Na véspera do carnaval e do dia de São Valentim, dois acontecimentos marcaram a agenda política e social benguelense. Diferentes na forma e na ideologia, os eventos tiveram algo em comum: a participação activa da juventude.
O restaurante “Solar dos Leões”, à Praia-Morena, acolheu mais um “Quintas de Debate”, aquele espaço de exercício da cidadania sob iniciativa da ONG angolana “Omunga”, que traz em cada sessão um prelector de destaque nacional, entre políticos, académicos e protagonistas da sociedade civil. O que parecia ser um tema “frio”, qualquer coisa como a relação entre a educação e a política, proporcionou uma calorosa discussão, que durou cerca de três horas. O Orador? Domingos da Cruz: jornalista do Folha 8, formado em filosofia, autor do livro “Para onde Vai Angola?” e professor.
Com uma acutilância incomum de jovens da sua idade (menos de 30 anos), da Cruz oscilou entre o académico-científico e a sua intervenção política cidadã diante da governação da pátria. Qualificou de ilusão a ideia de que a educação liberta o homem, apontando o carácter classista da definição das políticas. E alertou: a educação pode ser “viciada” para sustentar “os interesses do grupo dominante”.
As reacções da plateia revelaram-se divididas, havendo uns que o suportavam e outros que condenavam a linguagem “dura” com que se referiu a determinadas instituições e figuras de soberania. Posso não concordar com a análise do estilo tábua-rasa que o prelector faz da realidade angolana, “tudo está mal”, ou que “não há estradas”, mas debate é isso mesmo, um confronto de ideias para o consolidar de posições e influenciar ideias, pacífica e saudavelmente. De resto, o “miúdo” desafiou alguns dos tabus que grassam a discussão pública de makas que tamos cum’elas.
Já na sexta-feira, após entrevista à TV Zimbo sobre a vida e obra de Aires de Almeida Santos, fui convidado por outro jovem escritor a visitar a unidade provincial da Polícia de Intervenção Rápida (o que implicava “patarmos” a iniciativa da JMPLA). O que não sabia era que o programa visava uma “fogueira patriótica” com os “Ninjas” em homenagem aos heróis nacionais. E fiquei contente ao ver agentes recitarem, emocionados, poemas, diminuindo o generalizado “preconceito” que associa a corporação com analfabetismo e violência. Outros apartidários, que lá estiveram, beneficiaram da oportunidade de conhecer o lado lúdico dos “anti-motins”, pelo que fica a gratidão aos organizadores.
Na minha condição de mobilizador comunitário e activista cívico (há dez anos ligado à uma pequena ONG nacional), julgo que os movimentos juvenis devem ter, mesmo até pela sustentabilidade, uma preocupação no sentido de criarem factos e acções. E ali, é preciso aguçar a visão para se continuar a ter acções regulares com ou sem (big) fundos. Às vezes, ignoramos o impacto que pequenas acções podem desabrochar até mesmo no âmago de quem já está connosco.
Para terminar, reitero a minha satisfação e ao mesmo tempo expectativa, que se renova sempre que vejo jovens interessados a contribuírem para o desenvolvimento do país, assumindo o comando de iniciativas e, acima de tudo, alargando o elástico dos olhos. Bom sábado! Viva Angola!
Gociante Patissa, Benguela 13 Fevereiro 2010
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Gostaria muito de ter assistido a entrevista sobre a vida e a obra de Aires de Almeida Santos e saber o que a nova geração pensa a respeito do meu pai.
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