O
presente texto surge a propósito de uma reportagem de Gabriel Veloso (Rádio
Luanda, 01/09/11) sobre nomes e alcunhas. A peça analisou as implicações
sociais da identidade do indivíduo, a partir da semiótica. Falaram um cristão,
um sociólogo e um jurista. São de elogiar trabalhos jornalísticos do género, e mal
não fariam em incluir um antropólogo.
Uns
de raiz tradicional, outros baseados em adjectivos e mitos. Assim é o vasto
mosaico de nomes, num país com 17 milhões de habitantes (70% cristãos), e pelo menos oito
grupos etnolinguísticos de matriz Bantu, sem esquecer os Khoisan, pré Bantu, e os de origem ocidental.
O
cristão recomendou para a escolha de nomes positivos, pois estes podem
determinar o carácter, a personalidade e o futuro. Para impor a
fórmula, socorreu-se da bíblia, onde a figura de Jacob acaba sendo enganadora, conforme
o significado do nome. Falou até em genética, ilustrando que se dermos à
criança nome de um familiar que tenha sido bruxo ou feiticeiro, o será de
certeza. O «Azarado» tem uma vida de azares. Os que se chamam Mãezinha ou Paizinho
sentir-se-ão inferiores para o resto da vida, asseverou.
O
sociólogo estabeleceu uma relação de «causa - efeito» mais no sentido da
chacota de que o nome pode ser alvo, levando como tal o indivíduo a sentir-se
pouco à vontade no seu meio. Por sua vez o jurista disse não haver impedimentos
quanto ao registo de nomes tidos como caricatos, oriundos da sociedade angolana,
como é óbvio, com uma ou outra excepção. O alerta do crivo recai para nomes estrangeiros.
Via
de regra, na formação dos nomes oficiais vem primeiro o de baptismo (bíblico, ocidental), seguido do nome de família (ou ao menos nativo). Há,
entretanto, o inverso da regra entre os bakongo, na região norte de Angola. Um interessante artigo sob o título «Os
nomes ou cognóminos Kikongos» circulou
em alguns portais, da autoria do auto-assumido tradicionalista, Makuta Nkondo. Também
publicamos (aqui
e aqui)
o contributo do livro «O Meu Pai», de Avelino Sayango, na divulgação
da tradição Ovimbundu.
O
cristão foi de um maniqueísmo da era medieval, caracterizada por uma civilização
cristã cega de etnocentrismo. Não se aceita, neste século XXI, que fazedor de
opinião que se preze exale tamanha leviandade. Mesmo que não se trate de
invenção sua, há que deixar claro o que é senso comum e/ou mito, e não vendê-los
capciosamente como verdades acabadas.
Um
historiador amigo lamentou que a “cultura” cristã siga dando pouca oportunidade
à percepção da rica cultura material do povo Bakongo, onde até os instrumentos
musicais (masikilo) são associados à
feitiçaria. De tal sorte que a marimba e o kisanji não podem tocar num templo,
lugar exclusivo do piano e guitarra.
Não
haja dúvidas, um cristianismo que ignore a antropologia e seu enquadramento com
a modernidade corre o risco de se desconhecer a si próprio, porque é sem
memória.
Gociante
Patissa, Luanda-Benguela, 01-06/09/11
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Em nome de deus não se deve negar nem afirmar nada, muito menos em nome do cristianismo.
Ainda bem que tem gente para botar a boca no mundo!
Bjuss
Oi, Patissa.
Lendo esse texto, percebo como Cristo fica longe desse tal cristão.
Por isso, reafirmo minha opinião de que: Cristo liberta, mas o cristianismo aprisiona.
Abraços.
São os centrismos que levam vários prefixos, meu doce, os tais de que falamos tantas vezes, que não respeitam e se acham sempre mais. Tenho notícia de grupos seriamente prejudicados e ameaçados na sua identidade após "conversões". Nada cristão, isso, digo eu, como cristã que me posso considerar, por admirar a figura de Cristo e nela ver uma referência de vida. Kandandu daqueles
Oi, Bípede Falante, sempre 1 prazer tê-la e "ouvi-la". Um abraço
Cara Lúcia Leme, grato pela observação. Um bom dia para você.
Oi, amiga Lita Duarte, sua opinião aqui conta. bjs
Cristina Galhardo, minha querida, outro kandandu bem daqueles com Benguela pelo meio. bjs
Caríssimo, Paz e Bem!
Está mais que na hora de alguém alçar a voz em prol da cultura africana! Como é possível nesses tempos hodiernos, ouvir algo assim? Choca a opinião!
Tomo a liberdade de fazer uma cópia para meu blog.
"Caríssimo, [ Fratermaurício]Paz e Bem!" É sempre um prazer interagir consigo e não vejo inconveniente em partilhar o texto. Um abraço grande
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