quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Nossa homenagem a Luís Xavier, um batalhador e activista pela dignidade da pessoa com deficiência

A rubrica “Nossa homenagem-um reconhecimento às pessoas pelo seu exemplo de sucesso” traz a lição de vida de um educador social, chefe de família, angolano. Ele tem 35 anos de idade, actualmente representa na província do Huambo a ONG angolana LARDEF (Liga de Apoio à Integração da Pessoa com Deficiência), onde ingressou como voluntário. Estamos a falar de Luís Quintas Xavier, conhecido como Oliveira no seio familiar.

«Para aqueles que me conhecem, eu tenho uma paralisia dos membros inferiores, que adquiri já aos três anos vítima de poliomielite, mas apesar disso eu nunca olhei para a minha deficiência. E na altura em que os meus pais eram vivos, também nunca se deixaram levar, nunca olharam apenas na minha deficiência. Foram pacientes em sempre levar-me para a escola», recorda.

Luís é uma pessoa que vê a vida na positiva, embora lamente o facto de estar impedido de assistir ao teatro, que muito adora. É que as salas de cinema geralmente são pouco acessíveis, devido aos degraus, isso, para quem anda de cadeira de rodas. Mas esse é apenas um dos vários desafios que pessoas com deficiência enfrentam na sociedade.

«A maior discriminação que eu já senti foi na altura em que pensei que tinha que ter uma companheira. Na verdade encontrei uma barreira por parte da família da moça, que achou que o Luís, na qualidade de uma pessoa com deficiência, não podia contrair matrimónio com a filha deles. Esta foi uma situação muito difícil, mas por pouco tempo». E ainda bem. Tanto se juntou a ela que, após quatro anos a viverem maritalmente, oficializaram o casamento o ano passado.

Em finais dos anos 90, Luís Xavier morava no Luongo, Catumbela, e frequentava o ensino médio no PUNIV, que se situa no C
ompão, Lobito, uma distância de aproximadamente 15 quilómetros em ida e volta. Umas vezes metia o seu triciclo no comboio, mas geralmente ia a pedalar de segunda a sexta-feira. Luís desistiria na 10ª classe, abraçando o mercado do trabalho pela AADC (Associação de Apoio ao Desenvolvimento Comunitário) que, diz o co-fundador, «hoje infelizmente está a meio gás».

No entanto, há momentos altos na vida de Luís, que ele não esconde:

«Depois de trilhar nessa senda de trabalho, o momento mais alto da minha vida foi quando recebi a nomeação para Coordenar a Lardef a nível da província do Huambo, em 2007. Foi um momento muito alto da minha vida, porque a partir daí eu percebi que as minhas responsabilidades tinham aumentado, para com o grupo alvo e para com a sociedade em si. Porque, na verdade, costumam dizer os mais velhos que vale a pena estar em frente dos animais do que em frente das pessoas».

A transferência à província do Huambo permitiu o regresso aos estudos, interrompidos há 11 anos, e tanta é a força, que Luís já é finalista. E hoje, amigo Luís Xavier, sente-se longe ou perto dos sonhos?

«Bem, hoje, apesar de que ainda não sou universitário, mas eu pelo menos não me sinto muito em baixo, sinto-me capacitado para ainda trilhar o mundo para um futuro mais próspero. E tenho tido muito encorajamento de alguns amigos, principalmente os que foram colegas de escola. Acima de tudo posso dizer que ainda estou mais próximo daquilo que são os meu sonhos», revela.
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(*) Rubrica “Nossa Homenagem-um reconhecimento às pessoas pelo seu exemplo de sucesso” emitida na edição de 01/09/09, do programa de mesa redonda radiofónica, “Viver para Vencer”, que teve como tema "A Prática dos Primeiros Pocorros". Viver para Vencer é uma produção da ONG angolana Associação Juvenil para a Solidariedade (AJS), às terças-feiras, das 17-18h30, através da Rádio Morena Comercial (97.5FM), cobrindo as cidades de Lobito, Benguela e Baia Farta
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AJS – “A cidadania é resultado de um exercício permanente de Educação e Comunicação”.
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2 Deixe o seu comentário:

Amélia Ribeiro disse...

Parabéns pelo texto e pelo exemplo!

Oliveira,

as pessoas valem pelo que são e não pelo que têm ou pelo que lhes falta...e você é uma LIÇÃO DE VIDA.
Quantos sem deficiência visível são parasitas da sociedade?

Um beijo aos dois.

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Obrigado, colega Alma Inquita, pelo amparo que nos dá.

E subscrevo a sua reflexão:"Quantos sem deficiência visível são parasitas da sociedade?"

Daqui um abraço e estamos juntos!

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