| por José Maria | |
Em nome do bom senso, permitam-me, digníssimos detentores da verdade e da inquisição alheia, que eu faça a devida e glamorosa data vénia a este ser, que de forma serena e com a dócil voz roubou furtando, como diria o jurisconsulto especialista em neologismo, o meu pobre e nobre coração, coração de um descendente congolês, sem voz e retornado na rica vila petrolífera do Soyo.
Espero que este trecho, fruto da minha já conhecida ignorância académica, encontre a destinatária a gozar de uma tórrida e exaustiva felicidade. Ao escrever este pequeno texto, na verdade, não escrevo, uma vez que sou um simples analfabeto, membro fundador do clube dos analfabetos funcionais da minha Vila. E não atribuo a dose de culpa à guerra fratricida, como muitos o fazem para se desculparem das suas andanças pelo mundo da pastorícia púbica, na ausência do domínio da arte do bem escrever.
Não me considero nem sou um intelectual, ando longe de ser um galã à imagem e figurino do Fredy Costa, tive contudo a honra de ser abençoado, mesmo sendo um “FEIO ACEITÁVEL” (rindo de mansinho), e namorar a mais bela e cobiçada jovem da Universidade Metodista de Angola.
Neste exacto momento em que faço um passeio utópico sobre a minha inerte cognitividade, bem em frente de uma Capela da mentoria da John Wesley, enfrentando o frio, dou sentido à lei de Luís Vaz De Camões: “O amor é o fogo que arde sem se ver”. Já agora, invertendo e num contexto bem actual diria que “o amor é o frio que eu sinto” esperando a amada com apenas 200 Kwanzas no bolso para o táxi de regresso à casa. “Não faço por obrigação”; é por amor, por saudade. Faço-o pelos parcos dias vida que cada alma tem cá na terra. Porque recuso o arrependimento de não ter vivido com intensidade.
Ainda não tenho a infinitude dos bens imobiliários e mobiliários para a oferecer, tenho comigo agora apenas o sentido de protecção e o amor genuíno acreditando sempre que o amanhã será bem melhor. Basta apenas que eu seja íntegro e sempre honesto, o resto o universo trará por acréscimo. Sentado e gerenciando o frio, vou rezando para que Deus a capacite e dissipe todos os tipos de dúvidas e incertezas no momento em que ela estiver a fazer a prova de Ética e Deontologia Profissional. Peço as minhas humildes e sinceras desculpas, não irei dar desfecho esta carta, ela estará aberta para possíveis acréscimos.
Despeço-me com a voz e as mãos doridas devido ao frio da baixa do Kinaxixi.
José Maria, Luanda, 22 de Julho de 2022
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