A música irrompe em trombetas pelas veias do prédio e da paciência. Como pode uma rua inteira de Luanda sucumbir noite após noite, sem um reparo, sem uma multidão em pijama à porta da discoteca exigindo o direito ao descanso. Que brandos costumes são estes que limitam a mais elementar necessidade?
Por: Maria S. Martins maria.martins@edicenter-angola.com
Quinta-feira
São 22:00h e estou enrolada no sono. Entorpecida pelos ruídos domésticos da vizinhança. Uma porta que range, um passo mais pesado. No entanto, os meus sentidos vão-se esfumando num doce embalo.
De repente, como que um trovão, como se uma tempestade eufórica, surgida de um qualquer apocalipse, rebenta a música. Estremeço, salto da cama, espreito a janela. Na discoteca ao lado do prédio, “baptizada” por Cervantes, dragões emanam gritos de sons e palavras.
São 7:00h, consumidas de olheiras e cansaço. O despertador já tocou e são horas de enfrentar o trânsito a caminho do trabalho. A música pára, depois dos últimos acordes.
Sexta-feira
São 22:00h. Exausta da noite branca havida na véspera, escondo-me nos lençóis brancos e frescos da minha cama. Dormir, pousar as tarefas do dia, partir para os sonhos e poder acordar tarde no dia seguinte, pausa de trabalho. A cabeça na almofada, os olhos a cerrarem-se num afago.
O monstro sacode a cama, sacode-me o sono, sacode a rua inteira, com uma enxurrada de som, que arrasta tudo no seu caminho impiedoso. É a festa, alegria dos foliões da discoteca ao lado da casa, com certeza possuídos por tamanho ribombar das colunas colocadas ao vento e ao cacimbo.
São 7:00h. A música cala-se. Apitam os carros que querem sair e estão tapados pelos retardatários da última cerveja. Trocam-se insultos na rua, discutem-se as última palavras com sabor a vapores etílicos.
Sábado
São 22:00h. O corpo pesa-me, a cabeça baralha-me os sentidos, os olhos debruçam-se debaixo das pálpebras. A cama apetece-me, o sono torna-se autoritário. Deixo-me cair literalmente sobre os lençóis.
Os sons despertam-me. São violentos, são socos nas paredes, no espaço, nos vidros que estremecem. Desesperada, agarro a almofada e tento a sala, o corredor, mas o som é persistente, agreste, guerreiro. Tombo no sofá da sala, enroscada sobre mim mesma, com raiva, com desespero.
São 7:00h. O silêncio final da música, se assim se pode chamar, distorcida, arrogante, impiedosa, calou os sons dos carros, das brigas matinais, de tudo. Adormeço, enfim. Esqueço o programa de fim-de-semana, os amigos. Só quero que me deixem o sono.
Domingo
São 22:00h. Prevejo o destino imediato, como uma morte anunciada. Não erro. A música irrompe em trombetas pelas veias do prédio. Como pode uma rua inteira de Luanda sucumbir noite após noite, sem um reparo, sem uma multidão em pijama à porta da discoteca exigindo o direito ao descanso. Que brandos costumes são estes que limitam a mais elementar necessidade?
São 7:00h. Entro no carro para mais uma travessia da cidade rumo ao local de trabalho. Só peço que ninguém me dia bom-dia.
Quinta-feira
São 22:00h e estou enrolada no sono. Entorpecida pelos ruídos domésticos da vizinhança. Uma porta que range, um passo mais pesado. No entanto, os meus sentidos vão-se esfumando num doce embalo.
De repente, como que um trovão, como se uma tempestade eufórica, surgida de um qualquer apocalipse, rebenta a música…
São 22:00h e estou enrolada no sono. Entorpecida pelos ruídos domésticos da vizinhança. Uma porta que range, um passo mais pesado. No entanto, os meus sentidos vão-se esfumando num doce embalo.
De repente, como que um trovão, como se uma tempestade eufórica, surgida de um qualquer apocalipse, rebenta a música. Estremeço, salto da cama, espreito a janela. Na discoteca ao lado do prédio, “baptizada” por Cervantes, dragões emanam gritos de sons e palavras.
São 7:00h, consumidas de olheiras e cansaço. O despertador já tocou e são horas de enfrentar o trânsito a caminho do trabalho. A música pára, depois dos últimos acordes.
Sexta-feira
São 22:00h. Exausta da noite branca havida na véspera, escondo-me nos lençóis brancos e frescos da minha cama. Dormir, pousar as tarefas do dia, partir para os sonhos e poder acordar tarde no dia seguinte, pausa de trabalho. A cabeça na almofada, os olhos a cerrarem-se num afago.
O monstro sacode a cama, sacode-me o sono, sacode a rua inteira, com uma enxurrada de som, que arrasta tudo no seu caminho impiedoso. É a festa, alegria dos foliões da discoteca ao lado da casa, com certeza possuídos por tamanho ribombar das colunas colocadas ao vento e ao cacimbo.
São 7:00h. A música cala-se. Apitam os carros que querem sair e estão tapados pelos retardatários da última cerveja. Trocam-se insultos na rua, discutem-se as última palavras com sabor a vapores etílicos.
Sábado
São 22:00h. O corpo pesa-me, a cabeça baralha-me os sentidos, os olhos debruçam-se debaixo das pálpebras. A cama apetece-me, o sono torna-se autoritário. Deixo-me cair literalmente sobre os lençóis.
Os sons despertam-me. São violentos, são socos nas paredes, no espaço, nos vidros que estremecem. Desesperada, agarro a almofada e tento a sala, o corredor, mas o som é persistente, agreste, guerreiro. Tombo no sofá da sala, enroscada sobre mim mesma, com raiva, com desespero.
São 7:00h. O silêncio final da música, se assim se pode chamar, distorcida, arrogante, impiedosa, calou os sons dos carros, das brigas matinais, de tudo. Adormeço, enfim. Esqueço o programa de fim-de-semana, os amigos. Só quero que me deixem o sono.
Domingo
São 22:00h. Prevejo o destino imediato, como uma morte anunciada. Não erro. A música irrompe em trombetas pelas veias do prédio. Como pode uma rua inteira de Luanda sucumbir noite após noite, sem um reparo, sem uma multidão em pijama à porta da discoteca exigindo o direito ao descanso. Que brandos costumes são estes que limitam a mais elementar necessidade?
São 7:00h. Entro no carro para mais uma travessia da cidade rumo ao local de trabalho. Só peço que ninguém me dia bom-dia.
Quinta-feira
São 22:00h e estou enrolada no sono. Entorpecida pelos ruídos domésticos da vizinhança. Uma porta que range, um passo mais pesado. No entanto, os meus sentidos vão-se esfumando num doce embalo.
De repente, como que um trovão, como se uma tempestade eufórica, surgida de um qualquer apocalipse, rebenta a música…
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