quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Resenha | O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, contos de Gociante Patissa, por Jubs (Brasil)

Oi gente! Essa é nossa última resenha do mês. Encerramos esse mês com ótimas leituras e hoje, trago uma resenha de um livro de contos que recebemos da @editorapenalux.

Esse livro é de autoria do escritor angolano Gociante Patissa. Ele é composto por 14 contos e uma fábula, que tratam de temas diversos.

Nesse livro, temos contato com a língua e a cultura Umbundu e alguns fatos históricos, como a guerra civil, que me acrescentaram muito. Além disso, os contos tratam também de temas como burocracia, machismo, dia a dia, desigualdade social e sobre a natureza humana.

"A luta continua. O meu nome? Não tem importância. A história que conta é dos grandes. Ainda não começamos a escrever sobre os pequenos.Talvez um dia."

São contos de ficção que mesclam tons de realidade. São contos de outra terra, diferentes do que estamos acostumados. Gostei muito da experiência. Confesso que alguns contos foram mais fáceis que outros,acredito que seja pela linguagem, mas gostei de todos.

A fábula, POR QUE É QUE A CAUDA DA LAGARTIXA CAI ?, é inusitada e divertida, se tornou uma das minhas favoritas!
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Citação

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(arquivo) Diário | Quem queixou primeiro?

"TEM A PALAVRA O PRIMEIRO..."
"Desculpa só, ó doutor juiz. Neste caso assim o primeiro é ele ou eu?"
"JÁ DISSE. O PRIMEIRO. AQUELE QUE SE SENTE QUE CHEGOU PRIMEIRO À AUDIÊNCIA TOMA A PALAVRA..."
"Ó doutor juiz, a dúvida do outro é a minha. Assim quem vai ser o segundo então se o processo é o mesmo?"
"MEUS SENHORES, AQUI REINA O PRIMADO DA JUSTIÇA, E A JUSTIÇA COMEÇA COM O RESPEITO PELA ORDEM DE CHEGADA..."
"Então fala já você..."
"É assim, senhor juíz. Eu estive mesmo bem em casa, o outro mexeu no que é meu..."
"MAS MEXEU NO QUE É SEU DE QUE MODO? EXPLIQUE-SE MELHOR..."
"A minha mangueira..."
"MEXEU NO QUE É SEU? NA SUA MANGUEIRA? O MEU AMIGO AINDA ESTÁ LEMBRADO QUE ESTÁ NUM TRIBUNAL, CERTO?"
"Sim, doutor juiz..."
"ENTÃO TEMPERE A LINGUAGEM. PROSSIGA."
"Vou falar então diferente. O meu pau de mangas amadureceu, e o meu vizinho está a roubar..."
"MAS QUE VÍCIO FEIO, MEU SENHOR! EXPLIQUE-SE O ACUSADO."
"Na verdade, Senhor juíz, a árvore do vizinho tem um galho grande que suja o meu quintal. Se eu já lhe falei para recolher o lixo e ele não aceita, então assim as mangas que caem no meu quintal vou fazer como?"
"Mas as mangas são do meu pau... Eu tenho razão!"
"Nunca! Razão é comigo!"
"MEUS SENHORES, DEPOIS DE ANALISAR O VOSSO CASO, EM NOME DO POVO ANGOLANO, PERGUNTO: QUEM É O PRIMEIRO?"
"Ao nascer sou eu, no processo é o outro."
"QUEM QUEIXOU PRIMEIRO?"
"Sou eu, doutor. Aquilo é muito lixo."
"PRONTO, EM NOME DO POVO ANGOLANO, TEM A RAZÃO VOCÊ..."
"Mas não pode! Isso é justiça?! Justiça apoia gatunos?!"
"JÁ NÃO DISSE QUE A RAZÃO CASA COM A JUSTIÇA, E JUSTIÇA COMEÇA NA ORDEM DE CHEGADA?! QUANDO É ASSIM, TAMBEM SE QUEIXA, PRIMEIRO, OK?!
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Benguela, 28.07.2017
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Cartaz de comemoração do 5.º aniversário da editora brasileira Penalux destaca O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro de contos do angolano Gociante Patissa

Para mais, queira visitar a editora paulista neste endereço http://site.editorapenalux.com.br/ e encontre também disponível ALMAS DE PORCELANA, colectânea poética também de Patissa
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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

(arquivo) Diário | “OH! NÃO ERA PARA TERMOS A CORAGEM DE COMEÇAR A MUDANÇA AFINAL?...”

“Meu, mano, é como então que estás a ver isso?”
“Eh, pá. Devagar. O fim d’ano está aí, a agitação daqui a pouco é aquela, e os mambos estão caros…”
“Mas o angolano é assim porquê então?! Com tanta coisa boa a acontecer, você fica a lamentar? Não ouviste ainda que já podemos bazar para a South sem precisar de visto, né?”
“É verdade, mano…”
“Então?!… Fica contente, meu wi. Moçambique a abrir as portas assim à toa para o mwangolê, xé!”
“É verdade. Só falta já os dólares regressarem das férias…”
“Estou-te a falar, sócio! Esse João Lourenço é homem! O tempo dele está a trazer assim uma tuza diferente, né?”
“De facto, abrem-se tempos de novas esperanças…”
“Esse mambo tinha que mudar. E ainda vai mudar mais! Corrigir o que está mal nas instituições, mudar a moral, endireitar este país…”
“Seria bom… Neste caso não só as instituições, mas também cada um de nós mudar, né?”
“Claro, meu velho! Temos que ter a coragem para enfrentar a mudança! Porque esse país tem tudo para dar certo, palavra de honra, velho…”
“Desculpa só interromper. Estás a ver o que aquele senhor está a fazer?”
“Nada. Estive de costas, não galei. Hã, é o quê?”
"Ele fez manobra arriscada, embateu contra o separador de metal e depois derrubou poste de iluminação, destes que ainda não acendem. Aquilo ficou danificado. E ele está a querer fugir. Como é que um cidadão destrói o património na via pública, o património que é de todos e quer fugir para não ser responsabilizado?! Já viste? Tens o número da polícia?”
“Para quê só?! Não se mete, velho. Vais querer complicar a vida do outro angolano igual porquê? Esse dinheiro da tal multa nem entra no teu bolso. Você por acaso viu quanto dinheiro facturaram com esta obra?”
“Oh! Não era para termos a coragem de começar a mudança afinal?...”

www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto da Catumbela | 03.12.2017
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Pena não se saber a fundamentação da medida. Incentivo à auto-aceitação? Receio de ser a causa da onda de desmaios escolares por intoxicação?

Foto via JC, in FB
Uma pesquisa rápida permitiu aferir que não se trata de uma medida de todo nova, porquanto já no ano lectivo de 2015 foi motivo de notícia na TPA
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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Crónica | Um renascentista à mwangolê (*)

Foto: Visão (sapo)
Ultimamente, na vigência do milagreiro dos cargos à queima-roupa, como é apodado justa ou injustamente, isto anda tudo assim. Paparicar o telefone até no chuveiro, ouvidos no noticiário, olhos nas redes sociais. O problema é que quando o telefone dos outros toca, é nomeação. O meu? Já só conseguiu sair de silêncio para beep. Vinha o bendito beep de um número desconhecido com o prefixo +248, a partir de Seicheles, o menor país africano. Ai! Quase! O sangue está sujo, só pode!

Sua Excelência Eu olhou para a chamada perdida e pensou: tendo em conta que a lista de nomeações e exonerações beira o fim, será que vamos a tempo de apanhar uma deportação para Seicheles em comissão de serviço? Seria melhor que nada, não é? Mas aí depois assentou o cu à realidade e se convenceu do quanto, em termos de protagonismo mediático, nem para uma deportação fez o suficiente por merecer. Seja como for, se há algo de que o angolano nasceu já talhado a gostar e seguir empolgado é de coisas novas. De sorte que Sua Excelência Eu se juntou também a esta fila de expectativas transversais, em certos casos irreflectidas. João Lourenço (JLo) é o renascentista desta Angola que, garantidamente, nunca mais será a mesma.

Seja bem-vindo, caro leitor, à crónica inaugural neste desafio que nasce do convite formulado pela Direcção deste jornal no sentido de animar uma coluna que Sua Excelência Eu espera duradoira. O registo aqui será coloquial q.b.

Ouviu-se há dias o impopular analista Gildo Matias chamar atenção para a racionalidade na leitura sócio-política das medidas e roturas que o novo presidente leva a cabo, porquanto, frisou, “antes de João Lourenço, havia país”. Realmente é preciso alcançar a profundidade nesta asserção que à primeira vista parece tautológica. Todo este entusiasmo mais não é, afinal, do que um hiato entre o manifesto de intenções e um passado agridoce. O passado é tudo o que de concreto temos. E o futuro? Ora JLo “orientou” aos recém-empossados gestores da comunicação social pública a dar mais voz à sociedade civil, no que se infere um levantamento da cortina tácita e maniqueísta que equipara voz discordante à oposição política efectiva.

Os festejos da independência nacional ganharam mais animação com a notícia dos cortes nas mordomias dos deputados que, sabe-se já, ficam sem os tão contestados Lexus. O mês de Novembro, há que dizê-lo, não tem sido aconselhável para automobilistas. É tanta emoção colectiva que distrai a atenção necessária na rodovia, quanto mais não seja pelas repentinas viagens às memórias, como de resto ocorre com Sua Excelência Eu ao rememorar o emblemático João Baptista Cafumbeiro, percursor das greves de fome no início da década de 2000, pese embora sem a mesma mediatização da geração posterior.

Líder de ONG de apoio aos carentes e com cariz messiânico, também dono de um carisma de antigo praticante de futebol, Cafumbeiro começava a celebrizar-se pelos jejuns de mais de três dias, no Mercado Municipal do Lobito, onde acampava. Usava túnicas e era acorrentado por discípulos. No seu ar cómico, dizia incomodar-lhe que houvesse em Angola demasiados carros mas que nenhum era dele. Chegou a projectar um jejum de dimensão internacional que teria lugar diante da Assembleia nacional, onde acamparia agrilhoado durante sete dias, ao fim dos quais seria desacorrentado pelo então presidente de parlamento, Roberto de Almeida. O certo é que nunca mais se ouviu falar dele nem da ONG. Perdeu-se por Luanda?

Quanto ao que está para vir de JLo, o renascentista à mwangolé, ao contrário de muitos, Sua Excelência Eu até não é nada contra as promessas, sejam elas eleitorais ou do exercício administrativo. Elas dão indicadores de cobrança de resultados e de coerência, sob o ponto de vista do exercício da cidadania e da ética social, desde que garantidos os pressupostos para esta monitoria: uma imprensa que escrutina arquivos (para lá do facto do dia), uma sociedade civil consistente e uma mentalidade cidadã participativa. Ainda era só isso. Obrigado.
Gociante Patissa | Benguela, 17 Novembro 2017 
(*) Texto inicialmente escrito para a edição inaugural de um jornal semanário luandense 
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Debate | A publicidade em Angola é rentável?

Em teoria, os órgãos de comunicação social são sustentados pela publicidade. Na prática, vemos jornais privados nascerem e morrerem por falta de anunciantes nas suas páginas. Já as rádios (também privadas) têem blocos de publicidade várias vezes ao dias, o que é indicador de rentabilização dos espaços. Ainda assim, os quadros queixam-se geralmente de baixos salários e da consequente condição social de desenrascar.
Q1: Afinal a publicidade gera ou não receitas consideráveis?
Q2: Se os empresários são praticamente os mesmos, por que motivo desistem de publicitar os seus negócios nos jornais?
Q3: Qual deveria ser o salário mínimo mais justo/digno para um jornalista sénior? Quanto devia ganhar um jornalista júnior e quanto receberia um colaborador?
A palavra agora é consigo. Ainda era só isso. Obrigado
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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Em linhas tortas (31)

Os problemas sociais de Angola, de tão imensos, propiciam um panorama amorfo de abordagem. Ultimamente invade a sensibilidade um protesto caracterizado pela partilha de fotografias dramáticas com simulacro de morte, corpos entalados por objectos de peso. Tão violentas como o peso da vida real de muitos angolanos. De crises financeiras, não somos propriamente virgens, bastando recordar a de 1986 (que inaugurou a venda de água aos copos no mercado informal no litoral de Benguela). Houve ainda a crise humanitária pós-eleitoral, de 1993 a 1995 que, dentre outras cicatrizes, teve a proeza de encher as avenidas de cadáveres quais folhas caídas de uma primavera (que o nosso clima não prevê). Fala-se de uma outra por volta de 1998, tendo as três em comum o contexto da atroz guerra civil. Daí que uma comparação entre aquelas e a que se instalou no ano de 2015 seja complexa, sob o prisma de como o solavanco macroeconómico se reflecte no dia-a-dia do cidadão. O contexto actual é bem mais favorável. De 2006 a 2014 houve crescimento notório na oferta de empregos na função pública e no sector privado. Na falta de um enquadramento mais técnico, salta à vista que a actual crise tem efeito maior na estabilidade dos cidadãos em virtude de dois factores: o acesso à informação e a suspensão do acesso às divisas. Na era das redes sociais, estamos expostos a um turbilhão de informações (a oficial, a oficiosa e a falsa) passível de tolher o discernimento. Se a situação do país exige apertar os cintos e você verifica que de modo transversal se adopta o sacrifício, a estabilidade é consequência natural cognitiva. Mas se volta e meia se é bombardeado com escândalos, descaminho e ostentação… O paradigma já não é o do emissor-receptor mas o do emissor-receptor-emissor. O segundo factor seria o bloqueio no acesso às principais moedas estrangeiras, o Dólar e o Euro, reduzindo à sensação de entulho os rendimentos em Kwanzas, numa sociedade dependente da importação (várias empresas foram à falência e por inerência a extinção de vários postos de trabalho). Fecho este apontamento com a tristeza pela notícia do suicídio de Didalelwa Júnior, filho do antigo governador do Kunene, por alegado inconformismo face à recolha compulsiva de bens do Estado em posse da família na sequência da morte do pai. Na minha qualidade de filho de antigo dirigente e governante (na época em que era missão, não se acumulava riqueza), sei de cor a sensação de abandono social dos órfãos por parte dos antigos camaradas. Mas se fosse a optar pelo suicídio, talvez não sobrasse um único dos meus irmãos. Ainda era só isso. Obrigado. 

Gociante Patissa | Benguela, 23.02.2018 www.angodebates.blogspot.com
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Divagações | Nepotismo é quando o autor esgota os próprios livros antes de o leitor saber

Num gesto de puro nepotismo e concorrência desleal, sua excelência eu entrou na livraria e ocupou os quatro exemplares, por sinal os últimos e únicos, sem dar margem à possibilidade de haver outros leitores à procura do livro de contos que chegou a ser publicitado na TPA2. Depois de receber o alerta do regresso de FÁTUSSENGÓLA, O HOMEM DO RÁDIO QUE ESPALHAVA DÚVIDAS (Gociante Patissa, 2014) às bancas das novas instalações da livraria TEXTO EDITORES, Benguela, que fica na rua Domingos do Ó, foi inevitável voar para lá e repor a biblioteca caseira. O preço de capa ficou-se pelos 600 Kwanzas, contra os originais 500 Kwanzas estabelecidos pelo organismo mentor do projecto, o já extinto GRECIMA, suportado por fundo públicos. Cai, assim, por terra o argumento da Leya, segundo o qual nada mais tem o autor a receber pelos royalties (direitos autorais) em virtude de já não haver exemplares à venda, considerando que, se em Benguela houve registo de vendas em 2018, certamente em outras paragens do país (onde o autor é desconhecido e a procura é menor) também haverá. Voltando ao gesto de ser o autor a comprar os seus próprios livros num acto de concorrência desleal, fica claro que o nepotismo afinal parece que só é mau quando não nos beneficia, né? E assim voltamos ao quadro desértico anterior: continua esgotado no mercado o livro de contos FÁTUSSENGÓLA, O HOMEM DO RÁDIO QUE ESPALHAVA DÚVIDAS porque os quatro exemplares que marcaram o seu regresso foram adquiridos pelo próprio autor. Que mau, né?… Ainda era só isso. Obrigado hahahah  www.angodebates.blogspot.com
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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Citação

"É que está na moda. Agora em Benguela, para arrastar miúdas [ter sexo ocasional], tens que ter liamba no carro, ó chefe"
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Utilidade pública | Concurso Lusófono da Trofa 2018 “à procura” de novos autores, prémios no valor de 4500 euros

O Concurso Lusófono da Trofa, de âmbito internacional, um dos concursos literários mais prestigiados e mais conhecidos dos países lusófonos está de volta em 2018. Aposta na promoção e salvaguarda da literatura infanto-juvenil, que fomenta o gosto pela leitura, estimulando o espírito de iniciativa, ao mesmo tempo que desenvolve e incentiva a escrita criativa, estende-se a todos os países de língua oficial portuguesa, nomeadamente Portugal, Angola, Brasil, Moçambique, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Guiné Bissau e Timor. Os vencedores serão revelados nas Comemorações do Aniversário do Município, em Novembro.
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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Correios de Angola surpreendem pela positiva | "O HOMEM QUE PLANTAVA AVES", livro de contos de Gociante Patissa, editado pela brasileira Penalux, chega às mãos do autor

Sua excelência eu foi notificado pelos Correios de Angola, na cidade de Benguela, por volta do meio-dia de hoje (21/02), para fazer o levantamento uma encomenda a si dirigida.

Trata-se dos dez exemplares a que tenho direito enquanto autor do livro de contos "O Homem Que Plantava Aves", editado sob iniciativa e custos da editora paulista Penalux, Brasil, dirigida por Tonho FrançaWilson Gorj, depois de já termos publicado no ano de 2016 o livro "Almas de Porcelana", poesia reunida de Gociante Patissa

Na verdade, com base em experiências similares, contava com pelo menos 30 dias, uma vez que, do rastreamento feito, o pacote foi expedido do Brasil para Angola no dia 06 de Fevereiro, o que perfaz (o tempo record de apenas) 14 dias consecutivos, contra os habituais 30 a 60 dias. 

Do ponto de vista numérico, dez unidades são poucos exemplares, passíveis até de me pôr a comprar briga com os irmãos que por tradição constituem a linha da frente de distribuição. Já sob o ponto de vista simbólico, é reconfortante afagar o papel e olhar para a história à volta do livro (ah, gostei da simplicidade da capa, do layout e tudo!). Mantém-se a esperança de o ver editado em Portugal e em Angola também (não sei é dizer quando nem como nem por quem). Aqui ficam, portanto, a gratidão e os parabéns repartidos entre a editora Penalux e os serviços de Correios de Angola. Ainda era só isso. Obrigado. Gociante Patissa | Benguela, 21 Fevereiro 2018 | www.angodebates.blogspot.com
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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Do poeta José Luís Mendonça | “ANGOLA, ME DIZ AINDA” será apresentada amanhã na União dos Escritores Angolanos

Imagens: Divulgação

O poeta José Luís Mendonça apresenta esta quarta-feira, dia 21, pelas 18 horas, na sede da União dos Escritores Angolanos, a sua mais recente obra poética “Angola, Me Diz Ainda”.
Para Mendonça, há política em certa poesia, a chamada poesia de intervenção.
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Utilidade pública | Lançamento da Antologia poética da escritora Amélia Da Lomba, com prefácio e apresentação do académico Francisco Soares, a ter lugar no Camões de Luanda na 5ª feira (22/02)

Fotos via Facebook
«Na ANTOLOGIA, que vai agora ser lançada, AMÉLIA DALOMBA reúne poesia publicada entre 1995 e 2005, dividida em sete capítulos. Cada capítulo corresponde a uma obra publicada, ao longo daquele período, numa sequência cronológica decrescente. “Senhor Há Poetas no Telhado, publicado em 2015. “Sinal de Mãe nas Estrelas”, publicado em 2008. “Aos Teus Pés Quando Baloiça o Vento”, publicado em 2006. “Noites Ditas à Chuva”, publicado em 2005. “Espigas de Sahel”, publicado em 2004. “Sacrossanto Refúgio”, publicado em 1996. “Ânsia”, publicado em 1995. 

Francisco Soares, que prefaciou e fará a apresentação da obra diz: “AMÉLIA DALOMBA tem desenvolvido uma vocação poética única no panorama literário da sua geração e, mesmo, no panorama literário angolano. 
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Utilidade pública | Repassando convite de empresa internacional que procura tradutores de Umbundu e Kwanyama

«Hi Daniel, 
Thank you for accepting my connection invite.

Appen is looking for native Angolans who speak either of the following languages: Kwanyama or Umbundu for an urgent projects. The work will involve categorizing audio prompts or search items based on keywords and classifying them into common words, proper noun and etc. You will also be asked to edit any misspelled words if there's any.
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Conto angolano mais acessível | ESCRITOR GOCIANTE PATISSA VOLTA A DISPONIBILIZAR AOS INTERNAUTAS LIVROS A CUSTO ZERO

Passamos para recordar que "essas duas books", como diria o outro, estão disponíveis para distribuição imediata na sua versão digital (PDF) a custo zero, contando A ÚLTIMA OUVINTE (2010) com o beneplácito da União dos Escritores Angolanos, a editora. Já no caso do FÁTUSSENGÓLA, O HOMEM DO RÁDIO QUE ESPALHAVA DÚVIDAS (2014), uma vez extinto o Grecima que o editou no quadro da bolsa literária Ler Angola, e nunca tendo sido assinado qualquer tipo de contrato, os direitos passam tacitamente para o autor, sua excelência eu, até prova em contrário. Escreva para patissagociante@yahoo.com e habilite-se ao pacote. Ainda era só isso. Obrigado
www.angodebates.blogspot.com
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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Diário | Assim o que é que vem primeiro, a sopa ou o cozido?

“Bom dia, senhora. O que é que pretende almoçar?”
“Bom dia, jovem. O que têem para almoço?”
“Prato do dia, temos frango chorrasco, cozido à portuguesa, essas coisas… Fora disso, é só falar o que deseja, a casa vai satisfazer a necessidade…”
“Traz o menu, faz favor…”
“É mesmo isso. O menu ainda não temos, falta escrever…”
“Mas é assim tão difícil abrir o Excel e lançar preços?! Há quanto tempo isto abriu?”
“Três meses ainda só…”
“Então como é que vocês trabalham?”
“É só perguntar, eu falo os preços…”
“De cabeça?”
“Posso pedir na patroa. É só falar, eu vou ir falar, é rápido.”
“E vocês não dizem à patroa que os clientes reclamam a falta de um menu? Vocês não ficam cansados de memorizar preços como se estivéssemos na era da sociedade feudal?”
“A patroa então é bwé com-pi-li-ca-da. Entra num ouvido, sai no outro. Até parece já nem entra…”
“Angola, Angola! Sempre a puxar a carroça para trás…”
“Falou como, senhora?”
“Nada de pertinente…”
“Xê! A senhora assim vai ler essa bíblia toda aqui?…”
“Claro! Sociologia é um ramo cativante.”
“Eu por acaso não gosto de ler, me dá sono. Ahhh! Desculpa, até já estou a bocejar… mas tudo que preciso, pergunto só no meu professor…”
“Pelo visto, tenho muito a aprender aqui…”
“Por exemplo, o que está a ler, eu sei. Sociologia é tipo psicologia. É a mesma coisa. A diferença é que a psicologia só estuda só uma pessoa mas a sociologia estuda muitas…”
“Pronto, vou querer a sopa e o cozido à portuguesa.”
“E para beber?”
“Por enquanto, nada…”
“Mas a senhora é assim porquê?!”
“Assim, como?”
“Come só assim a seco e não vai pedir bebida…”
“Jovem, vou querer a sopa e o cozido à portuguesa.”
“Ok. Assim o que é que vem primeiro, a sopa ou o cozido?”

www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Benguela, 19.02. 2018
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sábado, 17 de fevereiro de 2018

Papo na Rádio Morena com escritor Gociante Patissa sobre literatura e desafios ao ensino do Umbundu (44 min)

Uma conversa solta com o escritor benguelense Gociante Patissa, que foi o convidado da edição de 17 de Fevereiro de 2018 do programa AIWÉ, SÁBADO na RÁDIO MORENA COMERCIAL, em BENGUELA, ANGOLA, com principal incidência para os desafios à produção literária em Angola e também os factores à volta do ensino das línguas africanas, com destaque para o Umbundu. Entrevistadores: CONSTANTINO TCHIVELA e RAQUEL NGUNDJA. Duração: Aprox. 44 minutos


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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Em linhas tortas (30)

A semana que amanhã finda voltou a colocar na agenda o secular e fracturante tópico do que é (ou não) ser (e/ou sentir-se) angolano, tendo como factores de excitação, por um lado, a hipotética ideia da contratação de professores cabo-verdianos e, por outro, o vídeo de cidadãos congoleses que teriam adquirido por via ilícita o passaporte angolano e postos no Brasil alegam ser vítimas de perseguição política (coisa que qualquer angolano com o mínimo de coerência sabe que não cola, na medida em que as mais sonantes vozes discordantes passeiam pelo país. É verdade que temos um registo recente de assassinato de líderes de partidos da oposição no interior do país, parte deles ainda por esclarecer, o que é vergonhoso. Mas, não haja dúvidas, a diatribe daqueles dois “langas” do vídeo, só mesmo no mundo da fantasia). Havendo a condenar obviamente as saídas extremadas, também não podemos (em defesa de seja que direito for) ignorar que a corrupção endémica em Angola tem permitido a “venda” (de forma escandalosa) de documentos que habilitam a obtenção da nacionalidade, pondo em causa as conquistas de todos os que lutaram e suaram para construir este país, não se sabendo desde já o que o governo/estado pensa fazer para corrigir esse mal. Temos depois, ao que tudo indica, que os restantes países de expressão portuguesa têm o direito de, através de políticas da natureza migratória e outras de natureza pública, salvaguardar a sua soberania e deixar claro quem é e quem não é nacional, com toda a acuidade de recurso à socio-história. Só Angola não pode (digamos, antes, não deve) porque é ofensivo. Quem viaja para lá do território da sua teia cultural facilmente se convence (ou é levado a convencer-se) de que, salvo em casos de dupla nacionalidade, ou somos nacionais ou somos estrangeiros. Até na Namíbia, os angolanos que lá residem desde a era dos contratos (antes da independência) continuam sem o direito a se naturalizarem, por mais namibianos que assim se identifiquem. Os outros têm a prerrogativa de dar vez à vontade de ser ou sentir-se angolano, o que seria ainda mais nobre se estrada de vários sentidos fosse. Os congoleses fazem questão de tratar o angolano exactamente como angolano, não poupando, como se deu recentemente, na violência para escorraçar até famílias que lá residiam há mais de 40 anos. Já o oposto (excluímos o critério da violência) não é válido. Torna-se ofensivo. Em Cabo-Verde, o angolano é angolano. O inverso do paradigma não se coloca, porque ofende. Bom, pondo de parte essa coisa das filosofias expansionistas (tendentes à reedição de paradigmas algumas vezes já desmontados), e recolhidos ao limite da nossa pouca formação, tentamos dar um contributo mais para o sensorial. Sendo líquido que nos queixamos de na ementa dos restaurantes em Angola predominar uma gastronomia que dá pouco espaço aos pratos “típicos” locais, ante o risco de qualquer dia os nossos patrões chineses dominarem o negócio, sua excelência eu achou por bem incentivar a afirmação dos pratos africanos que timidamente são servidos. O funji (há quem lhe chame pirão, shima, no leste) é a iguaria mais imediata. Embora o melhor seja o de casa, o do restaurante merece a nossa atenção como forma de elogiar o arrojo da gerência em coloca-lo entre as opções de buffet, sabendo à partida que vai sobrar, pois não está entre as prioridades dos hábitos de consumo do segmento de clientes do ramo da restauração. Ali é que entra o problema. Acontece que o funji, sendo uma massa feita com farinha do milho e água, torna-se pesado na balança, encarecendo o preço do prato. Paradoxalmente, o alimento mais barato de produzir (1 Kg de milho não deve estar acima de 200 kwanzas), acaba jogando o papel de repelente, já que pela lógica da balança fica mais caro do que o peixe, a carne, o arroz, o esparguete, o marisco, o feijão, enfim… A sugestão é os estabelecimentos taxarem um preço fixo para o funji, do mesmo jeito que fazem com a sopa. Pesar-se-ia só o respectivo conduto (em outras paragens, molho). E em nosso entender, o preço justo devia andar abaixo dos 400 Kwanzas. Ainda era só isso. Obrigado
www.angodebates.blogspot.com Gociante Patissa | Benguela, 16.02. 2018
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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Citação

«Entre nós, dum modo geral, os músicos e escritores têm de financiar a edição das suas obras, passando as editoras a ser meros prestadores de serviços. Ao nível mundial, a lógica da edição é a inversa. É o editor quem financia as edições e remunera o autor, nos termos do contrato que haja sido celebrado. A isso, adicionalmente, entram nos bolsos dos autores os valores a que tenham direito, cobrados e repartidos pelas sociedades de gestão colectiva, ou seja, pelas sociedades e cooperativas de autores que fazem a gestão colectiva dos direitos dos autores. Tais cobranças têm a ver com a chamada “execução ou utilização pública de obras publicadas” (rádios, televisões, restaurantes, shows, enfim, todos os espaços que usam música ambiente) e com a “cópia privada”, aquela que se faz nos CDS, DVDs, pen drives, fotocópias.»
- António Fonseca (economista, diplomado em estudos Superiores Especializados de Política Cultural e Acção Artística), in CULTURA - Jornal Angolano de Artes e Letras, Luanda, 13 a 26 de Fevereiro de 2018)
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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Em linhas tortas (29)

Que desenvolvimento parasita é este que parece ser a sina do litoral da província de Benguela, com os espaços públicos à mercê da privatização para particulares, ao que se diz, nem sempre distantes das simpatias do palácio da praia Morena, entra governador, sai governador?! A praça primeiro de Maio, no Lobito, lugar tão simbólico e ponto de encontro entre a cidade velha e a zona alta, pelo desporto e pela cultura, acabou abocanhada a favor dos sul-africanos da Shoprite. É um legado infeliz da era Dumilde Rangel. A antiga Escola/Lar da Uneca, construída por cubanos ali na Kambanda, acabou privatizada a favor de portugueses (e não só), no que hoje é o Colégio Benguela, precisamente numa cidade em que o défice de escolas primárias é notório e mesmo no centro vemos alunos estudando ao relento (a escola ao lado da Angola Telecom é um exemplo). Eis um legado de triste memória da era Armando da Cruz Neto. Nos dias que correm, da praia do Pequeno Brasil, extensão da praia Morena, já só sobram memórias, tal é a tendência voraz do seu talhonamento, um espaço que sobreviveu aos quinhentos anos de ocupação colonial portuguesa mas que sucumbiria nas ambições e narrativa de desenvolvimento da era Isaac dos Anjos. Um dia foi o Morena Beach, por quem dá a cara o empresário Anselmo Mateus, embora haja também quem atribua a sua titularidade ao músico Matias Damásio, que esteve envolvido no projecto por via da sua empresa Arca Velha, na condição de financiadora. Ao lado lhe cresceu um infantário que atende pelo nome de Avó Inha (quando o assunto é citar o nome da proprietária do empreendimento, ao contrário do restaurante Morena Beach, aí já é com pinças). O que para alguns é questionável do ponto de vista da coerência é a determinação, a essa altura do campeonato, em travar a construção de um ginásio no mesmo corredor, quando não se conseguiu (ou não se quis) "combater” as duas infraestruturas de betão que lhe são vizinhas. Exceptuando o espaço que deu lugar ao estaleiro de construção de estruturas para o sector petrolífero pertencente à Sonamet (este, sim, de um impacto enorme no desenvolvimento e nas receitas), parece inevitável nos perguntarmos: que raio de desenvolvimento é este que não reverte a favor do estado a transformação de espaços públicos? Que desenvolvimento parasita é este que do comércio não passa? Que desenvolvimento parasita é este que os (intencionalmente) bons projectos não conseguem ganhar corpo desbravando zonas "virgens" e surgem como que à socapa (porque não há conhecimento público do tipo auscultação) para ocupar espaços onde já há água, asfalto e luz? Quando é que começaremos a responsabilizar as pessoas por erros de gestão na administração pública desde que se achem indícios de se ter beliscado a ética e a probidade? Ainda era só isso. Obrigado
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Benguela, 14.02.2018
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Diário | Vamos só esquecer, ya?...

“Amor, este lugar que escolheste para o jantar do dia dos namorados não é muito caro? Não te quero causar prejuízos, mor. Sofreste aumento no salário, será?”
“Oh, minha rainha, não liga isso; você merece muito. Hoje é dia especial. Até o próprio wi São Valentim estaria de acordo comigo…”
“Obrigada, você é mesmo um romântico, ya?…”
“Obrigado a você também, miúda, você me completa a metade da cara…”
“Mas, ó mor, afinal quem foi esse São Valentim?”
“Ei, dama, não vale a pena nos metermos em política, vamos só aproveitar a parte boa. Não vamos estragar o nosso jantar, ya? Depois logo ainda corremos só o risco de estragar o puro ambiente de fazer o nosso amor de direito, né?…”
“Como assim, política?!”
“A paz já chegou, vamos esquecer a guerra. Por isso é que há se dar flores e amar com força, cada panela com a sua tampa, bem ou mal…”
“Ainda não apanhei a tua ideia, meu bem. Só perguntei, por cultura geral. Quem foi afinal esse São Valentim que nos ofereceu o dia 14?…”
“Não sei, querida. Bem, já que insistes, né?… Pelo nome, acho que foi da Unita. E se foi um gajo como aquele parente dele, o Jorge, vamos só esquecer, ya?...”
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Catumbela, 14.02.2018
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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Diário | Mas o senhor é ou não secretário do secretário?

"Aló, bu noiti!"
"Muito boa noite e votos antecipados de bom apetite ao jantar. Quem fala mesmo?"
"Tenho um assunto macro-didáctico para reivindicar. É o senhor secretário do secretário?"
"Mais ou menos. Mas eu gosto de esclarecer sempre, porque - claro está - a administração pública não é fácil de se lhe entender como parece, não é verdade?... Porque quem o ouve proferir estas palavras é levado e pensar, enfim, que estamos a tratar de uma função de corredor de armazém, sabe? Já agora, não disponho de tempo, se o senhor puder ser breve, agradeço, não é verdade?"
"Mas o senhor é ou não secretário do secretário? Eu tenho um recado para o senhor Ministro..."
"O senhor tenha calma. E eu por norma, até, não atendo números desconhecidos, não sei como hoje. Portanto abri uma excepção. Mas é como diz o nosso povo, uma vez que o céu baixou ao seu alcance, o senhor aproveite arranhá-lo de tudo, não é verdade? Corrigindo, não sou propriamente secretário de um secretário qualquer. Estamos a falar ao nível de um vice-ministeriado, não é verdade? Sou secretário-geral do gabinete de sua excelência o senhor secretário de Estado da Educação para..."
"Já entendi, excelência. É mesmo consigo que pretendo falar. É assim, meu senhor, tenham mais vergonha, faz favor..."
"Mas do que é que está a falar? É que até agora falamos de tudo, menos do motivo deste inusitado telefonema, não é verdade?"
"Quero que o senhor transmita ao vosso ministério a insatisfação minha e de mais homens de bem. Tenham lá melhores ideias! Pensem mais na pátria! Sinceramente, pá! Que cooperação é essa, justamente numa fase em que muitos formados no sector estão desempregados?! Assim também não! Mas o senhor acha mesmo que está bom isso que se ouve que o ministério vai contratar e importar professores cabo-verdianos?! P'ra quê mais, com tanta porrada de homem que aqui há?! Ainda ao menos se fossem só já as professoras, né?, morenas assim bem fresquinhas para diversificar aqui o coiso e quê, hum, seria mais ou menos, né?"

www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Benguela, 12 Fevereiro 2018
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Fica a dica

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domingo, 11 de fevereiro de 2018

Há 13 anos, era preciso escalar a bancada deste campo de futebol para se ter um mínimo de sinal de rede no telemóvel e assim falar com a família, deixada no litoral

Há 13 anos, era preciso escalar a bancada deste campo de futebol para se ter um mínimo de sinal de rede no telemóvel e assim falar com a família, deixada no litoral. Acabo de regressar de um fim-de-semana que se pretendia turístico na província do Huambo. Sempre que ali me desloco, faço questão de visitar o município da Tchikala Tcholohanga, que faz parte da minha história profissional a partir daquele mês de Outubro do ano de 2005 quando fui contratado pela ONG internacional inglesa, Save The Children UK, para o posto de assessor da líder de equipa na pesquisa qualitativa em grupos focais sobre Crianças Órfãs e Vulneráveis, coordenada pela australiana Susan Dow. Era até então o salário mais alto da minha vida (1600 USD, mais hospedagem e alimentação). Foi um contexto de miséria particularmente difícil de testemunhar como pesquisador, tendo entre o grupo alvo angolanos retornados da Zâmbia que não tinham literalmente nada para conseguir sobreviver, numa altura em que o PAM (programa alimentar mundial) dava por terminada a sua missão de assistência humanitária. Às vezes visito o passado para não me perder de quem sou e assim valorizar cada sacrifício por que passei para cada conquista nesta vida, digo naturalmente, sem nunca precisar de forçar nada nem usurpar o mérito de ninguém em busca de auto-aceitação e impor visibilidade social. Ainda era só isso. Obrigado
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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Outras leituras | Trecho de Another Day of Life (*)

«Oh, Senhor! Apesar de imensas súplicas que Lhe dirigimos, continuamos a perder as nossas guerras. Amanhã estaremos envolvidos em uma batalha de verdade. Com todo o nosso poderio, precisamos do seu auxílio e é por isso que Lhe devo dizer algo: Esta batalha de amanhã será um caso sério. Não haverá lugar para miúdos. Portanto, devo pedir-lhe que não envie o Seu Filho para nos ajudar. Venha você mesmo.»

(*) Traduçao do Blog www.angodebates.blogspot.com da prece de um guerreiro de nome Koq, pertencente à tribo N'Khosa, na África do Sul, recitada na véspera da batalha com os Boers no ano de 1876, dirigida, também, provavelmente ao mesmo Deus cristão, conforme citado no livro «Another Day of Life» [Pinguim Books,África do Sul, 2001], da autoria do repórter polaco Ryszard Kapuscinski, sobrea Guerra de Angola
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Em linhas tortas (28)

O centro da cidade de Benguela está tomado de assalto por homens de fato e gravata, não lhes faltando a rosa na lapela. Parece uma feira ambulante de noivos, mas logo fica a dúvida, na medida em que não se fazem acompanhar de grinaldas. Por enquanto são apenas advogados a prestigiar a vinda do seu bastonário, Monteiro de sua graça. Fazem-se acompanhar daquele defeito de se tratar por doutor disto e doutor daquilo, um formalismo que já é marca. Boa parte deles, enquanto se juntam ao "cortejo" glamoroso, quase competindo em rasgados sorrisos e veneração à altura do decoro, não perdem a oportunidade de ir murmurando por uma alegada morosidade burocrática da entidade cujo punho homologa a sua passagem de estagiários a advogados com licença efectiva. "Afinal quer verificar mais o quê nos processos que se acumulam?! O Cachimbombo, até, não complicava ninguém".  Pensemos em abrir uma boutique, que do resto as universidades cuidam, formandos em direito é o que não falta. Ainda era só isso. Obrigado | www.angodebates.blogspot.com
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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Debate

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Opinião | Sobre o feitiço, uma agenda informativa inconsequente?

Imagem: Berimbau Notícias (Brasil).
Acompanhei com redobrado desgosto no noticiário da Rádio Mais do Lobito uma peça sobre o intrigante tema da feitiçaria, sobretudo pela ligeireza do ângulo de abordagem. Na referida matéria, apresentada com um implícito tom que oscila entre o criminal e a punitiva moral cristã, ouvia-se uma senhora que alegadamente confessava ser responsável pela morte de três filhos seus por meio de um feitiço que recebera de um tio seu.

Pelo sotaque, a acusada é da etnia Cisanji, do município do Bocoio. Tal feitiço, relatado na voz triunfalista do locutor e mais tarde reforçado pela suposta bruxa confessa, seria também responsável pela atracção do êxito na produção agrícola só para ela, enquanto para as demais lavras vizinhas o ano produtivo foi de desgraça. No trecho que acompanhei não se ouvem sociólogos nem psicólogos nem historiadores nem antropólogos nem autoridades tradicionais. A peça termina com a senhora a dizer mais ou menos o seguinte:

«Sempre que os familiares vão ao kimbanda para o trabalho de adivinha, o meu nome é que sai visado. Então, eu disse que como sempre é a mim que acusam de estar a causar o mal à minha própria família, então confesso e entrego o tal feitiço.»

Será a confissão substância suficiente para a pauta do tipo “facto do dia”? Enfim, é de uma superficialidade inquietante, na medida em que não se consegue vislumbrar o papel da rádio no day after da “notícia”. Voltará ela ao mesmo meio social após esta difusão “bombástica”? Em caso de retaliação violenta, a quem iremos cobrar responsabilidades? Seria mesmo um assunto para tratar na comunicação social, ademais sem ser numa perspectiva de interdisciplinaridade (congregação de vários saberes para uma melhor compreensão do quadro psicossocial dos agentes envolvidos na problemática)?

A Rádio Mais embarcou numa “especialidade” da editoria Umbundu da Rádio Benguela, onde a exposição de alegados feiticeiros acaba, não alimentando a coesão social, mas o sensacionalismo efémero. Há meses, uma senhora do Cubal teria assumido autoria da inflamação da barriga do marido (num quadro de ascite), alegadamente por ter preparado o feijão com a água antes usada para lavar as partes íntimas dela para o tornar mais manso. E lá se ouvia o locutor justiceiro a puxar as orelhas pelo microfone, assumindo como suas as dores de um “crime” que para já não testemunhou.

E não é só em Benguela. Noto uma tendência inconsequente, quase exótica, de abordar o assunto da feitiçaria nas agendas informativas de algumas rádios, sempre no prisma de cidadãos que confessam autoria de danos (algumas vezes irreparáveis) na vida de outrem. A impressão que fica é de caminharmos para um exercício jornalístico social kamikaze.

Há dias recebi o áudio de uma das rádios de Luanda a reportar uma criança de doze anos que se dizia, à semelhança de outras da sua rede, utente do poder sobrenatural de transformar qualquer um em qualquer coisa. Gabava-se de ter causado deficiência a um agente da polícia por alegadamente não lhe pagar a dívida do negócio. Teria recebido o feitiço de uma “langa” (cidadã oriunda do Congo Democrático), sua sequestradora.  

Faz imensa falta nas redacções a figura do editor de cultura, aquele profissional dotado de vasta cultura geral e compreensão endógena da idiossincrasia do grupo etnolinguístico predominante na região. Informar por informar não forma. Ainda era só isso. Obrigado.

Gociante Patissa | Benguela, 8 Fevereiro 2018 | www.angodebates.blogspot.com
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A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

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