Ó primo, mas então já não te falei do quanto gostava de te escrever umas mukandas?! Sei que não és doente profissional, como muita gente que anda a abandalhar mortalmente os doentes nos bancos de urgência, por isso acho que te lembras daquilo que te confessei: eu preferia mesmo era o tempo do correio postal, de envelopes e lamber selos… aquilo é que era correspondência!!! Cá por mim dispensava essas cartas inertes, sem assinatura nem suor, que voces chamam de e-mails ou o raio que o parta. Ja sei o que te passa essa hora pela cabeça, deves estar a dizer o primo é um gajo de tabus, não é isso?!
Aliás, já é sintomático. Tudo que é debate, análise ou reflexão sobre os problemas cá da nossa África tem sempre um repetitivo paradigma. Causa dos problemas: tabu. Consequência: perpetuação dos tabus. Dessa forma, pensar e falar África gravita em torno de tabús, o que volta e meia derrama conotação negativa, através da generalização, sobre alguns dos aspectos mais sagrados da nossa cultura. Se às nossas raparigas era ensinado que mostrar o umbigo era feio, o rótulo é imediato: é tabu; mas ninguém realça que a moral da coisa era evitar que se andasse por aí a mostrar pêlos púbicos, de si um disparate explícito.
Ora, primo, não vais gostar desse meu teorematizar, você até dirá que há um certo excesso de exagero. Mas as nossas mukandas sempre foram assim – tanto que te chamo tu ou você sem makas – e hoje não me escapas nessa de tabu. Ora vejamos o que nos diz o dicionário sobre essa palavra: «Restrição ou proibição imposta por tradição, costume ou religião».
Não seria também necessário trazermos à reflexão a lógica da dialéctica? Ou seja, tanto podem existir tabus bons ou maus tabus.
Por outro lado, primo, nessa coisa de glob(e)lização, agora temos que falar só o que anda na moda? Assim também, não! Então nada mais nosso existe? Agora temos que sair por aí a apoiar iniciativas, como “bumbum dourado” (entenda-se o cú mais ousado quando abanado), uma importação enlatada do Brasil? Que o dinheiro do prémio (USD 10 mil) não é nosso, isso já sabemos, agora, temos que olhar para o outro lado com medo do rótulo tabu?
É verdade que em certas circunstâncias a ignorância se confunde com tabú. E como numa situação de ignorância tudo se pode esperar, são usuais relatos de violência de toda ordem. Mas, desculpa lá, primo, como é que a violência é para cá chamada? Claro, já me lembro:
Já esqueceste o responsável da única loja do povo, que deu sova até partir a bacia pélvica a uma senhora só porque esta lhe pediu namoro? Finais da cada de 80, na comuna da Equimina, município da Baia Farta. Aposto que hoje a reacção do homem seria diferente, afinal todos sentem, todos desejam a partir de certa idade. E é isso que os pais não têm conseguido transmitir no seio familiar, falar da sexualidade. E não sou o único que pensa assim, primo, juro mesmo!
Mas e os filhos?
Estávamos na clínica (minha mãe, eu, mais uma senhora e sua criancinha). Aproveito a distracção da minha mãe para sacar umas camisinhas expostas sobre a mesinha, de mansinho para não me ver porque, eu que até sou activista pela mudança social, afinal não saberia explicar à própria mãe o que é “condom” e para que serve. Bastante desinibida, a senhora, que nunca vi mais gorda, diz: “é melhor escolher esse tipo, há outros que dão alergia”. Admirei! Mas, vendo bem, eu tenho “azar”: já no outro dia, no supermercado, certa jovem me sugeriu para escolher um tipo de cuecas, assim mesmo: “o meu marido, que é maior que você, usa número tal”.
O mundo mudou, primo, neste caso para melhor sempre que se abordem questões “sensiveis” com a devida sobriedade verbal (ou saíamos a chamar “sovaco” às axilas). Assim falei tabú?
Gociante Patissa, Benguela 6 Julho 2009
Aliás, já é sintomático. Tudo que é debate, análise ou reflexão sobre os problemas cá da nossa África tem sempre um repetitivo paradigma. Causa dos problemas: tabu. Consequência: perpetuação dos tabus. Dessa forma, pensar e falar África gravita em torno de tabús, o que volta e meia derrama conotação negativa, através da generalização, sobre alguns dos aspectos mais sagrados da nossa cultura. Se às nossas raparigas era ensinado que mostrar o umbigo era feio, o rótulo é imediato: é tabu; mas ninguém realça que a moral da coisa era evitar que se andasse por aí a mostrar pêlos púbicos, de si um disparate explícito.
Ora, primo, não vais gostar desse meu teorematizar, você até dirá que há um certo excesso de exagero. Mas as nossas mukandas sempre foram assim – tanto que te chamo tu ou você sem makas – e hoje não me escapas nessa de tabu. Ora vejamos o que nos diz o dicionário sobre essa palavra: «Restrição ou proibição imposta por tradição, costume ou religião».
Não seria também necessário trazermos à reflexão a lógica da dialéctica? Ou seja, tanto podem existir tabus bons ou maus tabus.
Por outro lado, primo, nessa coisa de glob(e)lização, agora temos que falar só o que anda na moda? Assim também, não! Então nada mais nosso existe? Agora temos que sair por aí a apoiar iniciativas, como “bumbum dourado” (entenda-se o cú mais ousado quando abanado), uma importação enlatada do Brasil? Que o dinheiro do prémio (USD 10 mil) não é nosso, isso já sabemos, agora, temos que olhar para o outro lado com medo do rótulo tabu?
É verdade que em certas circunstâncias a ignorância se confunde com tabú. E como numa situação de ignorância tudo se pode esperar, são usuais relatos de violência de toda ordem. Mas, desculpa lá, primo, como é que a violência é para cá chamada? Claro, já me lembro:
Já esqueceste o responsável da única loja do povo, que deu sova até partir a bacia pélvica a uma senhora só porque esta lhe pediu namoro? Finais da cada de 80, na comuna da Equimina, município da Baia Farta. Aposto que hoje a reacção do homem seria diferente, afinal todos sentem, todos desejam a partir de certa idade. E é isso que os pais não têm conseguido transmitir no seio familiar, falar da sexualidade. E não sou o único que pensa assim, primo, juro mesmo!
Mas e os filhos?
Estávamos na clínica (minha mãe, eu, mais uma senhora e sua criancinha). Aproveito a distracção da minha mãe para sacar umas camisinhas expostas sobre a mesinha, de mansinho para não me ver porque, eu que até sou activista pela mudança social, afinal não saberia explicar à própria mãe o que é “condom” e para que serve. Bastante desinibida, a senhora, que nunca vi mais gorda, diz: “é melhor escolher esse tipo, há outros que dão alergia”. Admirei! Mas, vendo bem, eu tenho “azar”: já no outro dia, no supermercado, certa jovem me sugeriu para escolher um tipo de cuecas, assim mesmo: “o meu marido, que é maior que você, usa número tal”.
O mundo mudou, primo, neste caso para melhor sempre que se abordem questões “sensiveis” com a devida sobriedade verbal (ou saíamos a chamar “sovaco” às axilas). Assim falei tabú?
Gociante Patissa, Benguela 6 Julho 2009
2 Deixe o seu comentário:
Meu querido Patissa, o que me fizeste rir com as intromissões alheias das camisinhas e cuecas ehehe
Fez-me lembrar este episódio:
http://quiromancias.blogspot.com/2008/10/da-gesto-do-acondicionamento-de-itens.html
kandandus, muitos,
kanu
Oi, Kanu, obrigado pelo feedback!
Abraços meus!
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