Para não passar em branco o dia das mentiras, assinalado ontem (01/04/10), a Guiné-Bissau brindou o mundo com a melhor mentira que o Guiness-the book of records jamais registou. Diz a máxima que, para convencer, a mentira deve ter sempre um pingo de verdade.
Assim foi que, cedo, as chefias militares entenderam raptar o primeiro-ministro e chefe de governo, Carlos Gomes Junior, num aparente golpe de estado. É provável que o presidente, Malam Bakai Sanhã, lhes tenha dito «ó ganapada, eu não me misturo neste tipo de brincadeiras, estão a ouvir? Incluam-me fora disso!!!». E manteve-se sereno no seu canto, possivelmente envolvido em gargalhadas. Mas para parecer que era verdade, raptaram também outra patente grande do exercito, que continua sob custódia. Talvez o guarda tenha engolido a chave, julgando que, passado o dia das mentiras, arrotaria a maldita chave.
Mas o povo, este povo que não entende que, como disse o britânico, Guine-Bissau «is not a good place to be born in», entendeu sair à rua de protesto. Como se a sua fosse uma terra normal, mandaram umas bocas na televisão a dizer que queriam justiça, estabilidade, que estavam cansados de golpes e arrogâncias militares. Que estavam dispostos a morrer, em apoio ao primeiro-ministro, se tal fosse necessário. Mas os colossais chefes da junta militar, que já sabiam que tudo aquilo é mentira, que guineense sabe logo ao nascer que o destino da pátria é ser palco de chacinas, tráfico de drogas, perseguições políticas e ajustes de contas, disse: «Aié, estão a brincar de mentir o mundo, né? Esperem ali que vamos matar o primeiro-ministro, matar mesmo de verdade, depois diremos que foi tudo no dia 1 de Abril, dia das mentiras. Olha que não duvidem do que somos capazes!!!». E a comédia militar foi esperta: antes mesmo de escurecer, levou o refém de volta ao seu gabinete e disse «pronto, rapaz, continua lá a mentir o mundo que tens poder de chefiar o governo, enquanto a verdade é que os militares é que mijam o líquido com que o povo deita lágrimas, quer de alegria, quer de dor». Pronto! Foi tudo uma anedota!
Diferentes na ideologia e na forma de actuar, um militar e um palhaço de circo, na Guiné-Bissau, têm contudo uma grande semelhança: servem para fazer espectáculos. A única diferença consiste no impacto, sendo que os militares têm a fama e a visibilidade, resultantes da auto-promoção, tirando proveito do carisma da ponta da espingarda.
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