quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Crónica | NOSSA CRIANÇA E O INFINITO

 “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.” (Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881)


Se este rebento chegar a crescer, forma ganhar e com isso se lhe infectar alguma tentação de cariz estético que seja, meus caros, confrontai-o com o demérito do seu parto. Não passa de escrita de bordo. É que educar a gente até educa, mas uma vez consumada a travessia da porta o que mais podemos sobre ele em paternidade? Aí fez-se já maior de idade, é da esfera pública o texto, personalidade própria e tudo.

 

Ademais, há já uns anitos que prescindi da expressão mal-educado. Mas então levar o cavalo (quiçá a esposa dona cavala) ao rio significa forçá-lo a beber água se não quer?! Mal-educado? Quem nos garante?! Pais genuinamente fracassados no papel de modelos de educação para a vida existem aos montes. Filhos e filhas desastrosos em encaixar normas básicas de pertença social é capim, adolescentes infinitos, vítimas de tudo e todos. No meio-termo está o instinto. Mas evitemos só politicagens!

 

Um dia fujo do trabalho para brincar com a minha filha. Desta frase libertária e terna nada me cabe, excepto o trabalho. É uma imagem inquietante que me habita há por aí quinze anos depois que a topei na saqueta de açúcar numa icónica pastelaria do Lubango (que descansa em paz), à direita da Maternidade. A falta de contexto alarga as possibilidades de tom. Podia bem ser a proclamação de um ultimato ou simplesmente a voz da impotência. Certo é o dilema face a dois confortos que não partilham o mesmo espaço na vida de um pai: as horas de trabalho (que garantem o conforto material à família) e as saudades do apego (que causam desassosego). Leis e regras foram inventadas para perturbar a dedicação a crianças amadas, certo?

 

Anteontem no novo calçadão do Jardim Zoológico, um homem que ali namorava a sombra pediu-me que lhe fotasse. Esmerei-me para minimizar a pobre qualidade de imagem do telemóvel do conterrâneo. Tecnicamente terão sido as piores imagens que alguma vez captei, mas era notória a ansiedade de quem se encontra distante da família há seis meses. Tem trabalho, precário, claro, saltitando entre um posto e outro ao volante. Ofereci-lhe o meu livro de crónicas. O APITO QUE NÃO SEU OUVIU! Exclamou entre a nostalgia e o horismo. Eu no Sambizanga era da TURMA do APITO, completou. A brigada de vigilância do tempo do administrador Tomás Bica? Ya, isso!


E nesse contacto de cinco minutos, o quarentão ao saber que estava prestes a viajar supreende: tenho coisas a enviar para minha filha, podes levar? Sorrio e penso, já fui profissional com década de indoctrinação em segurança aeronáutica, não nos conhecemos. O não é usave. Mas todas as reprovações ficam ilibadas: é só um pai.

 

Nem era a minha primeira carapuça de carrasco, por nos vermos obrigados a pender para o lado careta, o da regra. Certa vez um cidadão insistia que o avião cortasse os motores e voltasse a abrir as portas para embarcar, pois acabava de receber notícia da filha doente na província de destino. Não tinha bilhete comprado, não havia feito check-in (naquele ponto mesmo isto era irrelevante). O que pedia era impensável em aviação onde o pessoal de terra é o lado mais fraco da corda. Como responsável do turno, sobrou-me lidar com a cólera. Você parece não tem filhos, né?! Hesitei e acabei por responder como ele queria ouvir e já sabia, que ainda não. Então é por isso!, lá arremessou. Passados alguns dias o jovem, agente da autoridade colocado no aeroporto, lá veio pedir desculpas. Era só um pai. Pela nossa criança o infinito.

Gociante Patissa | 23 Outubro 2024, 03h37 | DT653, Lisboa-Luanda | www.angodebates.blogspot.com


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sexta-feira, 18 de outubro de 2024

GOCIANTE PATISSA PREMIADO EM PORTUGAL NO FESTIVAL UNICAST 2024 DO IADE COM "A VOZ DO OLHO"

O Júri dos Prémios Unicast 2024 distinguiu hoje, sexta-feira, 18/10, em Lisboa, com o troféu da categoria de Melhor Narrativa Ficcional o Podcast A Voz do Olho, de Daniel Gociante Patissa, finalista de Mestrado em Ciências de Comunicação. É a primeira edição do festival coordenado pelo IADE (Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia) para “promover e premiar podcasts e outras narrativas sonoras produzidas no âmbito universitário nacional”.

O angolano, que concebeu o Podcast A Voz do Olho como projecto avaliativo do Mestrado na Universidade Católica Portuguesa, recebeu das mãos da Reitora do IADE, Hélia Gonçalves Pereira, o galardão feito em madeira, metal e acrílico que simboliza a entrada para os anais da história da primeira edição do prémio dedicado à criatividade de estudantes do ensino superior. A iniciativa tem o apoio da RFM.

Presidido por Anna Boechat, Coordenadora Científica e Pedagógica para a área de Comunicação e Marketing do IADE, o júri integrou ainda António Mendes, Director da RFM e também docente, Ricardo Morais, Professor Auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Joana Beleza, Jornalista e Coordenadora a secção multimédia do Expresso e Coordenadora dos Podcasts do grupo Impresa, Ana Sofia Paiva, Doutoranda em Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa e Investigadora com foco em estudos de inovação no áudio e podcast.

“A Voz do Olho” foi um jornal comunitário que fundamos há 20 anos na província de Benguela, legalizado depois no Ministério da Comunicação Social como veículo da nossa ONG AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade). O Podcast tem uma edição só intitulada Cartinha ao primo Nicodemos em que repesco essa memória satírica de cronista em 2023 como exercício do seminário de Meios Sonoros e Podcasting, no Mestrado. Está disponível nas plataformas digitais”, conta Gociante Patissa.

Foram premiadas oito categorias de Podcast, com destaque para Entrevista, Conversa, Reportagem jornalística, Narrativa Ficcional, Entretenimento (não ficção), Educação, Divulgação e Consciencialização.

Links para aceder ao podcast A Voz do Olho:
https://www.youtube.com/watch?v=lSpOgZgZ4qQ&themeRefresh=1
https://podcasters.spotify.com/pod/show/gociante-patissa/episodes/Carta-ao-primo-Nicodemos-e2655bc

Contacto: Gociante.patissa2@gmail.com | Patissagociante@yahoo.com
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terça-feira, 1 de outubro de 2024

Homenagem | ISMAEL MORA AQUI

ISMAEL MORA AQUI

Difícil adeus
Esse que nos invade
A manhã noticiosa
meu confrade
Ismael Mateus
Pilastro que desfalca
A casa dos escribas
No olho que lê
A vela dos sentidos ardeu
Nossa gente pede mentiras
Uma para cada tela
Difícil se abre Outubro
Cidadão Ismael
confrade Mateus
Impotentes, sobra
No crente e no ateu
o mar de lembranças
vincado o lastro teu
Na dialéctica voz
Nos laços caneta
Senão no bom gosto
Da África em ti cantante
Ismael mora aqui
Gociante Patissa | Lisboa | 01 Outubro 2024
*Imagem de arquivo
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A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

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