Quis o destino que a família Macaco habitasse numa árvore na margem do rio Catumbela, onde seria fácil cuidar da higiene e a comida abundava.
Estava o Sr. Macaco a fazer a barba, numa bela manhã, quando recebeu uma visita muito animada:
- Bom dia, caro Macaco! – saudou eufórico o Jacaré – Concluí que temos de ser amigos.
- Estás maluco ou quê? – retorquiu o Macaco – Somos vizinhos e isso BASTA!
- Está aí um ponto que tenho de discordar contigo, Sr. Macaco…
- Mas discordar como ó Jacaré? – interrompeu – Se tu és incapaz de trepar a mais baixa das árvores, que amigo hei-de ser para ti, eu que mal sei nadar? – refilou o Sr. Macaco.
A troca de argumentos continuou. E como era já meio-dia, o Sr. Macaco chegou até a pensar que tudo não passava de truques do Jacaré só para «patar» o almoço da família Macaco.
- Não vale a pena! Não é possível juntar o que a natureza quer separado – disse o anfitrião.
- Não concordo, Macaco! Não é justo culpares a natureza, quando o que falta é vontade. Ao menos tente! Eu fico na água, tu na árvore, e construímos uma amizade forte como a vida – propôs o Jacaré.
Nasceu ali mesmo o pacto da amizade. Passavam-se os dias e fortalecia-se a amizade. E num desses dias, surgiu o Jacaré com o mesmo entusiasmo e uma proposta na manga:
- Amigo Macaco, é já tempo de conheceres a nossa residência.
- Não sei se é boa a ideia, amigo Jacaré. Para mim estava melhor assim: tu lá e nós cá.
- Macaco, Macaco, não é possível negar-nos esse privilégio. Ao menos tente! A minha casa fica lá naquela pedra, ao meio do rio, e levo-te às costas. Como vês, é de fácil acesso.
- E o Macaco aceita. Pesava-lhe a consciência desagradar um amigo.
Chegados no meio do rio, vem a surpresa:
- Bem, Macaco, sempre achei que entre amigos não deve haver segredos… A verdade é que a minha mãe está gravemente doente e o único remédio que a pode salvar é coração de Macaco. Foi por isso que te trouxe cá… E sinto-me, como bom amigo, na obrigação de contar-te.
- Ai ééééé!? – Exclamou o Macaco numa pausa de um minuto – Só isso? Que falasses mais cedo! É que agora estou sem coração por uma questão de boas maneiras. Porque nós, macacos, quando levamos o coração brincamos muito mal em casa alheia; pulamos p’ra cá e p’ra lá… e mesmo você e a ilustre família não iriam gostar. Agora mesmo, temos de voltar à árvore buscar o coração. RÁPIDO!
- Juras, Macaco?
- Ainda duvidas? Juro por mim e pela vida da “nossa mãe”, que pode morrer se nos atrasarmos.
O Jacaré dá meia volta e regressa em alta velocidade. Mal chegam, o Sr. Macaco pula e grita:
- Já viste um animal sem coração? MATUMBO! Eu é que bruxei a tua mãe, p’ra me matares?
O Jacaré perdia um amigo e a mãe no mesmo dia. O Sr. Macaco salvou-se graças à inteligência na hora do perigo. Por isso, em Umbundu, macaco chama-se “Sima”. “Sima wasima olondunge vio’yovola”.
Moral da estória: “sê prudente. Nunca se sabe, afinal, o que se esconde no peito de quem te abraça”).
Adaptado para o programa “Aiué Sábado” da Rádio Morena, por Gociante Patissa (ideia original de autor desconhecido)
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
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» Conto: Há muito jacaré por aí (fábulas da nossa terra)
9 Deixe o seu comentário:
Mano,
Ainda não chegou a encomenda, mas continuo a aguardar. Sabes como são as coisas. Lentidão. Vou entrar em contacto com o Mulaza, Director do Cruzeiro para saber se já recebeu do Lilas Orlov.
Um abraço
ADOREEEEEEEEIIIIIIIIII!!!!
Bjs
Dulce
Dizer que adorei esta obra prima é muito pouco. Faltam-me adjectivos para qualificar.
Sima wa sima walinga nhe?
Tradução que se impõe: Sima wasima olondunge vio'yovola = o macaco teve um raciocínio que o salvou
Vagueando pela noite na net em caminhos de Angola, terra mãe que autorizou a minha natividade, dou com este conto extraordinário da génese do saber dos mais velhos urdido pela existência no amadurecido do erudição feita de tudo e do nada que a vida lhes reservou e que faz a gnose das suas gentes. Amigo, passa mais contos desta lavra porque eles são importantes para as gentes d’hoje. Obrigado.
Kandanda
Interessante. Jacaré é uma palavra indígena, da língua Tupi. Pensava que era um regionalismo apenas brasileiro - só usado no Brasil.
Etimologia (Houaiss)
tupi yaka're 'nome comum a vários répteis crocodilianos'; a denominação indígena é de valor totêmico; segundo Teodoro Sampaio, o voc. tupi significa lit. 'aquele que é torto ou sinuoso';
SAUDAÇÕES AMIGAS E COMPATRIOTAS,
Fiquei maravilhado com o que aqui encontrei. PARABÉNS! No meu blogue publiquei hoje algo sobre o lançamento de SEXORSCISMO , DO escritor benguelense Martinho Bangula. Gostava de poder inserir a foto dele ou da capa do livro. Será que podem ajudar-me? Grato pela atenção. Ao vosso dispor,
Carlos Pereira
Ao amigo Carlos Pereira, saudações! Curiosamente foi com a minha canon digital que se tirou a foto do autor que aparece no verso da capa e, curiosamente, foi a minha objectiva que "cobriu" a sessão de lançamento do livro "Sexorcismo" de Martinho Bangula. Só preciso contactá-lo em dois tempos (para lhe comunicar do contributo que se pretende prestar à divulgação do trabalho dele e, também, pedir anuência pela cedência das fotos. Só uma makazita: é que precisaria para o efeito, amigo Carlos, do seu e-mail para lhe enviar em anexo o file. Abraços
Muito Boa!!
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