-ME DOS HERÓIS (poema inédito)
Com a tua suprema licença, senhor,
Que te encontre de óptima disposição
Pois só boa, sou a recear, não bastará
Ao fim de tanto estertor
Pais mães indefectíveis servos rogando
Rogando, rangendo os dentes
Impotentes, humilhando-se pela tua glória
até ao último pingo do seu viver
E tu sempre sereno, senhor
Bem-aventurados os que temem por igual
a tua graça e a tua ira
Não te combato, senhor
Aliás, quem seria eu
Para além da culpa por herança
Rancorosa do Eden?
Prostrei-me, senhor
Os anos mais inocentes do meu existir
Havias de proteger os meus
Havia rumores de seres justo
Havias de compensar os teus servos
Muito mais não se te podia pedir
Não sei se calejado pela sorte que me deste
Este alvará de tantos ver partir
Já podemos indagar
Os teus embaixadores em terra não deixam
Quando foi mesmo que perdi a fé?
Porquê?
Na tua omnisciência lá saberás
És grande, talvez grande demais
Demais, demasiado
Excessivamente grande
Estás confortável na tua posição, senhor
Fico feliz por ti
O que contar é que não te falta
Como quem contemplou a escravatura
As guerras que perduram
Como perdura o diabo sobre o qual podes
Enfim, o bicho homem à tua semelhança
Em todo o caso, podendo, livra-me dos heróis
Dos corajosos, dos teimosos, dos super optimistas
Do surdo ocasional aos conselhos
Ainda quero viver
ainda que atrás de um açaime cirúrgico
Que mal sabe dizer se é tecido de facto
Amém
Gociante Patissa | 2 Março 2021 | www.angodebates.blogspot.com
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