A Tri-Xu produções, uma referência obrigatória no mercado de promoção de espectáculos em Benguela e não só, vem provar que o lucro vence a virtude. Pela segunda vez realizou o concurso "Bumbum Dourado" (traseiro mais “apetecível”), para o delírio dos amantes da disbunda. Contudo, tal não comprometerá (ainda) o carinho conquistado através de iniciativas louváveis já demonstradas, como a liderança de campanhas de solidariedade, a exemplo do que se deu com uma menina evacuada para o exterior do país por problemas com o coração.
De resto, sem querer impor como objectivo a promoção de caridade, nem querer que os promotores de eventos façam papel do Governo, ainda assim muita coisa construtiva há a promover, que até custaria menos de 10 mil dólares norte americanos ou uma viatura, que foi o quanto se gastou nas duas edições. E de projecção, a organização não ganharia menos.
De resto, sem querer impor como objectivo a promoção de caridade, nem querer que os promotores de eventos façam papel do Governo, ainda assim muita coisa construtiva há a promover, que até custaria menos de 10 mil dólares norte americanos ou uma viatura, que foi o quanto se gastou nas duas edições. E de projecção, a organização não ganharia menos.
Até porque “Bumbum Dourado”, como festa temática não tem nem de original (estamos fartos de vê-lo no Domingão do Faustão, que figura entre o que de pior o Brasil exporta), nem de construtivo (puro ingrediente da futilidade, tendência “contagiosa” da nossa juventude e não só). “Ser” já não está na moda, o que vale mesmo é “ter, aparentar, dar que falar”.
«Se o outro trouxe “Ferrari”, por que é que não posso trazer um “Lamborgini”?», desafiava em alto e bom-tom um conhecido comerciante do Lobito, enquanto aguardava pelo pequeno-almoço na “Pastelaria Áurea”, naquela cidade ferro-portuária. Bom, não sendo proibido (nem por lei nem por tradição) o acto de sonhar, e sendo descabido nos termos da construção social discutir gostos, por mais bizarros que possam parecer, tanto o “Lamborgini” como o “Ferrari”, trazidos para uma realidade como as estradas de Benguela, parecem extremismos de ostentação.
Moralismos à parte, gosto de admirar a beleza feminina sempre que tenho a oportunidade. A sensualidade é linda e está espalhada por toda a anatomia quer do homem, quer da mulher. Agora, partir para o culto ao “cú”? Isso até parece aquela cena “pitoresca” de uma tal comunidade indiana que faz culto ao pénis, manifestação que inclui marcha pública com estátuas e cartazes visualizando o “sagrado veículo” masculino!
Bom, não vale aqui crucificar quem promove, porque, hoje, nenhuma sociedade progride sem o auxílio da iniciativa privada. O Tri-Xú, como qualquer outro promotor, está de olhos no lucro, investindo para convencer e, merecidamente, usufruir da adesão. Quem quiser participar da festa, paga! E, tanto estamos em presença do livre arbítrio, como dentro do que a lei permite (já a moral não sei tanto!). Para mais, é sensato constatar que a “doença” é da sociedade “materialista e sexista”, que tende a transformar tudo em objecto descartável do prazer, até pessoas, por conta da “glob(e)lização”!
Mas até quando, nós africanos, andaremos a promover, ainda que inconscientemente, atractivos que mais não fazem do que reforçar o estereótipo de que o “negro nasceu para o sexo, futebol e música?»
Os concursos de Miss, no que à história de Angola diz respeito, já deram vergonhas e escândalos que sobram. É ministro que tentou a menina, é o empresário que não dá patrocínio sem “tocar lá”, é comité que anula o título de quem se diz denunciar assédio sexual. Como ironiza um amigo, todos almejam possuir o “trofeuzinho milagroso” que faz de alguém “a mulher mais bonita do país”. Afinal, já se viu quase tudo, mesmo!
Claro está que entre “mostrar” e partir para o acto há uma ponte chamada “consentir/deixar, aceitar”. E como dizia uma amiga italiana, pessoa nenhuma tem culpa de ter sensualidade. Já agora acrescentando, é dever da pessoa escolher entre o essencial e o acessório quanto ao que quer vender como identidade/valor individual. Também é verdade que a eternização dos tabus em relação à sexualidade está longe de ser virtude, porém não é tão negativa como banalizar o sentido de pudor e o respeito pelo próprio corpo.
Lembro-me bem do desconforto de um conterrâneo nosso por causa de um elogio, que para muitas das “nossas” raparigas até soaria “doce”. Aliás, quantas não abanariam ainda mais o traseiro, mesmo num grupo coral de igreja, (exagero à parte) diante de tal galanteio? – terá pensado erradamente.
«Tu és sexy», disse ele a uma americana que mal conhecia, e a reacção não podia ser mais amarga. Quando indagamos o que havia de negativo na “cortesia” do rapaz foi então que a moça argumentou: «when someone says that you’re sexy, it means he wants to have sex with you» (quando alguém diz que você é sexy, diz por outras palavras que quer ir à cama consigo).
De facto, se investíssemos mais no intelecto e se esse fosse premiado, talvez olhássemos às pessoas mais nos olhos (perceber a beleza interior) e menos nas nádegas (ver sexo em tudo). Será a expressão sexual o que a mulher angolana deve exibir como sendo “valor comum”? Será isso o que a (já falecida) Lurdes Van-dúnem queria dizer com a sua música «Vale a pena ser mulher»? Atrevo-me a dizer que NÃO, NÃO, NÃO!!!
Mas esta é (apenas) a minha opinião. Por favor, não deixe de comentar.
Gociante Patissa, Restinga, Lobito, 25 Abril 2008
3 Deixe o seu comentário:
Caro Patissa,
Falei sobre a tua escrita ao Ismael Mateus e ele mostrou interesse em conhecer-te, pelo menos virtualmente.
Dei-lhe o endereço do teu blog que ele prometeu ler e analisar.
Estou a passar apressado por esta pag. Li o texto e voltarei a ler para um comment mais ao encontro do conteúdo.
Um abraço
Meu caro. Estou por cá mesmo e um tanto ocupado por isso a minha ausência peo blog, mas com ideias prontas p blogar. Se viu uma capa é possível porque sou designer e publicitário... Montei a minha própria empresa EdM Comuicação e design pois fiz publicidade e marketing no Rio de Janeiro e agora aprovito os conhecimentos para trabalhar para os meus 3 patrões (entenda-se filhos).
Obrigado pela visita e qto a este texto só vem dar razão ao que sempre chamo da Mbundalização da música. prometo voltar a ler e comentar... 1 abs...
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