terça-feira, 27 de novembro de 2012

Texto que levou a IURD a processar Celso Malavoloneke e o Semanário Angolense

Nota do Blogue Angodebates: Enquanto
 se aguarda pela nova data para o julgamento,
depois de ter falhado a  primeira por doença do
juiz, o Angodebates e o seu editor juntam-se à
repulsa, não apenas contra os excessos da IURD,
mas de todos os que praticam mercantilismo em
nome de Deus, à custa da fragilidade identitária
e cultural de gente arrastada pelo "milagre" que
parece precisar de sotaque brasileiro para
existir.  Talvez acabemos todos com processo
judicial, mas chega! Acorda, ó minhaAngola!
Texto e foto: Club-k

Na seqüência da perseguição judicial que a IURD - Igreja Universal do Reino de Deus moveu contra o jornalista e docente  Universitário Celso Malavoloneke, este portal,  retoma o texto de opinião publicado  em 2010 que  levou esta congregação religiosa a processar  o também colaborador do Semanário Angolense.

Como que a Fugir com o rabo à seringa: AS QUESTÕES QUE A IURD NÃO RESPONDE - Celso Malavoloneke

Esta semana, fui chamado à 2. Seccão do Tribunal Provincial de Luanda (TPL) para receber o libelo acusatório movido contra mim e o Semanário Angolense por uma tal de Raquel Reis (brasileira, para não variar), “pastora” da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Ela alega que um texto meu datado de Maio de 2009, titulado “Em vez da Fé a IURD prega o Sexo” assinado com o pseudónimo de Anastácio Ndunduma atenta contra a sua honra e pudôr. Por via disso pede uma indemnização módica de... 60 milhões de kwanzas, mais ou menos 630 mil dólares! Tenho dito na brincadeira que mesmo que vendesse todos os amigos que tenho na IURD – e olhem que são muitos – não conseguiria juntar tal quantia caso fosse condenado.

Está-se mesmo a ver o que a IURD pretende com essa acção judicial: acossada pelas críticas que sobem cada vez mais de tom, pensou que atacando pela via judicial um dos semanários de maior referência na capital e um dos colunistas mais vocais nestas críticas amedrontaria a comunidade jornalística que, assim remeter-se-is ao silêncio. Nada mais errado. Na verdade, a própria IURD cria agora condições para ser obrigada a responder a uma série de questões às quais tem fugido até agora. Nesse sentido, fez até agora melhor que a sua congénere Maná a qual acabou encostada às boxes mais ou menos pelos mesmos motivos.

Porque a questão levantada pela Sra. Raquel Reis, é uma falsa questão. O artigo – que peço ao Graça que reponha para ajudar o raciocínio dos caros leitores – em nenhum momento pretende atacar a dita senhora que, aliás, não conheço de lado nenhum; limita-se a mencionar o facto que, por a senhora estar mal vestida para uma “pastora” (pelo menos pela maneira como na cultura angolana percebe-se que uma pastora deve vestir-se – nada de óculos extravagantes e t-shirts decotadas a mostrar o corpo) e as reacções que a sua indumentária aliada ao inusitado do que estava a fazer suscitou no ambiente retratado. O artigo nem sequer sanciona o comentário dito ofensivo, tendo o cuidado de mencionar que as senhoras que lá estavam não gostaram.

As verdadeiras questões levantadas pelo artigo não foram respondidas pela Sra. Raquel – já que achou que deveria ser ela a dar o rosto pela IURD, a qual aliás paga-lhe o salário. E que questões são essas?



Primeira questão: Afinal a IURD é igreja ou empresa? Que legitimidade ou mandato tem ela para afixar preços pelos “serviços” salvíficos de Cristo ou qualquer outra deidade? Ao cobrar por serviços assim tão intangíveis incorre ou não em burla? E ao publicitar esses serviços incorre ou não em publicidade enganosa? O seu lucro e o dinheiro obtido dessa forma é limpo ou sujo? Devia ou não pagar impostos, como todas as empresas geradoras de lucros? Pode ou não pode exportar as grandes somas de dinheiro para o exterior?

Segunda questão levantada no artigo: Qual é afinal a verdadeira postura da IURD quanto aos valores sexuais da nossa juventude em geral e à luta contra o SIDA em particular? Será que fica bem uma igreja distribuir preservativos aos jovens na rua? Isso é compatível com os valores evangélicos tal como os conhecemos em Angola (e não só)? Será que a senhora Raquel – que diz que é casada e nessa condições deve ter filhos – gostaria que um desconhecido qualquer abordasse a sua filha e, oferecendo-lhe preservativos estivesse a encorajá-la a praticar sexo fora do casamento? Não vou armar em puritano. É claro que toda a gente acaba fazendo sexo antes do casamento. Mas o que seria de nós se não fosse a igreja a manter-nos na linha através da advocacia da abstinência antes do casamento e da fidelidade depois dele?

Terceira questão: se a IURD dá assim tão facilmente um pontapé destes a um dos valores evangélicos mais universalmente aceites, quantos outros mais também torpedeia? E com que objectivos? E, já agora, não é a Bíblia que diz “o que a tua mão direita fizer não saiba a esquerda”? Porquê então basta a IURD doar um prato de comida a um faminto, todos os jornais trazem o respectivo anúncio gráfico na semana seguinte? E pago, ainda por cima?

E aqui um aparte: Vi há algumas semanas um destes anúncios gráficos em que a dita Sra. Raquel (creio que era ela, só que desta vez com o colete de jornalista em cima da camisolinha – vá lá – e não com um par de óculos, mas DOIS, um na testa e outro na cara) olhando com carinha de pena para uma criança a quem tinham dado um prato de comida. Ora, isso é contra o direito humanitário e a Convenção dos Direitos da Criança de que Angola é signatária. Porquê? Porque não se deve capitalizar sobre a miséria humana, e a identidade das crianças vulneráveis deve ser protegida. Já imaginaram como se sentirá aquela criança daqui a uns 20 anos, principalmente se nessa altura ela fôr uma pessoa respeitável? Ao menos deviam ofuscar a cara da criança. Isso não feito porquê? Para quê? Ai, tia Zina Maiato, quanta falta neste INAC fazes...

Portanto, essas são as questões a que a IURD foge como o Diabo da Cruz, mas que estou determinado a fazê-la responder. Já que a isso me obrigam. Afinal não há muito tempo que tivemos que indignar-nos perante um clone iúrdico – manático nesse caso – que atreveu-se a chamar os angolanos de macacos a quem bastava pagar para abrirem as pernas...

Quererá então a IURD sair da toca e explicar aos angolanos e às angolanas quanto as questões postas em vez de armar-se em vítima e esconder-se atrás de falsas questões?
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