23 horas de uma quinta-feira. Na rádio, locutor (voz adulta, amadurecida, grave, dicção impecável em português) anuncia lista de ouvintes que ganharam ingressos para um evento e que os devem levantar no dia seguinte. Um deles atende pelo sobrenome Tchikoko - em Umbundu, capacete. O locutor prossegue. Chikoko ou chikókolo? Até lembra a palavra cocó, conclui ele. Ri-se. Depois acrescenta: brincadeira, porque somos uma criança. A cidade é Luanda, espaço sociolinguístico e sociopolítico que se acredita e se define a si próprio como não tendo sotaque no seu português, ao contrário "das províncias" (subjacente a isso a influência/interferência das línguas de origem africana). Brincadeiras há muitas, mas o facto de associar logo a cocó o nome de alguém arraigado numa língua que o locutor não domina, sem que em nenhum momento indagasse qual seria o significado na onomástica Bantu, já parece dizer muito sobre o mundo cultural do fino locutor. Neste caso, a julgar pela sua infeliz actuação, locutor de cocó.
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