domingo, 31 de julho de 2011

A ORIGEM DO POVO OVIMBUNDU; a hipótese mais próxima da realidade

Nota do Angodebates: este artigo veio na edição Nº 2/Junho2011 da revista “Benguela” (pág. 46-47), propriedade do Governo Provincial de Benguela – Direcção Provincial da Comunicação Social. Como não está assinado, mandam as regras que o atribuamos ao editor da publicação, o jornalista Ramiro Aleixo.

A origem dos Ovimbundu tem sido motivo de estudos apaixonados por parte de vários historiadores. Uma das razões tem a ver com o facto de se tratar de um grupo étnico que marcou (e continua a marcar), de modo profundo, a história económica, social, política e cultural do território que hoje se chama Angola.

Na verdade, este grupo étnico destacou-se muito cedo. Assim, pesquisadores referem, em primeiro lugar, a resistência tenaz contra o invasor colonialista; em segundo lugar, a sabedoria de alguns dos seus reis, o que lhes permitiu estender as suas relações comerciais até Zanzibar (Oceano Índico); em terceiro lugar, a exploração desenfreada a que foi vítima durante o regime colonial (roças, pescarias, fazendas de algodão, café, etc.) que levou muitos dos Ovimbundu a emigrarem para os países vizinhos. Por último, e na história mais recente, o facto de ter surgido, do seu seio, uma rebelião armada, cujas consequências (para o bem e para o mal) ainda estão para ser descritas.

A origem dos Ovimbundu é, de acordo com os historiadores, resultado dos preconceitos migratórios dos Bantu. Os Ovimbundu, tal como grande parte da população que vive a sul do equador, são Bantu por pertencerem ao grupo linguístico que utiliza a raiz ntu para se referir ao homem. O acréscimo do prefixo Ba (plural) (Bantu) designa, assim, esta população no seu todo.

Alguns investigadores têm avançado hipóteses segundo as quais os Bantu teriam saído da região de Bahar-el-Ghazal, e que se teriam fixado nos grandes lagos. Muito para além das formulações hipotéticas, é um facto comummente aceite entre os investigadores, que, provavelmente, os Bantu devem ter vindo das mesetas de Bauchi (Nigéria) e dos Camarões. Mas tudo aponta no sentido de serem originários do Noroeste da floresta equatorial (vale do Benué) e que durante milhares de anos se foram fixando em vários pontos da África.

As migrações, como é óbvio, tiveram várias causas entre as quais se podem apontar às de carácter político (defesa e luta pela sobrevivência de um grupo face ao outro) e às áreas económicas (ligada às catástrofes naturais que faziam com que os Bantu procurassem terrenos mais férteis). São os problemas que Basil Davidson designou como sendo de carácter físico. Por último, pode apontar-se os desentendimentos dentro dos vários clãs (problemas ligados à sucessão ao trono).

Relativamente a Angola é de referir que os Bantu angolanos são originários do que se tem designado por 2º Centro Bantófono (Baixo Congo e Planalto Luba). Os Ovimbundu seriam, assim, descendentes dos Bantu que se fixaram no Planalto Central. No entanto, as hipóteses a cerca das origens dos Ovimbundu são várias e nem sempre consensuais.
Share:

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Sonho de expansão da Rádio Ecclesia leva ao nascimento da Rádio Diocesana de Benguela, com emissão experimental via Internet

Gorada a ideia de expandir para todo o território nacional o sinal da Rádio Ecclesia - órgão afecto à Igreja Católica e legalizado como emissora privada em FM -, uma vez que a Lei reserva tal monopólio à Rádio Nacional de Angola, o plano B será a legalização das emissoras provinciais como entidades autónomas. Benguela conta há pouco menos de duas semanas com um projecto de rádio virtual, com emissão experimental 24 horas por dia, através do site http://radiodiocesanadebenguela.net/. Pode escutar clicando aqui também, ou contactar a equipa pelo e-mail rdbenguela@gmail.com.
Gociante Patissa, Benguela 28 Julho 2011 
Share:

quarta-feira, 27 de julho de 2011

PÂNICO GERAL NAS ESCOLAS; QUANDO A ESCOLA É AMEAÇA À SAÚDE


O QUÊ: casos massivos de desmaios em escola, atingindo maioritariamente meninas. As vítimas queixam-se de irritação na garganta, dores no peito e algumas convulsões;

ONDE: Luanda, principalmente, e Cabinda, duas vezes.

QUANDO: há já uns meses.

QUEM: .....??????

COMO: ...?????

PORQUÊ: ....?????

(...)

POR RESPONDER: não sendo as escolas parecidas a ilhas, e tendo em conta a tese da existência de gente de má fé que intoxica (com gás pimenta, há quem o diga), não era natural que os alegados malfeitores fossem vistos por alguma testemunha, para daí se chegar a fundamentos mais consistentes? Ou será prova da existência de crimes perfeitos?

Gociante Patissa, Benguela 27 Julho 2011
Share:

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Traído pela própria barba

Um falso polícia foi detido hoje (25/07), quando circulava pelos corredores da Direcção Nacional de Viação e Trânsito, trajado à BET (Brigada Especial de Trânsito), em Luanda. Como de costume, estava ali para levantar algumas cartas de condução. Trazia um distintivo, em nome diferente daquele que usava para assinar o bloco de multas. Curioso é que o homem foi traído pelo "adorno estético" da barba "desenhada", o que (ele, tanto quanto eu, não sabia), afinal, os agentes de verdade não usam. Daí foi só somar o rol de trapalhadas e incongruências... Por exemplo, disse que aguardava por colocação, quando na verdade já actuava pelo caótico trânsito de Luanda. Disse também que estava nisso somente há cinco dias, tempo insuficiente para se familiarizar com o edifício e repartições na DNVT. A matéria foi emitida pela TV estatal.


Foto: Jornal de Angola
Share:

Há quem procure rabo de pato a todo custo

Cada vez que levo meu velhito carro à oficina (desta vez por falha nos travões, antes por makas com o distribuidor, muito antes a suspensão), aparece alguém querendo saber se não gostaria de o vender. E lá aquela conversa de encher de elogios a condição do motor, o AC e tal... mas, ó caramba, se o carro estivesse tão bom, estaria tão recorrentemente a visitar mecânicos???? Pior é que mesmo que mo comprassem, custaria metade de um novo.
Share:

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Omens sem H (artigo recebido por e-mail)

Espantam-se? Não se espantem. Lá chegaremos. No Brasil, pelo menos, já se escreve "umidade". Para facilitar? Não parece. A Bahia, felizmente, mantém orgulhosa o seu H (sem o qual seria uma baía qualquer), Itamar Assumpção ainda não perdeu o P e até Adriana Calcanhotto duplicou o T do nome porque fica bonito e porque sim.

Isto de tirar e pôr letras não é bem como fazer lego, embora pareça. Há uma poética na grafia que pode estragar-se com demasiadas lavagens a seco. Por exemplo: no Brasil há dois diários que ostentam no título esta antiguidade: Jornal do Commercio. Com duplo M, como o genial Drummond. Datam ambos dos anos 1820 e não actualizaram o nome até hoje. Comércio vem do latim commercium e na primeira vaga simplificadora perdeu, como se sabe, um M. Nivelando por baixo, temendo talvez que o povo ignaro não conseguisse nunca escrever como a minoria culta, a língua portuguesa foi perdendo parte das suas raízes latinas. Outras línguas, obviamente atrasadas, viraram a cara à modernização. É por isso que, hoje em dia, idiomas tão medievais quanto o inglês ou o francês consagram pharmacy e pharmacie (do grego pharmakeia e do latim pharmacïa) em lugar de farmácia; ou commerce em vez de comércio. O português tem andado, assim, satisfeito, a "limpar" acentos e consoantes espúrias. Até à lavagem de 1990, a mais recente, que permite até ao mais analfabeto dos analfabetos escrever sem nenhum medo de errar. Até porque, felicidade suprema, pode errar que ninguém nota. "É positivo para as crianças", diz o iluminado Bechara, uma das inteligências que empunha, feliz, o facho do Acordo Ortográfico.

É verdade, as crianças, como ninguém se lembrou delas? O que passarão as pobres crianças inglesas, francesas, holandesas, alemãs, italianas, espanholas, em países onde há tantas consoantes duplas, tremas e hífens? A escrever summer, bibliographie, tappezzería, damnificar, mitteleuropäischen? Já viram o que é ter de escrever Abschnitt für sonnenschirme nas praias em vez de "zona de chapéus de sol"? Por isso é que nesses países com línguas tão complicadas (já para não falar na China, no Japão ou nas Arábias, valha-nos Deus) as crianças sofrem tanto para escrever nas línguas maternas. Portugal, lavador-mor de grafias antigas, dá agora primazia à fonética, pois, disse-o um dia outra das inteligências pró-Acordo, "a oralidade precede a escrita". Se é assim, tirem o H a homem ou a humanidade que não faz falta nenhuma. E escrevam Oliúde quando falarem de cinema. A etimologia foi uma invenção de loucos, tornemo-nos compulsivamente fonéticos.

Mas há mais: sabem que acabou o café-da-manhã? Agora é café da manhã. Pois é, as palavras compostas por justaposição (com hífens) são outro estorvo. Por isso os "acordistas" advogam cor de rosa (sem hífens) em vez de cor-de-rosa. Mas não pensaram, ó míseros, que há rosas de várias cores? Vermelhas? Amarelas? Brancas? Até cu-de-judas deixou, para eles, de ser lugar remoto para ser o cu do próprio Judas, com caixa alta, assim mesmo. Só omens sem H podem ter inventado isto, é garantido.

Por Nuno Pacheco
Jornalista
Share:

quarta-feira, 20 de julho de 2011

(Mexendo no baú) Parábola: A lição do jardineiro (*)

Querendo brindar os habitantes com um monumento que representasse em simultâneo a alegria, o trabalho, a esperança, enfim a vida, certo governante passou dias e noites a matutar. “Que tal uma estátua dourada, e da mais vistosa altivez”? Mas chegou a reconhecer que uma estátua não era a mais feliz representação do seu povo, de quem se queria tributar as virtudes de trabalhador e inspirador.

Estabelecendo paralelismo com o sorriso de uma criança, inspirador e que precisa de cuidados, veio a solução: decretou a construção de um jardim, com a maior variedade possível de plantas. E vindo do coração tal oferta, melhor lugar para a sua implementação só podia ser o coração da cidade.

Não havendo nada mais feio do que manchar as flores com desvios e má orçamentação da obra, o governante cuidou de identificar o empreiteiro com a maior reputação na sua região. E porque cumprir os prazos não é de todo um milagre (como se nos quer impingir nessa nossa Angola), lá o empreiteiro fez a entrega da obra, um mês antes do prazo acordado. Mas a euforia do governante murchou, no momento da inauguração, perante uma constatação:

“Desculpa, caro empreiteiro, mas há aqui um erro, e que erro!…”
“Como assim, nobre dirigente?”
“Como vai construir um jardim com tamanha beleza, sem no entanto pensar na passadeira? É preciso abrir caminho para o povo”.
“Pensamos na passadeira, sim, desde o início. E é aí que está a questão. Deixemos que as pessoas comecem a usar o jardim. Lá onde elas forem passando, surgirá o caminho. Só então colocaremos a passadeira. É o que recomenda o nosso jardineiro”.


Moral: “O mais importante é resolver os problemas do povo” [com o próprio povo, acresceu alguém].

(*) Adaptação da parábola contada por Mário Guerra (o escritor Benúdia), tido como o decano da classe jornalística em Benguela, por volta de 2003, durante uma palestra promovida pela Coligação "Ensino Gratuito, Já!".

Gociante Patissa, Benguela 08/07/10
Share:

domingo, 17 de julho de 2011

sábado, 16 de julho de 2011

Folheando o poemário "GRAVIDEZ de um pôr-de-sol" de J. Lara M. Hotalala

Cacimbo aberto na fala da maré

O orvalho cai poalho
branqueia o teto dos edifícios
murcham as plantas do teu corpo

condutores sédulos na estrada do tempo
evitam morrer neste nada
suicidam-se pássaros no cume das capelas
como imortais de qualquer instante de cacimbo
e a gripe de kandengue é gota
que vagueia sem rumo nos palcos da infância
as mulheres se vestem para seduzir a estrada
no íngreme do escuro afoga fortes fadas
brasas em chamas que aquecem os seios

 (pág. 15)


Ó chuva leva mensagens nas escadas de teus cabelos
Na gravidez do pôr-de-sol entregue somente
Ao olhar da maré de teu umbigo

 (pág. 16)


A ilusão do mar

Escorregou da mente
a tradição
adormeceu dos costumes
da consciência
a ilusão levou o mar

 (pág. 23)

J. Lara M. Hotalala, In «GRAVIDEZ de um pôr-de-sol», KAT-editora, colecção Safra Nova, 1ª Edição, Benguela 2010
Share:

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Lançamento de "GRAVIDEZ de um pôr-de-sol" marca estreia de J. Lara M. Hotalala

O título é o quarto da "Colecção Safra Nova", projecto da editora KAT para novos talentos na vertente da escrita criativa. O contemplado assina como J. Lara M. Hotalala. O poeta Martinho Bangula apresentou a obra,  destacando o binómio tempo e espaço como o eixo dos poemas.

O acto aconteceu ao pôr-do-sol de quarta-feira, 13/07, e teve lugar no Colégio KAT, onde funciona o departamento editorial, representado pelo historiador e também escritor Armindo Jaime Gomes "Arjago". Declamação de poesia e trova animaram o ambiente. A intenção de levar o lançamento para o Bairro do 70, subúrbio (aproximadamente 500 metros a sul do aeroporto 17 de Setembro), ficou  manchada pela ausência da imprensa, excepto a Rádio Ecclésia que fez deslocar o seu repórter.

"GRAVIDEZ de um pôr-de-sol", com 51 páginas, marca a estreia de  Jão Lara Macuva Hotalala, nascido em 1987 na província da Huila e desde cedo acolhido por Benguela. É estudante da Faculdade de Medicina Veterinária na província do Huambo, onde também integra a Brigada Jovem de Literatura.

A colecção Safra Nova editou ainda "Consulado do Vazio" (Gociante Patissa, 2008), "Sexorcismo - poesia para a purificação" (Martinho Bangula, 2008), "Utopia das Marés" (Isidro Sanene, 2009).
Share:

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Crónica: Propinas para criança – ilegais na escola, pacíficas na igreja?

A Lei de Bases do Sistema de Educação em Angola estabelece o ensino público primário como gratuito e obrigatório, o que significa no papel que os encargos escolares até 6ª classe ficam por conta do governo, enquanto gestor do Estado.

À lei soma-se o chavão “criança prioridade absoluta”, legitimando campanhas de advocacia, como a que servi de 2001 a 2006, para que se não forcem os encarregados de educação, lá porque “a escola é do povo”. À sociedade civil cabia esclarecer contra cobranças no acto da matrícula, provas ou emissão de documentos. Na prática, o material e a merenda escolares estão longe de responder à demanda, lá onde uma vez chegaram, ao passo que a propina passou a chamar-se “comparticipação”. Na ausência de orçamentos, os directores perguntam, ganharíamos fechando a escola?

Onde há laicidade, as igrejas vivem de ofertas, donativos e contribuições dos fiéis. O que se leva é conforme as possibilidades. No meio rural é normal ofertarem-se produtos agrícolas, sobretudo o milho, ou animais em ocasiões especiais. O foco é ao adulto, sendo que as crianças, só por uma questão de educação cristã, recebem dos pais para oferta bens materiais bastante simbólicos (irrelevantes nas economias do lar). Na cidade é o mesmo, ou devia ser. Mas nem sempre as coisas são como se nos afigura normal, quanto mais não seja pela enorme variedade de igrejas e seitas.

Dois sobrinhos meus, de seis e oito anos, frequentam aulas bíblicas numa igreja perto de casa. O grupo infantil ensaia de segunda à sexta-feira, entre 17:00 - 19:00 horas. A mãe, que professa outra igreja, não colocou objecção, embora não concorde muito com o horário e a doutrina de modo geral. Consola-lhe o facto de ser o mesmo Deus.

Em um mês e meio, são vários os recados e papelinhos “da titia” a pedir dinheiro, cerca de 500 kz por vez. Ora para uniforme (pago e tarda chegar) ora para fogueira santa, e por aí segue. Os pais são funcionários públicos e as contas custeáveis, diga-se, mas optaram por não ceder sempre. Depois, notou-se desinteresse pelo jantar. Afinal é servida na igreja papa de soja, para a inevitável dúvida sobre as condições de higiene da cozinha. Na semana passada, outro pedido, e de novo ignorado, o que levou um dos putos a partilhar a ideia de tirar às escondidas do dinheiro do saldo, entenda-se da venda por consignação de cartões de recarga telefónica.

Os pais tiveram então que decidir: acabou-se com a frequência do grupo da noite, entendida a ideia de “furto” como produto da pressão. Não era bem o que esperavam que os filhos absorvessem em tenra idade. Notada a ausência dos prosélitos, a “titia” foi ter com os pais para contra-argumentar, fazendo-se acompanhar de umas dez crianças. Iniciou por dizer que nunca cobravam dinheiro, para mais tarde afirmar que não era obrigatório para crianças cujos pais não tivessem capacidades. Contradição pura!

Por mim, não voltariam a pôr lá os pés, pois a pressão continua. Meus sobrinhos serão vistos como filhos de pais sem condições para sustentar o direito de pertencer àquele grupo. Não serão felizes, enquanto souberem que tal rótulo não corresponde à verdade.

Gociante Patissa, Benguela 13 Julho 2011
Share:

segunda-feira, 11 de julho de 2011

AS MAKAS DO NOSSO FUTEBOL:Bem parece que alguém está a faltar com a verdade. Será Zé Kalanga ou o Clube Recreativo do Libolo?

Zé Kalanga (até há bem pouco tempo estrela da selecção angolana de futebol "Palancas Negras") foi queixar-se à Rádio-5 de passar dificuldades de ordem financeira e não só, uma vez que se prolonga a suspensão no Recreativo do Libolo, clube da província do Kwanza-Sul a militar na 1ª divisão, vulgo Girabola, "por causa de uma situação que se passou lá". Por seu turno, o presidente daquele clube reagiu dizendo que houve rescisão amigável no dia 27 de Junho, qualificando por isso de "uma infantilidade" as declarações do atleta, que terão sido emitidas no dia 30 do mesmo mês. Não há dúvidas quanto à pouca escolaridade de Zé Kalanga (o que se percebe na pobre articulação da língua de Camões, relativamente ao dirigente)... Mas, oh céus, seria ao ponto de desconhecer o que quer dizer "amigável"?
Share:

terça-feira, 5 de julho de 2011

Flagrantes do quotidiano: "DESCULPA, MANO, YA?!"

Esta manhã, no cruzamento do prédio "dos Morenos", cidade de Benguela, onde funciona o BCA, um automobilista viu-se forçado a "forçar" o travão do seu jeep, e com isso aquele buzinar de protesto. A milímetros do focinho atravessava um peão, destes adolescentes de mochila às costas e calções de deixar boa parte das nádegas a apanhar vento. Parecia distraído, e a pensar sei lá em quê. O automobilista, num gesto previsível, baixa o vidro e solta um palavrão daqueles. E o jovem reage, quase instintivamente diante do quase-atropelamento, com mea culpa: "DESCULPA, MEU MANO, YA?!"
Share:

domingo, 3 de julho de 2011

Crónica: “Mitos da nossa cegueira”

Mitos existem, e ainda bem. Não pretendem anular a realidade, ou não o deveriam. Por seu turno, a objectividade, que se vem impondo com o advento da comprovação científica, nem com isso consegue anular o mito, vestido às vezes de senso comum, sonhos ou dogmas.

Gosto particularmente de questionar o mito, explorando o mosaico cultural de matriz Bantu, o que tem estado na base de contos ficcionados, alguns publicados mesmo em livro. Outros, no entanto, e com provavelmente menor profundidade, nem por isso são ignorados. Ontem, por exemplo, durante o serão, contaram-me um que se enquadra na categoria secundária.

Isso se passou na era colonial, na região do grupo etnolinguístico Nyaneka Humbi, que hoje compreende à província da Huila, antes Sá da Bandeira. Bom, os povos indígenas viviam, obviamente, do cultivo e pastorícia, o que lhes possibilitava frequentar “a loja do branco”. A dado momento, chegava aos ouvidos de um conterrâneo que sua esposa e o branco da loja tinham um à vontade a mais. Indagada a senhora, logo apresentou solução: “se assim é, meu marido, deixo de ir à loja”. Surpreso, o marido disse que não era para tanto – ou seria porque a mulher é a que mais esforço empreende, por causa mesmo da divisão de papéis na sociedade?

O tempo foi passando, até surgir gravidez – nada mais normal, afinal, não era a primeira. E disse a mulher ao marido: “Acho que tenho mesmo que parar de ir à loja, tenho medo do que ouvi. Dizem que as grávidas têm que ter cuidado com o que vêm, porque pode influenciar na aparência do bebé. Era o caso de albinos, paralíticos, enfim. O marido respondeu que não havia necessidade de alarme, o que lhe custou mais tarde bons amargos de boca.

A mulher andava altamente enfurecida, pois o bebé saíra diferente de todos os outros da aldeia. “Estragaste o meu filho, ó marido teimoso! Eu bem que avisei, mas disseste que não havia problemas. Agora o bebé nasceu mulato, de tanto me fazeres ter contacto com bonecas (caucasianas) da loja!!!”. O marido pediu perdão e assumiu a culpa.

Os tempos mudam, e com isso o aprimorar da lucidez. Temos cada vez mais escolaridade, enquanto a globalização e o avanço da ciência seguem multiplicando o acesso à informação. Cá me parece pois que os mitos existem, com a mesma força de cegueira, mudando apenas de contexto e refinando a forma. Algumas correntes em nome de Deus e determinadas ideologias de sentido único que por aí voam não serão mitos míopes?

Gociante Patissa, do quintal Rádio Morena, Benguela, 3 Julho 2011.
Share:

A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

Publicações arquivadas