Depois de ter resistido a sucessivos acenos de responsáveis dos órgãos de informação estatais, o radialista João Pinto (JP), uma peça chave da Emissora Católica de Angola, está finalmente de malas feitas para a Televisão Pública de Angola (Tpa), conforme apurou o Semanário Angolense.
A posição do radialista, que abre um enorme rombo naquela estação radiofónica, é dada como irreversível, estando consumada a sua disponibilidade para integrar inicialmente a equipa que compõe a Direcção de Programas da única televisão do país, ao serviço da qual poderá apresentar-se já na próxima segunda-feira, 21.
Um dos factores que concorreram para a saída imediata foi a inexistência de um contrato de trabalho entre o jornalista e a Rádio Ecclésia há quase um ano. Durante os últimos 10 meses, JP trabalhou sem nenhum acordo e tentou, por diversas vezes, fazer uma aproximação com a actual equipa directiva da emissora dirigida pelo padre Maurício Camutu. Tanto o sacerdote quanto os seus coadjutores ter-se-ão fechado em copas, de acordo com informações avançadas pelas nossas fontes. Inconformados com a posição tomada pelo colega, que se notabilizou nos debates de sábado e nos fóruns matinais de 4ª feira ao lado do padre Luís Konjimbe, outros jornalistas da Ecclesia ainda tentaram persuadi-lo a recuar, como o fizeram em ocasiões anteriores.
Mas desta vez era tarde de mais… «Temos plena certeza que se a direcção tivesse renegociado o contrato, João Pinto teria permanecido na rádio e não iria à Tpa, como aconteceu agora. O que se passa é que, ao contrário daquilo que pessoas como o bispo Anastácio Kahango têm dito, a direcção da Ecclesia parece mais interessada em sufocar os trabalhadores obrigando-os a abandonarem os seus postos de trabalho», desabafou um radialista da casa.
Durante os mais de 10 anos em que esteve ligado à rádio, JP viu partir vários colegas seus, mas manteve-se sempre fiel ao projecto. Inicialmente, numa fase em que os destinos da Ecclesia repousavam nas mãos do padre António Jaka, actual bispo de Caxito, ele testemunhou, de uma só vez, a saída de jornalistas como Herculano Coroado, Paulo Julião, Emanuel da Mata, Amélia Aguiar, Cristiano Barros, Carla Castro, Mário Vaz, Carlos Veiga, Claudeth Rocha, Neto Júnior e outros. Já sob os auspícios de frei José Paulo (actualmente na fundação Open Society), que está desolado com a saída do antigo pupilo, outros quadros, entre os quais Fátima Neto, António de Sousa, Zacarias Bungo e Victor Hugo Mendes, também «tiraram o pé», mas, como sempre, JP preferiu ver a caravana passar.
Pouco depois alguns dos principais integrantes da equipa que dirigia na rádio, como Alexandre Kose, Benedito Joaquim, Gabriel Veloso e Francisco Miguel, também decidiram saltar do barco. Até mesmo o jornalista Gustavo Silva, um antigo quadro desta emissora «repescado» da Tpa para devolver a mística à «Rádio de Confiança», bateu igualmente com à porta.
Gustavo não foi sozinho e tratou de levar consigo alguns dos seus colaboradores directos, entre os quais se encontram os dois principais repórteres do programa matinal «Bom Dia Angola», da Tpa: Alexandre Kose e Benedito Joaquim. O rombo aberto pela saída de JP da Ecclesia leva, mais uma vez, a que as pessoas se interroguem sobre o que estará na origem dessa sangria. Devido ao facto de quase todos os antigos funcionários da emissora terem ingressado em órgãos estatais, nomeadamente a Rádio Nacional de Angola e a Televisão Pública, a tendência inicial foi para corroborar a tese segundo a qual se trataria de uma mega-operação urdida pelo Mpla para enfraquecer, se não mesmo silenciar, a emissora católica.
Porém, o tempo tem-se encarregado de demonstrar que o mau ambiente de trabalho e a péssima remuneração têm sido responsáveis pela «fuga de cérebros» que se assiste na rua comandante Bula. Há quem acrescente que as sucessivas demonstrações de falta de solidariedade dos responsáveis da Igreja Católica para com os profissionais da emissora em momentos de diferendo com o poder, também tenham sido determinantes para a decisão tomada por muitos radialistas da casa, entre os quais o próprio João Pinto. Nos últimos meses, tanto D. Anastácio Kahango, bispo auxiliar de Luanda, como D. Zacarias Kamuenho, bispo do Lubango, tiveram posições que causaram um mal-estar generalizado na redacção da emissora católica e nos seus colaboradores nas províncias.
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O Colega defendeu uma causa. O seu esforço devia ser compensado, o que julgo não ter acontecido... O materialismo leva-nos, às vezes, a pensar na barriga e no futuro dos rebentos. Uma reforma na função pública ou empresa pública é sempre menos conflituosa... Força aos que ficaram e boa caminhada ao JP.
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