Era para ser inesquecível, e o foi (apesar de tudo). O reencontro é, ou seja costuma ser, mesmo nas mais adversas circunstâncias, uma emoção positiva.
D. Makiadi Maria atravessava a fronteira na companhia da família, uma filha e duas netas, cujo pai, que era suposto ser genro, nunca chegou a conhecer. Mas para quê falar dele agora, se só é homem quem está presente?! Viúva de marido e de genro fugidio.
Ao partir para a sua segunda pátria, plantara a semente da esperança. Por isso, adorava a vida no estrangeiro. Não porque se sentisse realizada, mas simplesmente porque sonhava voltar à terra, quando despertasse no coração dos homens o lado mãe.
Quem é camponês onde nasce, o é em qualquer parte… se não de corpo, pelo menos de alma, sendo que, no entender da experiente D. Maria, lavrar a terra é das mais limpas profissões, as que não atraem políticos. Aliás, ela sempre teve mau pressentimento em relação aos políticos, e estava certa… se calhar.
Ao partir para a sua segunda pátria, plantara a semente da esperança. Por isso, adorava a vida no estrangeiro. Não porque se sentisse realizada, mas simplesmente porque sonhava voltar à terra, quando despertasse no coração dos homens o lado mãe.
Quem é camponês onde nasce, o é em qualquer parte… se não de corpo, pelo menos de alma, sendo que, no entender da experiente D. Maria, lavrar a terra é das mais limpas profissões, as que não atraem políticos. Aliás, ela sempre teve mau pressentimento em relação aos políticos, e estava certa… se calhar.
No fundo, o que incomoda as pessoas não é tanto dos actos animais, mas a sua própria impotência perante estes. De tal forma que, aconteça o que acontecer, a imagem daquilo que nos é sublime permanece sempre viva no tesouro da memória.
D. Makiadi Maria, por exemplo, guardava na memória uma imagem adolescente do Uíge, quer enquanto cidade, quer enquanto berço da sua gente, suas raízes. Muito café, muito algodão, muita educação à sombra da mulembeira.
Essa imagem, obviamente, remetia-a aos tempos de mocidade. De repente, ela deixa de sentir a dor dos pés inchados pela caminhada, pois o subconsciente percorria, despreocupado e veloz, as artérias da cidade… correr, com a sensação de voar!
– QUEM TEM CRIANÇAS, VAI À DIREITA! – ordenava o técnico do Ministério da Reinserção Social – ESTÁS A OUVIR, Ó MAIS-VELHA?
Nesse instante, D. Makiadi acorda do sonho em que andava embalada em pé e reencarna a condição de angolana expulsa da Republica Democrática do Congo após 40 anos. A roupa que cada membro da família trazia no corpo era tudo o que aconseguiram salvar.
Várias famílias partilham o mesmo drama, o de não saberem o que fazer no dia seguinte. Enquanto isso, os políticos apertam os braços… de desculpas e entendimento diplomático. O que vem a seguir para os da base da pirâmide, D. Maria ainda não sabe, e talvez não seja a única.
"Pobres políticos… haverá geração melhor?”, indaga-se a velha no silêncio.
Gociante Patissa, Luanda 27 de Outubro de 2009
PS: Adaptação do texto/exercício com vírgulas improvisado na prova de Português na Universidade-ISCED
PS: Adaptação do texto/exercício com vírgulas improvisado na prova de Português na Universidade-ISCED
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Olá Amigo Patissa!
Que triste a vida dessa gente que dedicou tantos anos da sua vida a um país que não os merecia!
40 anos é uma vida!
Que dor de alma ver os "campos de concentração" onde estão alojados!
Realmente, só é homem quem está presente, mas serão homens os que os expulsaram???
Fico indignada com esta situação...!
Um beijo!
Alma Inquieta, minha amiga, uma vez mais agradecido pela tua indignação contra a injustiça. A sra. Makiadi Maria, que só existe como tal na minha cabeça, continua à espera de respostas, uma delas é se haverá uma geração de políticos que uma mãe deve confiar.
Abraços!!!
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