«Dom José Manuel Imbamba disse que a aposta da CEAST neste momento é a abertura de rádios diocesanas, devido aos constrangimentos da extensão do sinal da Ecclésia ao interior. Numa entrevista concedida á Rádio Vaticano e Rádio Renascença, o bispo do Dundo, fundamentou esta posição como a medida mais justificável»
Comentário daqui: Como já referi em posts anteriores, eu integrei a turma de quatro repórteres-redactores-noticiaristas, seleccionados entre centenas de jovens à procura de oportunidade de bumbarem numa rádio, isso em 2004, ano em que se intensificava a preparação da abertura da Rádio Ecclesia em Benguela.
Justamente quando até os indicativos e os jingles de emissão estavam montados, soubemos da iminente impossiblidade de irmos ao aor naquele ano, o que não só veio acontecer, como se estendeu até hoje. Durante semanas, fez parte da nossa rotina uma espécie de ponto de situação, com explicações e leituras do dossiê jurídico por um padre do quadro directivo. De resto, uma longa história que tem a ver com o encerramento compulsivo da emissora católica e consequente apropriação do equipamento pela Rádio Nacional de Angola (RNA) , isso, na época do fim do colonialismo português.
A lei não permitia (permitirá algum dia?) a cobertura nacional para rádios privadas, monopólio da RNA. Nada mais legítimo como argumento para um governo que, pelo que a própria igreja católica dizia, via-se incomodado face à "aguçada" crítica social na linha editorial da 97.5 FM em Luanda. Mas lá insistia o "poder" católico na ideia de uniformizar a emissão com estúdios montados nas províncias do Cunene, Benguela, Huambo, Huila, e Kwanza-Sul. Ilusão somente, o resto foi ver o jardim transformar-se em capim, algumas janelas com vidros quebrados, enfim, com a evidente degradação do equipamento. Seguiram-se momentos críticos envolvendo o então ministro da Comunicação Social, Hendrik Vaal Neto, que chegou a classificar de "terrorismo de antena" o trabalho da Ecclesia, na altura com proeminentes vozes, tais como Mário Vaz, Benedito Joaquim, João Pinto, para só citar estes.
O que não entendíamos, nós jovens motivados a práticar as habilidades desenvolvidas nas sessões de capacitação off the record, era o seguinte: não seria mais inteligente da parte da igreja aceitar a abertura de rádios diocesanas (provinciais/locais), que era o que a lei permitia, para, muito mais tarde se possível, retomar o assunto da uniformização? É que, perante as acusações que a própria igreja fazia de falta de vontade política da parte de quem de direito, não se podia ignorar a máxima "as grandes vitórias sociais são um somatório de pequenas conquistas" em busca de uma meta distante. Embora entendível a subjacente vantagem de emissão nacional, no sentido de evitar muitos gastos com recursos humanos, era no entanto muito pouco provável que se conseguisse tal alteração na lei. Não sabemos o que achavam os doadores do projecto (falava-se em Trocaire), mas lá veio o tempo dar razão aos que pensavam como nós, "os leigos"...
Portanto, não foi surpresa nenhuma a notícia. Seis anos depois, a igreja entendeu esclarecer o óbvio. Não ignorando a possibilidade de haver outras nuances e confidências de parte a parte neste processo, vale contudo realçar que, no que à negociação diz respeito, ser flexível em certas circunstâncias é válida estratégia..
Aberto a pedradas...
Gociante Patissa, Benguela 17/03/2010
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Óbvio, como o amigo Patissa bem o diz. Em Moçambique há muito que os católicos contornaram o "obstáculo". Abrir emissoras diocesanas permite criar mais postos de trabalho, fazer com que as próprias "ECclésias" falem do que se passa nas suas circunscrições em vez da centralização em Luanda, entre outras vantagens. A única 10vantagem pode ser a falta de dinheiro para suprir as despesas com as rádios, mas "quem não tem unhas não sobe à pedra".
Valeu teu contributo, amigo Canhanga. Agora é mãos à obra com as benditas rádios diocesanas!
Abraços
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