Poema inédito | ALUGAM-SE VELHOS
Empurro o hoje com as mãos
Tipo a minha mãe o arado
Salgo com os poros o pão
Ainda deste lado. À mulemba nem a nado
Em mim tudo cabe
Tudo se ajusta
O chegar que inquieta
O partir que sabe a dieta
Da Ganda herdo o ciclo dos eucaliptos
Juvenis, floridos, silentes
já só lhes restando a calvície
e a dureza da crosta aparentemente
Do Monte Belo em mim batem
O cieiro do calar da lareira
Ou as cinzas dos velhos que partem
Onde a esperança é a primeira
Por aí ouvi um dia destes
Que era das árvores rebentar
Secar e de novo rebentar
É que abundando firmes viram peste
Neste chão longânime e gelado
Sobrando avós para netos
Acena ao denso vazio o preto
Alugam-se avôs onde forem achados.
Gociante Patissa | 20 Janeiro 2023 | www.angodebates.blogspot.com
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