Oito horas e pobres minutos. LIMATAPALO, empresa de construção civil. No
escritório, o telemóvel do patrão toca.
— Bom dia, Boss!
— Bom dia, Ataíde! Está tudo bem?
— Estar até está, Boss! Mas...
— Deixe-me tomar notas para depois fazer o enquadramento legal do seu caso.
— Está bem, Boss.
O papel mais próximo estava empoeirado. A senhora da limpeza ainda não tinha chegado. O patrão sofre de sinusite. Chamou o segurança para dar um jeito. Que jeito? Deitar fora o papel empoeirado, sem levantar poeira, e tirar outro da caixa. Pelo menos toma apontamentos no papel, não na tela.
— Está aí, Ataíde?
— Estou sim, Boss! Aqui a rede não cai.
— Diga lá o que se passa?
— Boss, a páscoa não me poupou!
— Mas, ó Ataíde...
— Boss, é que...
— Ataíde, deixe-me acabar o raciocínio.
— Pode falar, Boss!
— Cristo é que foi espancado, você é que falta ao trabalho, ainda mais hoje que encontramos vestígios de delapidação?
— Boss, na nossa empresa tem máquina de lapidação?
— Esqueça isso, explique o que se passa.
— O Boss sabe que Jesus foi crucificado no meio de dois ladrões, não sabe?
— Sei. Inclusive, um deles foi você.
— Sim, Boss! Aquele que foi salvo na cruz! Assim mesmo, estou a ligar a partir do paraíso para dizer que não preciso mais do emprego.
Silêncio. Silêncio total. Total silêncio. Total.
— Está aí, Boss? Pode fazer enquadramento legal do meu caso?
21.04.25.XXI.08.39
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