Vai subindo de tom a conversa sobre “A proposta de
lei sobre o estatuto das línguas nacionais”, apresentada pelo Ministério da
cultura e que alguns deputados e estudiosos acham que deve mudar a designação
para "línguas de origem africana". Como é de esperar num país com tão
fresco "complexo de assimilado", não faltam fazedores de opinião que
rotulam de preconceituoso quem apoia a tentativa de maior protecção e
divulgação das línguas nacionais (as indígenas de outrora). Desenterrou-se como “arma de arremesso” o facto histórico de os khoisan
serem os mais antigos no território que hoje é Angola. Está-se mesmo perto de
dizer que o Kimbundu, o Cokwe, o Kwanyama, o Ngangela, o Umbundu, entre outras de
origem Bantu, bem como a dos khoisan, chegaram para cá à mesma época que o
capitão Paulo Dias de Novais ou o descobridor Diogo Cão.
Sou de opinião que, conquistada a independência, se negligenciou um bocado a gestão das políticas culturais na vertente das
línguas nacionais (entenda-se promoção de estudos sobre aspectos de identidade
etnolinguistica e tudo a isso inerente). A prioridade recaiu para a busca da
estabilidade nacional e formação de quadros.
É certo que a vontade e a visão do detentor do
poder acabam prevalecendo sempre, quando se fala de políticas públicas. Ainda
assim, porque posso também falar, digo que não me parece justo, no mínimo,
tentar agora equiparar a língua portuguesa, que, tendo em conta o seu avanço
estrutural e científico, significaria claramente sobrevalorizá-la relativamente
às já citadas. A nossa língua de união e oficial vai bem. E ainda bem. Mas
deixemos que o Ministério da Cultura avance. A questão é, diz-se, que a
Constituição não se refere a elas como línguas nacionais, mas como línguas
nacionais de origem africanas. A pergunta de retórica é se terão sido
consultados os nossos antropólogos na feitura da constituição. Enfim...
Os defensores da "secundarização da noção de
pertença" apresentam os seus argumentos de razão legítimos e devidamente
fundamentados, embora me pareça, de certo modo, um reeditar da
"atitude" de "línguas indígenas". Dizem por exemplo que as
línguas mais faladas em Angola são o Umbundu e o português, que não representam
mais de 30% da população. Mas, só mesmo por curiosidade, por acaso dominam eles
alguma dessas "línguas de origem africana", ou é o tecnicismo puro a se confundir com exotismo? Como diria M.
Rodrigues Lapa, “os puristas têm a ruim tendência para considerarem uma só
forma correcta” (Gramática do Português Actual, 2009. Pág. 4).
O semba e o ku-duro, muito apoiados
institucionalmente, já agora bem podiam ser considerados "apenas"
estilos musicais de origem africana, tal como diríamos do kwanza (apenas símbolo
monetário de origem africana). Que tal?
Gociante Patissa, Benguela, 24 Novembro 2011
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