sábado, 28 de novembro de 2020
quinta-feira, 26 de novembro de 2020
COMO EDITAR UM PRIMEIRO LIVRO (fragmentos da crónica do site da editora Relógio D’Água)
Se deseja ser escritor tem de aceitar o risco de nunca viver do que escreve – em Portugal, só meia dúzia de autores o conseguem.
Para quem quiser enriquecer o caminho é outro. Caso não tenha idade para uma academia de futebol, nem «estômago» para fazer carreira nas juventudes partidárias, pode sempre tentar descobrir um enredo esotérico que envolva a Ordem dos Templários ou uma rainha portuguesa infeliz e ardente. Neste caso, ninguém se lembrará de si dentro de dez anos, mas será considerado escritor por alguns amigos mais condescendentes e pelos habituais leitores do género.
Tradicionalmente, o autor cujo original era várias vezes recusado imprimia a obra à sua custa (ou aceitava participar nas despesas da editora o que ocultava muitas vezes um negócio obsceno). O caso mais famoso de autoedição é o de Miguel Torga.
Hoje, com o desenvolvimento conjunto da Internet e da impressão digital, a edição de autor aproxima-se já, em número de títulos, da edição normal em países como os EUA.
Algumas companhias como a Creative Space da Amazon produzem obras cobrando os custos de impressão e partilhando os lucros.
Na Europa, onde as tradições culturais são diferentes, o movimento é incipiente, no que se refere à ficção narrativa e poesia. No entanto, algumas livrarias britânicas dispõem já de serviços de impressão a pedido, que podem servir a autoedição.
Dados os riscos financeiros e tempo que exige, a autoedição só deve ser encarada pelos autores recusados pelas editoras «tradicionais» que tenham uma nítida convicção do seu talento.
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O início do livro pode ser decisivo. Nas editoras de menor dimensão a leitura é feita pelos próprios directores que vão decidir se continuam depois de ler dez páginas.
De qualquer modo, têm de ser originais, pelo que não é boa ideia começar com: «Durante muito tempo fui para a cama cedo. Por vezes, mal apagava a vela, os olhos fechavam-se-me tão depressa que não tinha tempo de pensar: “Vou adormecer.”»
Na poesia evite confundir versos com bons sentimentos e não acredite que somos um país de poetas. E não lhe fará mal seguir o conselho de Virginia Woolf em Carta a Um Jovem Poeta: «Nunca publique nada antes dos 30 anos.»
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Em relação a alguns editores pode avançar argumentos extra-literários. Se tencionar viver entre os papuas da Oceânia, mudar de sexo ou assassinar alguém ao virar da esquina, deve referi-lo, pois a cobertura mediática para o seu livro ficará assegurada. Para certos editores o argumento é decisivo.
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Depois de o seu original ser aprovado e discutidas eventuais sugestões de alteração (como sabe mais usuais nos países anglo-saxónicos que nos latinos), não deve esquecer o contrato. Este pode ter trinta alíneas, mas só quatro são importantes. Deve recusar a exclusividade e exigir a aprovação da capa se não quiser apanhar um susto de letras douradas em relevo que o perseguirá o resto da vida. Ainda mais decisivo é o prazo de vigência e a percentagem de direitos a receber. A nossa lei de direito de autor estipula que na ausência de especificação a vigência de contrato é de 25 anos e os direitos autorais de 25 por cento.
sexta-feira, 20 de novembro de 2020
domingo, 8 de novembro de 2020
sexta-feira, 6 de novembro de 2020
Crónica | E A CHUVA NÃO QUIS ESPERAR MAIS
Ouviu-se de repente um estrondo forte, tão forte que a chuva que caía parou também para ouvir o que se estava a passar. E isso só piorou o silêncio denso. Corria qualquer coisa que contrariava a cor da água no piso alcatroado e reflectido nos intermitentes, algo rubro, reclamou a chuva, vejam lá vocês que alguém andou a adulterar o meu produto. Desde quando é que a água tem cor? Insurgiu-se a chuva lá do alto das nuvens, um estrondo aqui e outro ali, nada porém que se igualasse ao estrondo que parou o bairro naquele subúrbio. Mais a mais, começava a anoitecer. Começava, vírgula. Era já noitinha, as mulheres do campo, lavradeiras de enxada em riste, coluna concorrendo para uma escoliose, estavam já a tomar conta dos seus lares, sugadas por maridos e crias. É a tal vida, vamos fazer mais como? O tempo passava e naquele local do estrondo a aglomeração crescia, ninguém já falava mais em cinco limite. Os pneus cantavam, tantos curiosos que essa terra pariu. Agora fala o homem um. Bem, eu vinha e aí… O homem um não foi a tempo de concluir a fala, o homem dois tocou o apito. Pri! Pri! Pri! Você é culpado, sempre que não conseguires imobilizar a viatura, é excesso de velocidade. Nunca, senhor agente!, refilou o homem um. Isso agora é liberdade de expressão, expressão e manifestação. Vocês, agentes, não podem trazer sempre a razão no bolso. É ouvir o cidadão, ok?! Primeiro ainda é perguntar. Desliga só ainda a sirene, faxavori, o pirilampo já resolve. Fala mesmo, boa noite, cidadão, como foi? Aliás, antes de tudo e em primeiro lugar, é se solidarizar com as pessoas. Ora essa, interrompeu o homem dois, pistola na cintura, braçal reflector de polícia de trânsito. Então mas assim estou a fazer o quê?! Estou a namorar?! Perante um decúbito, a prioridade da linha de investigação recai para ali. Contra factos não há argumentos, é assim com todas as polícias. Mas, ó senhor agente, espera ainda um pouco, isso já era o homem um, o chaufer sinistrado. Nessa era de Covid, entre o morto e o vivo quem merece prioridade? Então você, desculpa-me lá tratá-lo, digo o camarada ou maninho, por você; acha que mortos somos úteis? Veja lá como se dirige à autoridade, está bem?, ameaçou o homem dois e continuou: meu senhor, é assim. Estamos perante um sinistro, a rodovia está obstruída, essa raça de desumanos a tirar fotos e mais fotos e você, agora te devolvo o pronome, quer falar mais que a minha farda? Mas, ó senhor agente, se um adulto desses se mete na estrada a correr em ziguezague contra a viatura iminente, atrás de um rabo de saia, eu é que ia fazer o quê?! Xê!, rabo de saia, não te admito, ya? Enervou-se a mulher um. Enquanto isso, a chuva, agora dividida entre a impaciência e a a doce tentação da fofoca, estrondeava um pouquinho. Mas e o desfecho? E vocês quem são? Somos a família do malogrado. Queremos justiça! Queremos justiça, queremos justiça! Estás a ouvir, ó camarada motorista? Estou mas, eu também assim nesse meio quem vai pagar os danos do meu Tundra? Queremos justiça! Queremos justiça, queremos justiça! E você, mulher um, o que tem a explanar? Eu vinha da loja, assim que vinha, mal desci do autocarro, o defunto e outros meliantes da paragem começou a tentar me tramancar, eu com medo, vou fazer mais como?, corri. Vou e volto, vou e volto, de um lado para o outro na estrada… Mas ó minha filha, interrompeu a mulher dois, é verdade mesmo que não podias fugir pelo menos só para fora da estrada? Assim agora o filho da outra lhe atropelaram, está parece papel dobrado em quatro? Isso se faz? Espera aí!, impôs-se o homem dois, o agente. O malogrado afinal era marginal? Mas, espera aí, acho que se fosse morria logo na margem e não foi o caso. Foi atropelado no meio da estrada, logo, acho que era do centro, nem de direita nem de esquerda. Mas o camarada polícia então assim está a falar à toa de como? Reprimiu a mulher um, a vítima. Ou seja, temos quantas vítimas afinal nesse emaranhado? Vou-te falar uma coisa, senhor agente, eu acho que se o camarada malogrou em flagrante acto de roubo tentado, a vítima aqui é o meu carro que ficou machucado. Bem, cidadão, assim ouvindo, acho que podes ter razão, porque o falecimento dele nestas circunstâncias de correr atrás da vítima, é remédio social. Acho que é isso. Aí, ai, ai, gritou a mãe do defunto, o que é que uma mulher de bem fica a fazer na via pública longe das casas, às dezanove que está escuro, até ser alvo de assalto? Mas a mãezinha assim está a falar mesmo com a boca? E a chuva não quis esperar mais, as partes recolheram-se.
Gociante Patissa | Benguela, 6 Novembro 2020 | www.angodebates.blogspot.com
quinta-feira, 5 de novembro de 2020
quarta-feira, 4 de novembro de 2020
Uma sociedade civil partidarizada confunde mais do que ajuda o exercício da cidadania, seja pró governo, seja pró oposição. Separar as agendas é sempre o mais honesto. Militância (individual) VS advocacia social (mediação entre cidadãos e decisores)🇦🇴
Dos membros da sociedade civil organizada/estruturada (igrejas, ONG’s, sindicatos) espera-se que saibam encontrar a “linha da vergonha” entre as paixões partidárias e o engajamento das instituições que representam. Podem exercer a militância de forma aberta mas sempre a título pessoal e não meter o emblema. Isso favorece o princípio da harmonia, salvaguardando que as agremiações congreguem diversas sensibilidades. 🇦🇴