"SÔ AGENTE! SÔ AGENTE!!! Responde só já o outro, meu irmão. Não fica mais ignorante…”
“Mas que atrevimento é esse?! Tu conheces as minhas habilitações? Vai chamar ignorante ao teu pai, faço-me entender?!"
“Mas, ó chefe, até falei com boas maneiras. É de se ofender mais dos pais?..."
“Você tem noção das suas palavras?”
“Mas assim então, (nessa vida é bom perguntar para aprender, né?) onde é que me expressei mal? Só falei não me ignora mais, faz favor..."
“Não foi isso que você disse! Falaste ‘Não fica mais ignorante’”… Quer dizer, viste que é polícia, é porque não estudou, né?!”
“Oh, afinal o ignorante e aquele que ignora não é a mesma coisa? Vai-me desculpar, sô agente!"
“Aprendam bem o português, Ok?!”
“O português é traiçoeiro. Está a ver só, meu irmão? A pessoa ia só mesmo levar chapadas à toa, é no tal funeral do Camões que já não fomos…”
“Mas que atrevimento é esse?! Tu conheces as minhas habilitações? Vai chamar ignorante ao teu pai, faço-me entender?!"
“Mas, ó chefe, até falei com boas maneiras. É de se ofender mais dos pais?..."
“Você tem noção das suas palavras?”
“Mas assim então, (nessa vida é bom perguntar para aprender, né?) onde é que me expressei mal? Só falei não me ignora mais, faz favor..."
“Não foi isso que você disse! Falaste ‘Não fica mais ignorante’”… Quer dizer, viste que é polícia, é porque não estudou, né?!”
“Oh, afinal o ignorante e aquele que ignora não é a mesma coisa? Vai-me desculpar, sô agente!"
“Aprendam bem o português, Ok?!”
“O português é traiçoeiro. Está a ver só, meu irmão? A pessoa ia só mesmo levar chapadas à toa, é no tal funeral do Camões que já não fomos…”
(II)
“Pronto está desculpado. Mas também qual é a emergência afinal?!”
“É mesmo o Estado de Emergência, chefe!”
“Fez o quê?”
“O chefe está a ver aquele senhor aí de camisa azul? Vim fazer queixa contra o gajo…”
“Mas aqui no quintal do supermercado é para apresentar queixa?!”
“Ele ofendeu o Presidente da República…”
“João Lourenço mesmo? O nosso Comandante em Chefe?”
“É isso, chefe… Pode chamar só já o patrulheiro para lhe levarem em julgamento sumário…”
“Assim estás a sugerir ou a ordenar?! Mas ofendeu o Presidente? Falou o quê?”
“Por acaso não falou nada…”
“Escreveu o quê no facebook?”
“Não sei, chefe, não lhe vi no facebook dele…”
“Mas então ofendeu o Presidente no que tange a quê? Cantou RAP de insubordinação?”
“Não, chefe.”
“Filho da mãe! Mas você fumou cangonha ou o quê?! Não falas coisa com coisa, pá!”
“Me encostou meio metro... Quer estragar a minha quarentena...”
“E no quê que isso ofende o Comandante em Chefe?”
“Então eles não mandaram ficar em casa, lavar todo o dia as mãos com sabão, álcool gel e se dar distância? Esses dias nem namorar com as minhas pequenas estou a conseguir mais...”
“Pronto está desculpado. Mas também qual é a emergência afinal?!”
“É mesmo o Estado de Emergência, chefe!”
“Fez o quê?”
“O chefe está a ver aquele senhor aí de camisa azul? Vim fazer queixa contra o gajo…”
“Mas aqui no quintal do supermercado é para apresentar queixa?!”
“Ele ofendeu o Presidente da República…”
“João Lourenço mesmo? O nosso Comandante em Chefe?”
“É isso, chefe… Pode chamar só já o patrulheiro para lhe levarem em julgamento sumário…”
“Assim estás a sugerir ou a ordenar?! Mas ofendeu o Presidente? Falou o quê?”
“Por acaso não falou nada…”
“Escreveu o quê no facebook?”
“Não sei, chefe, não lhe vi no facebook dele…”
“Mas então ofendeu o Presidente no que tange a quê? Cantou RAP de insubordinação?”
“Não, chefe.”
“Filho da mãe! Mas você fumou cangonha ou o quê?! Não falas coisa com coisa, pá!”
“Me encostou meio metro... Quer estragar a minha quarentena...”
“E no quê que isso ofende o Comandante em Chefe?”
“Então eles não mandaram ficar em casa, lavar todo o dia as mãos com sabão, álcool gel e se dar distância? Esses dias nem namorar com as minhas pequenas estou a conseguir mais...”
(III)
“Ó CIDADÃO, TUDO BEM?”
“Boa tarde, senhor agente...”
“Recebi queixa de que o senhor furou as regras do Estado de Emergência... Procede?”
“Não, chefe. Eu estava na fila direita, aí olho assim, reconheci este aldrabão que me deve dinheiro e anda a me esquivar há cinco anos. Então tentei lhe cobrar...”
“Está a ver, sô agente? Na quarentena é de se cobrar?! A Ministra da saúde falou dois metros...”
“Isso é meu azar!!! E antes da quarentena pagaste o que deves? Agora se o Covid-19 te matar?”
“MAS O SENHOR ESTÁ OU NÃO A FALHAR COM A DÍVIDA ALHEIA?”
“Ele sabe que me deve, chefe. Anda a me fugir há anos. Está com truques. Hoje lhe reconheci.”
“Mas me reconheceste só porquê, se o outro está a usar máscara?”
“Boa tarde, senhor agente...”
“Recebi queixa de que o senhor furou as regras do Estado de Emergência... Procede?”
“Não, chefe. Eu estava na fila direita, aí olho assim, reconheci este aldrabão que me deve dinheiro e anda a me esquivar há cinco anos. Então tentei lhe cobrar...”
“Está a ver, sô agente? Na quarentena é de se cobrar?! A Ministra da saúde falou dois metros...”
“Isso é meu azar!!! E antes da quarentena pagaste o que deves? Agora se o Covid-19 te matar?”
“MAS O SENHOR ESTÁ OU NÃO A FALHAR COM A DÍVIDA ALHEIA?”
“Ele sabe que me deve, chefe. Anda a me fugir há anos. Está com truques. Hoje lhe reconheci.”
“Mas me reconheceste só porquê, se o outro está a usar máscara?”
Gociante Patissa | Benguela, 22 Abril 2020 | www.angodebates.blogspot.com
0 Deixe o seu comentário:
Enviar um comentário