O Blog Angodebates foi tentado a entrevistar um anónimo recordista das estradas do centro e sul de Angola, um trabalho que só agora nos é possível divulgar em função da recente avaria do nosso computador.
Há dois anos que Luís Xavier foi transferido para a província do Huambo, onde representa uma ONG. No entanto, tem a família na cidade de Benguela, o que o leva a enfrentar com certa frequência os cerca de 800 quilómetros de autocarro para matar as saudades. A sua mais recente vinda foi marcada por uma aventura, no sentido literal do termo. Luís decidiu fazer a viagem ao volante do triciclo motorizado Bajaj, adaptado para pessoas que, como ele, têm deficiência dos membros inferiores.
Há dois anos que Luís Xavier foi transferido para a província do Huambo, onde representa uma ONG. No entanto, tem a família na cidade de Benguela, o que o leva a enfrentar com certa frequência os cerca de 800 quilómetros de autocarro para matar as saudades. A sua mais recente vinda foi marcada por uma aventura, no sentido literal do termo. Luís decidiu fazer a viagem ao volante do triciclo motorizado Bajaj, adaptado para pessoas que, como ele, têm deficiência dos membros inferiores.
Angodebates: Sei que veio ao volante da sua motorizada. Porquê?
Luís: Às vezes é preciso também ser um pouco atrevido, imaginar que nós podemos chegar até onde queremos. Eu, antes de fazer este percurso, Huambo-Benguela, de Bajaj de três rodas, fiz um cálculo. Porque só a nível da cidade, as trajectórias que eu faço, até à tarde, em termos de quilometragem seria uma caminhada idêntica a Huambo-Benguela.
Angodebates: Matematicamente, foram quantos quilómetros?
Luís: A minha motorizada já não está marcar a quilometragem, mas por aquilo que me apercebi, do Huambo ao Balombo são 170 quilómetros, do Balombo da Benguela são 160 quilómetros. E eu parti às 5h do Huambo, às 9h estava no Balombo, tive que descansar umas duas horas para não esforçar muito a motorizada. Às 12h30 continuei a caminhada. Como o troço Balombo-Amela ainda tem problemas, gastei quase três horas. O troço ali está muito mal. Entrei no Lobito deviam ser 17h. Se não fosse o troço que está mal, entraria por volta das 15h.
Angodebates: Em termos de combustível, quantas vezes teve de abastecer?
Luís: Abasteci no Balombo [10 litros de gasolina], mas, na altura, a motorizada ainda não tinha pedido reserva, ainda poderia andar até ao Bocoio [50km aproximadamente]. Atestei o depósito e a motorizada só começou a dar sinal a 30 metros da minha casa [cidade de Benguela]. Como a motorizada ainda é nova, o carburador é novo, não consome muito combustível.
De referir que os triciclos motorizados Bajaj, de origem indiana, surgiram com certa mediatização há seis anos na província de Benguela. Faziam serviço de moto-taxi nas cidades de Lobito e Benguela, sob gestão da Cooperativa de Pessoas Portadoras de Deficiência, iniciativa do projecto “Dignidade”, implementado pela Lardef (Liga de Apoio e reintegração dos deficientes).
Habituado a bater-se pelo direito à dignidade das pessoas com deficiência, Luís vê na viagem um motivo de intervenção social. «Na verdade, muitas [são]as pessoas que não estão a acreditar que vim de motorizada. Normalmente, as pessoas olham para essas motorizadas e, logo, a primeira coisa é reparar a pessoa que está a conduzir a motorizada. E olhar para onde? Para os seus pés. Quem está a conduzir esta motorizada. E vêm logo, “ah, é uma pessoa que tem deficiência”, e só depois é que olham para a motorizada. Naquele grau que diminuem na pessoa com deficiência, diminuem também o próprio meio que é conduzido pela pessoa com deficiência. Eu vim e foi bom!»
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Gociante Patissa, Benguela 2009
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"É preciso ser atrevido" mesmo :) Entrevista muito interessante.
A alguns anos atrás alguns Bajaj foram importados para o Brasil mas não tiveram tanto sucesso comercial. O mercado brasileiro ainda é um tanto refratário aos triciclos no transporte de passageiros mas na minha cidade (Porto Alegre) até há uma quantidade considerável de triciclos para transporte de carga, a maioria adaptados a partir de motocicletas Honda.
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