1. Porque me obriga a consciência de cidadão e agente de mudança social no campo das letras, venho expressar mais uma vez o vivo repúdio face aos actos que redundam em excessos das forças da ordem, policiais ou militares, na sua abordagem com populares. Situo no meu entendimento ao falar em uso excessivo de força um quadro de meios e perícia injustificado ou desproporcional a uma determinada circunstância.
2. A sociedade angolana segue chocada o ascendente trágico de mortes causadas pelas forças da ordem. A vítima mais recente é o jovem José Kilamba Rangel, baleado por um agente da Polícia Nacional que patrulhava o Bairro do Prenda, em Luanda, no quadro do Decreto Presidencial que reforça as medidas de prevenção da Covid-19. Um outro jovem, que ia em companhia do falecido, sobreviveu ao tiro no ombro.
3. Segundo o porta-voz do Comando provincial de Luanda, Nestor Goubel, citado pela Lusa, o incidente ocorreu por volta das 02h00, quando os jovens "se insurgiram contra a Polícia e na tentativa de os afastar, um agente acidentalmente disparou".
4. Cada cidadão contribui para o bem-estar e segurança da nossa Angola, mas tenho consciência do respeito acrescido que nos merecem as forças da ordem, que enfrentam por inerência das suas actividade situações de perigo e dormem longe do conforto dos seus lares. Também não fui militar nem alguma vez adquiri a perícia de manejar armas.
5. Seja como for, recuso-me a acolher a recorrência de tiros acidentais ou então que não haja outras formas de dissuadir o "desacato às autoridades" senão pela neutralização letal do "alvo". A própria Polícia já nos habituou a ver louváveis exemplos de contenção, pedagogia e humanismo. O papel do polícia não pode ser o de matar (fácil), do mesmo jeito que o papel do juiz não se pode limitar a condenar.
6. Os números de vidas perdidas à bala da Polícia, só nestes quatro meses, andam acima de 65% dos óbitos causados pela Covid-19, que temos todos o compromisso de prevenir e combater. Não deixo de lamentar as mortes e de me solidarizar com as famílias de agentes e militares mortos por meliantes e cidadãos de conduta errónea.
7. Exmo. Senhor Ministro do Interior, ensina-nos a ciência a prestar atenção aos fenómenos sociais e aferir as causas determinantes e condicionantes, sob pena de continuarmos a perder tempo, neste caso vidas, com a superfície. Porque será que os tiros de efeito psicológico, admitindo o seu uso como recurso extremo necessário, tendem a ser apontados ao corpo e não para o ar? Sabendo que, matando, o autor é punido com penas pesadas, os agentes não deviam estar sensibilizados do contrário?
8. Termino reforçando o apelo para se investir no acompanhamento psicossocial e aquisição de coletes anti-bala para os nossos agentes. Seria grave ouvirmos algum dia que afinal se andou a matar por... pânico.
Gociante Patissa (escritor). www.angodebates.blogspot.com
|Benguela, 14 Julho 2020
Imagem: site do minint
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