domingo, 5 de junho de 2011

Opinião: Quando a livraria transcende

Um acontecimento vivido na cidade de Benguela, na passada sexta-feira, acabou por redesenhar o conceito de livraria no universo dos meus mais distantes sonhos.

Creio que ouvi falar de livrarias pela primeira vez em 1988, quando frequentava a 4ª classe no Lobito, três anos após a chegada do Monte-Belo, minha Terra Natal. Se quisermos usar a fórmula “palavra/imagem”, direi então que, naquela época, livraria significava livros novos, compasso, cartolina, esferográfica e lápis, ou seja, arranque de mais um ano lectivo. Com o passar dos anos, vieram também as folhas de 25 linhas para os requerimentos em cada transição de nível.

Mas foi a partir de 1996 que ousei sonhar com uma relação mais pró-activa com as livrarias, logo que se revelou a inclinação para a escrita e com ela o contacto com livros extra escolares. A poesia passou a ser o canal. Entreguei-me então ao sonho de um dia ver, entre os títulos na vitrina, um com o meu nome, meu rosto.

Quer seja comigo do lado de cá, quer seja do lado de lá da vitrina, o papel da livraria continuou, até anteontem, inalterável: um lugar para a venda de livros e demais material didáctico, útil também para fotocópias e plastificações. (Ah, pois, é lá também que se vendem os modelos de “cartas de pedido”, em substituição de postais românticos que predominaram até princípios da década de 1990).

Mas isso mudou anteontem, e ainda bem. Foi quando uma livraria denominada Sucam, recém inaugurada em Benguela, organizou no seu interior o lançamento de três livros da Mayamba Editora, vinda de Luanda.
 
Durante cerca de duas horas, a livraria foi a capital municipal da cultura, com uma montra improvisada de tenda ocupando metade do passeio e o acto formal no interior, entre discursos, reflexões e reencontros. As bibliotecas individuais ganharam duas colectâneas de textos na vertente de crítica literária, “Como se lê um texto literário?” e “Caderno de estudos literários e linguísticos”, organizadas por Manuel Muanza, bem como uma revista literária intitulada “Kulonga”.

Sendo pouco relevante de quem a iniciativa, se de Suzeth Jerónimo (a proprietária da Sucam), ou de Arlindo Isabel (o editor da Mayamba), tratou-se de um momento ímpar para a elevação cultural. Sempre se pode ir um pouco além do comércio imediato, não obstante as habituais limitações do espaço físico das livrarias em Angola.

Gociante Patissa, Benguela 5 Junho 2011.

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4 Deixe o seu comentário:

DADI SILVEIRA disse...

UM BOM FRUTO.:)
E QUE VENHAM MAIS!

ABRAÇOS.

DADI

Val Du disse...

Patissa,
peguei um poema seu, publiquei em meu blog. Ilustrei c/ uma foto minha. Se não gostar, eu posso mudar.

Bjos.

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Chegaram os abraços, Dadi, e vão retribuidos. Gosto do som Dadi, mais "pessoal" que "CAIXA DE FATOS". Bjs

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Oi, Lita, grato por divulgares uma vez mais o nosso trabalho. Um abraço bem daqui!

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