quinta-feira, 21 de abril de 2016

Opinião | Ainda os quatro chineses assassinados e a desproporção no tratamento

É louvável o trabalho que a TPA faz em denunciar, chamar especialistas para comentar, no seu papel pedagógico de promoção da cidadania e harmonia social. Tão louvável que deve continuar, mesmo quando a roçar o excesso. Só esta semana, já vi pelo menos mais de cinco vezes a reportagem do "Segurança Pública" sobre o assassinato de quatro cidadãos chineses, ocorrido em Janeiro deste ano em Luanda, perpetrado por um grupo de oito angolanos que se fizeram passar por vendedores de terreno, liderado alegadamente por um cidadão de nome Nataniel. Nesta matéria em particular, ressalta-se a eficiência da polícia que despoletou a investigação depois de reportado o desaparecimento pela esposa de um dos malogrados orientais e culminou com a localização dos corpos dois meses mais tarde. É esta sinergia que o cidadão espera, não apenas no esclarecimento dos crimes, senão também na responsabilização dos autores/culpados, independentemente do status da vítima, partindo do princípio do valor absoluto da vida. E os mais honestos concordarão comigo em como igual visibilidade não tem sido dada aos casos em que são bandidos cidadãos chineses. A história recente de Benguela mantém indelével o infeliz desfecho do caso do kínguila (cambista informal) que foi raptado, roubado em mais de 30 mil dólares e assassinado por uma quadrilha de chineses, cujo cabecilha, muito misteriosamente, para dizê-lo de forma generosa, não chegou a ser julgado porque, à data, simplesmente evaporou da cadeia por ordem de alguma entidade angolana não identificada. Nem se sabe a quantas anda o caso daquele chinês que assassinou em Luanda o seu enteado angolano de oito anos de idade. Bem sei que nesta sociedade das conotações é um risco dizer isto e assumi-lo, mas faço-o por imperativos de consciência, já que o kínguila podia ser um familiar meu, para além de concidadão, assim como o menino que provavelmente tinha muito a dar ao país. O que defendo é uma sociedade onde a justiça funcione independentemente do sobrenome, da ocupação social e da cor do passaporte. É para isto que os nossos pais lutaram. Os meus pêsames às famílias, sejam angolanas, sejam chinesas. E para não se pensar que estou contra a TPA, pois é a ela que geralmente dirijo reparos, esclareço que por opção não tenho instalada parabólica em casa, não havendo por conseguinte acesso a qualquer outra estação televisiva a quem "monitorar".
Gociante Patissa, Benguela, 21 Abril 2016
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