Não é para já dos temas que me excitem o gosto. O governante e o empresário? Não é mesmo! É ténue a linha que divide os conceitos (se é que existe) no hodierno mwangolê. Um significa outro, e outro significa um. Até nem está previsto no básico princípio de tratar os assuntos iniciando pela definição dos factores … como diferenciar sinónimos?!
Permitam-me, ainda assim, isolar minhas preferências para partilhar convosco um insólito relato que nos foi contado por um colega de escola, ontem, enquanto decorria a borla.
É desculpar só mais uma (indispensável) divagação. Governar a província de Benguela é um desafio espinhoso, ou não se tratasse da “segunda capital” de facto do país. E houve nomes e mandatos que só de lembrar fazem mal à saúde mental. No entanto, pelo palácio da praia morena passaram alguns de quem as pessoas não se esquecem, uns pelo humanismo, outros pela brutalidade, havendo também quem tenha sabido combinar ambos num só consulado.
Continuando. Há algumas décadas já, certo governante recebeu em audiência um empresário. Presume-se que a audiência tenha decorrido efusivamente, numa feliz dosagem entre o feitio rústico do poderoso (um) e a energia atlética do poderoso (outro). – Desculpa, deu para destrinçar quem é governante, quem é o empresário?! Eu avisei…– Terão abordado tudo o que podia (ou talvez não), acabando por acertar uma data para visita às instalações fabris do empresário, a convite deste. “Teremos muito gosto em recebê-lo, camarada excelência”.
E… chegou o dia da visita, o camarada excelência lá todo ele aparentemente a entender o funcionamento das máquinas, num relato recheado com toda a deferência feita pelo próprio empresário. E o governante só a observar, de vez em quando depositando um elogio ao empreendedorismo do conterrâneo (o que, sendo ou não sincero, não é pecado, digamos).
No final da jornada, sua excelência o governante é surpreendido com (permitam-me especular) a mais cara mobília na montra. “É uma oferta nossa, camarada excelência, pelo seu esforço”. E o governante, sabe-se lá porquê, agradeceu a oferta com uma cara… só assim. E lá o empresário a se perguntar silenciosamente o que se passava na cabeça do governante que não mandava já chamar um camião para transportar.
Eis que, surpreendentemente, o governante mandou chamar o trabalhador mais antigo daquela fábrica e lhe ofereceu a mobília mais cara da montra, ironicamente oferta do patrão. “Em meu nome, leva esta mobília. É sua, por todo o suor que tem dedicado ao crescimento desta unidade de produção. Tu mereces”, teria dito mais ou menos nestas breves palavras.
Como disse, se vos conto isso, a culpa é dos colegas que decidiram ocupar a borla contando histórias e estórias insólitas sobre os bastidores da província de Benguela. Abraços!
Gociante Patissa, Benguela 11 Nov. 2009
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Patissa
Achei esta crónica deliciosa. Pelo desfecho insólito, pelo conteúdo da estória, pela maneira como tu a contas... Não pude deixar de esboçar um sorriso por esta "fotografia" tão actual...
Um beijo e bom fds.
Graça
Muito obrigado, amiga Graça, pela visita e pelo toque no ombro... "Tu mereces"! A foto na verdade é um flagrante da inundação da cidade por dificiência no sistema de drenagem, o que se repete a cada estação chuvosa (esta foi a do ano passado).
Uma vez mais ficam algumas flores das acácias rubras para ti!
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