«(Em jeito de carta aberta) Caro Zé Gama; Distinguiste-me mais uma vez com a honra de publicares uma intervenção minha neste espaço extraordinário do debate plural apenas apanágio de homens livres. Desta vez, o texto de apresentação do livro do Adebayo Vunge “A Credibilidade da Media em Angola”.
Fico sempre curioso quando algo meu é publicado neste espaço que, para mim, representa a escola da pluralidade, democracia, crítica e análise que os estudantes de Angola no exterior (e não só) esforçam-se por dar ao Mundo. Porque o espaço cibernético é agora o tal jango da aldeia global – e algum adepto do tuguismo logo dirá que estou usando “linguagem popular” – sinto-me orgulhoso dos meus jovens conterrâneos quando os vejo esgrimir argumentos com elevação, acutilância, inteligência e respeito pela pluralidade. Da mesma maneira, sigo com respeito e admiração aqueles que assumem a coragem de expôr o seu pensamento através de escritos; que assim demonstram a humildade dos construtores do progresso quando submetem-se à crítica dos seus concidadãos, como é o caso do Feliciano Cangue, Nelo de Carvalho, Paulinha da Costa e tantos outros que perdoem-me não me lembrar agora. Penso comigo nestas alturas que o País está bem entregue e, o seu futuro será certamente melhor que o presente com jovens deste calibre. Que respeitam-se e respeitam os outros, mesmo – e talvez por isso – por serem diferentes.
Por isso surpreendeu-me – pela negativa – o nível de debate que suscitou o texto. Não porque alguns achem que o estilo jornalístico do Adebayo não é o que mais apreciam. Isso é normal. Nem porque achem que o jornalismo angolano enferma de muitas debilidades. Também concordo. Mas sim porque atacam o Adebayo por ter escrito um livro – por acaso a sua Monografia de Licenciatura – que eu achei um bom contributo para o estudo da Comunicação Social em Angola em vez do que ele escreve na obra.
Os nossos jovens na diáspora sabem quantas obras técnicas ou científicas já foram escritas sobre a nossa Comunicação Social depois da Independência? Mais ou menos dez, não mais. E sabem quantas dessas obras foram escritas por jovens da vossa geração? Duas. E sabem quem é o autor das duas? O Adebayo, sendo uma “Dos Mass Media em Angola” e a outra a que tive o privilégio de apresentar.
Alguns de vocês que estudam numa das “cem melhores universidades de África” dirão que tais obras não passam de compilações de conceitos e pensamentos de outros comunicólogos. Mas ainda que assim fosse, isso não lhes retira a cientificidade que lhes confere o rigôr do método da pesquisa científica. Alguém dos que atacam o Adebayo por acaso leu a obra em referência? Duvido, porque apenas nesse dia foi lançada. De formas que, o que deploro nos comentários tão negativos dos internautas comentadores foi que decidiram criticar o Adebayo em vez da sua obra. Isso é coisa de homens pequeninos, incapazes de alcandorarem-se aos níveis do debate intelectual em que a Verdade não pertence a ninguém, mas a todos em conjunto e nasce do Debate.
Como sabes, Zé Gama, tenho três filhos a estudar na diáspora, e uma data de sobrinhos e afilhados. Como posso nessa condição deixar de apoiar um jovem que humildemente dá o seu contributo para a Ciência no meu próprio País? Como não apoiar o Demarte Pena pela coragem demonstrada no “My Rebel Royal Blood” (para quem não sabe, o Demarte é uma espécie de afilhado meu por via da irmã, a Sanju que o é)? Como não saudar o Adebayo por disponibilizar a sua inteligência para pôr no papel algo útil para todos nós? Como não apoiar qualquer de vocês que contribua com o seu grão de areia, com a sua gota de água para a praia e o oceano da nossa Ciência intramuros? Garanto-vos que se para vós bajulação é isso, então assumo-me como tal. Na minha idade, dizer-me que estou bajulando as novas gerações para que percam o medo e a vergonha, venham para a luz e comecem a produzir Conhecimento para o País é um cumprimento que deixa-me verdadeiramente... babado. Espero poder fazer mais nessa direcção. Esse é o meu maior sonho para os meus filhos e para vocês também!
Sobre ajudar os jovens que regressam da diáspora. É claro que isso é apenas para quem o queira e ache que o meu apoio ajuda-lo-á a reencontrar o seu legítimo lugar na nossa Nação. E para estes estarei sempre disponível com o conselho, com o encorajamento, a palavra de recomendação e, caso possa, com ajuda material. Porquê não? Sabe tão bem ser útil aos outros. Quem não fôr capaz desse sentimento atingiu o nível zero da pobreza espiritual. E se alguém algum dia escrever uma obra, seja ela de que tipo fôr e quiser o meu apoio para prefaciar, apoiar na edição, tradução ou para apresentar, terei todo o gosto em fazê-lo. E procurarei, com a certeza que encontrarei, muitas coisas belas e positivas para dizer. E di-las-ei!
E termino, amigo ZG (como gosto de chamar-te) com a seguinte pergunta: Encerraremos o jango das ideias só porque alguns confundem-no com uma latrina?
Não, porque não é apenas necessário fazer parte dos homens livres: é preciso ter orgulho nisso. É preciso ter a fé para limpar fezes dos espaços onde pensam os homens livres – este teu e nosso espaço – orgulhando-se por fazê-lo.
Percebeste, velho amigo?...»
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