terça-feira, 31 de maio de 2011

Reflexões literárias: Um retrato sociológico do subúrbio luandense no livro Laços de Sangue do escritor Ismael Mateus

No mais recente romance de Ismael Mateus, Laços de Sangue, o escritor traz uma descrição de lugares e personagens que constituem um verdadeiro retrato sociológico do subúrbio luandense. Editada pela União dos Escritores Angolanos, a obra propõe-se oferecer reflexão e debate sobre os altos e baixos na relação social, com enfoque para as aparências, sem perder de vista a família enquanto base da sociedade.

Vejamos por exemplo um pretexto de ilustração de lugar (pág. 23, 1º parágrafo do Cap. 2):

“Os negócios de venda de ginguba e bombó proliferam. Não tanto como os da cerveja e vinho, mas expandiam-se todos. Há um sistema de interdependências. A cerveja e o vinho levam à ginguba. Ou o contrário. A pobreza ajuda o alcoolismo. O consumo faz amizades. As amizades levam ao consumo. E assim proliferava o negócio no bairro. Os hábitos de consumo marcavam os ritmos diários. Os mesmos becos, as mesmas saudações, as mesmas horas, os mesmos locais de paragem, as mesmas cervejas, os mesmos vinhos e as mesmas conversas. Uma mesmice de vida agarrada ao vício. Um quintal de chapas, cinco mesas de plástico dispostas sem critério estético. Cadeiras de cores diferentes à espera dos próximos ocupantes. Restos do último cliente. Um amontoado de grades de cerveja. No dia seguinte passa o distribuidor. Depois vêm, outra vez, os clientes. E, outra vez, o distribuidor, mais as cadeiras, a ginguba, o vinho, os clientes e as mesmas conversas. É a vida sem vida”.

Neste pedaço da narrativa, mantém-se a acção sem recurso a personagens centrais, mas apenas num bem conseguido jogo de elementos que ora se mostram causa, ora efeitos, e o fechar da cortina com a curta e fatal exclamação velada: “É a vida sem vida”. A produção nacional, aqui representada por ginguba e bombó, não consegue ombrear com o importado (cadeiras plásticas), ou por um outro prisma, enquanto o consumo de álcool é grande, já a comida, que contra-balancearia pelos nutrientes, não passa de petisco. A manutenção do  quadro de "quase-doença" é fomentada por um agente externo ao meio, o fornecedor.

Outro exemplo está na descrição de personagem (pág. 24, parágrafos 1 e 2):

“(…) Dizem, muitos dizem, que Petit foi educado no beco. Criança recolhida. Pouco dada a amigos. Um adolescente ainda pior. Contavam-se histórias. A cada testemunha, uma versão. “Sempre foi de poucos amigos. Nunca brincava fora de casa. Por isso, nem mesmo os da sua idade, se lembram dele. Só os mais velhos, muito poucos mesmo, que se diziam chegados à família, se lembravam dele com detalhes de que mais ninguém se lembrava”.

Petit fez-se um alfaiate, um bom alfaiate, dizem, a julgar pelas encomendas. Gente de jeeps e carros de alta cilindrada chegava às horas mais impróprias. É um artista. Os artistas não são comuns mortais. Fazem tudo ao contrário. Dormem de dia. Trabalham à noite. Sonham em realizar sonhos. Acreditam no trabalho por inspiração. Petit era um artista. Inspirava-se à noite. Sonhava. Dormia de dia. Vivia exclusivamente dedicado aos costurados. Corte e costura. Sem sair de casa. Sem se mostrar aos vizinhos. Sem ir aos jogos do Progresso. Sem sequer sair para comprar ginguba ou cerveja. Apenas corte e costura até ao nascer do dia”.

Petit encaixa-se no estereótipo de personagens da vida real na ribalta com etapas queimadas, ou como escreveriam outros que antecedem Ismael, daquele tipo que compra passado para impor um status quo. A diferença reside entretanto no facto de Petit não ser da cidade, mas suscitar uma intensa proximidade de classes sociais, só que “em horas impróprias” (seriam escusas?), podendo-se inferir que há um comércio mais “universal” do que alfaiataria. E ao estilo de bom sociólogo, o narrador denuncia e aponta pistas sem impor conclusões, deixando espaço para outros estudos mais profundos no quadro da interdisciplinaridade.

Fica aqui o convite para mergulhar nas 178 páginas desta 1ª edição lançada em 2010.

Ismael Mateus, angolano jornalista há três décadas, está emprestado ao Ministério da Administração do Território. É membro da União dos Escritores Angolanos, tendo sete obras publicadas – entre poesia, crónica, ensaio, conto e romance.

Gociante Patissa
Benguela 31 de Maio 2011 
Share:

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Crónica: "Coisas do bairro Santa Cruz... só mesmo vistas!"

Anteontem, a mãe de G. (fiquemos pela inicial) teve de ir à pediatria com irmã a mais nova, bebé de  dois meses de vida. O pai estava a trabalhar no centro da cidade. Como tal, G., rapaz falador e muito detalhista aos seus três anos de idade, teve que ficar com outras crianças vizinhas, geralmente parentes, de tão alargado que é o parentesco africano na sanzala (subúrbio). 

Às tantas, foi atropelado de motorizada por um morador do Bairro que, como mais tarde se soube, é conhecido desde a infância pela família materna do menino de G. Mas juro que naquele momento do acidente, era praticamente difícil para o motociclista reconhecer a criança, e daí estabelecer-se qualquer associação que fosse. Chamemos o atropelador de M. Pronto, ao ver a criança empoeirada e com algum sangue, M. pegou nela e acelerou forte para o Hospital da Catumbela, provavelmente localizaria a família mais tarde. Postos no Banco de Urgência, a catalogadora pergunta ao M: "Que aconteceu com a criança"? M. respondeu: "Estava a brincar com a minha filha e foi empurrado para a damba (precipício)". "Hummm!!!!!", resmungou G. quase choramingando, "você não me atropelou de mota?!". O sorriso das enfermeiras terá sido inevitável, melhor ainda porque nada de grave aconteceu a G., um raspão no braço apenas.

Na hora de balancear os actos humanos, M. foi elogiado pela familia de G. por tê-lo levado de imediato ao hospital, pois um irresponsável o abandonaria estatelado. De qualquer modo, foi uma lição de que mentir para crianças é feio. Já a mãe de G. foi fortemente recomendada a passar a deixar o menino em casa da avó deste, no caso a minha mãe.

Gociante Patissa
Bairro da Santa-Cruz, Lobito 28-30 Maio 2011 
Share:

sábado, 28 de maio de 2011

Tive que regressar ao serviço Internet da Unitel

às vezes parece q passamos a vida a resmungar, mas é q não nos faltam motivos: o serviço internet da Unitel tem uma propaganda de se dizer enganosa, pois diz que é 4 mil e 500 Kz/mês, quando na verdade é por volume de consumo. Ou seja, se o cidadão descarrega uns míseros vídeos no youtube por exemplo, pode consumir os quase 50 USD num só dia. Já a Movinet (movicel) cobra 8 mil e 800 Kz/mês, o dobro da sua "concorrente", um plano mensal de 5 GB, o que permite consumir 24/24h. Só que na prática, é uma conexão bastante lenta, quase a atingir o ineficiente. Quer dizer, se não perdemos à direita, perdemos à esquerda.
Share:

quinta-feira, 26 de maio de 2011

amizades inusitadas


Foi ter connosco alguém a pedir ajuda porque sua máquina fotográfica avariou, quando bem ansiava umas fotos em plena restinga do Lobito. Entendi usar a minha para o efeito, só que tal pessoa também não tinha pendrive ou outro dispositivo qualquer de armazenamento de dados. No dia seguinte me procurou e lhe passei fotos num CD, num encontro suficientemente breve. Entre as várias perguntas "intragáveis" de que me lembre: Daqui ao Bocoio quantos quilómetros? E eu, 70 km. E essa pessoa: e de lá para cá? E eu, desculpa? Assim tu que nasceste em 1978 tens 33 anos, né? E eu, sim terei quando chegar Dezembro, o mês em que nasci. E essa pessoa: então quem nasceu em 1988 assim tem quantos anos? E eu: é questão de fazermos contas. Na manhã seguinte, um telefonema: como passaste a noite? E eu sem muitas palavras, bem e tu? Essa pessoa: passei com disenteria.
Share:

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Veteke lyo Afrika, olusapo wokimbo lietu (Umbundu) - No dia de África, um dos contos da nossa Terra (tradução livre)



Umbundu

"UMWE WAYONGWILE UKEMA"


Kuakala ukuenje umue waenda lokusakalala, cokuti lotulo kakuatele. Waenda lokulipulapula ukuenje wu ndeti. “Cilingila nye okuti, ame ndicimumba cocimatamata, letosi lyukema sikuete?! Cilingila nye okuti layumue ño, vimbo, ofetika ombangulo yokuti yinditukula ame?”

Ukuenje wiya ocisokolola sui… okuiya wakuata ocisimilo cimue “culoño”. Wavanjiliya okuti, catete, komunu oyongola ukema, okukuliha pi pakasi omuenyo womanu vimbo. Etambululo lieli oukuti: povava! Omo okuti, ndaño muele cina oholua, alopo yinyua ovava.

Cina muele okuti kakuacile ciwa, ukuenje walimba vonjila yokocisimo (ale onjombo). Eci apitinla vali, kasumile: ofetika okunia. Nie muele pomela wocisimo, eye osia po oluhaku waye. Olondona eci vyakapitinla lomenle oco vitape ovava, viasaña elundu lieniña. Opo muele okuimba oluiya!

Ukuenje kefetikilo wasanjukile, puãi, oku ceya okupitinla, ema liolio ho. La sekulu yimbo, soma haeye tio yayi, wovanjela ovitangi. Nda tulinga tuti soma ociliangu, yu wanyola ocimumba caye? Cilingila nye okuti ukulu wendamba okulonga ovimumba kacitenla?!

Ondaka tupa po yeyi okuti, vokusanda ukema ciyongola okuenda ciwa – katukasandi omangu lamania – momo ukema kuli vo una kawaposokele.
*
Olusapo woponjango kimbo lietu.
Gociante Patissa

Português

"O FULANO QUE QUERIA FAMA"

Havia um jovem que andava bastante aflito, o que resultava em insónia mesmo. Não parava de se questionar. “Como é que eu, sobrinho de entidade, não tenho um pingo de fama sequer?! Como é que, na aldeia, nunca sou objecto de conversa?”

Pôs-se então o jovem a matutar… até que teve uma “sábia” descoberta. Notou que, o básico para quem procura fama, urgia determinar onde reside a “vida colectiva”. A resposta foi: na água! Porque até o mais incorrigível dos bêbados bebe água.

Foi pela madrugada em direcção ao poço. E sabia bem o que fazer assim que chegasse. Tanto o sabia como o fez: defecou ali mesmo. Certificando-se de ter cagado o suficiente para chamar atenção, cuidou de deixar ali a sua alparcata. Algum tempo depois, foram chegando, uma atrás da outra, as donas de casa, na tradicional missão de acarretar água. A palavra espalhou-se à velocidade de cruzeiro.

Satisfeito da vida estava o jovem, que se (ou)via na boca do povo pela primeira vez na vida. Mas pouco durou a alegria, porque se começou a questionar até que ponto o regedor não seria bruxo e passado o mal para o sobrinho. De outro modo saberia impor autoridade de encarregado em relação ao sobrinho.

Moral da estória: na procura da fama alguma moderação é necessária – é preciso não procurar a cadeira com o cú – pois nem toda fama é positiva.

Contos contados nas fogueiras da Nossa Terra.
Gociante Patissa
Share:

terça-feira, 24 de maio de 2011

LANÇAMENTO DO LIVRO ALDEIA DE DEUS - NOTA DE IMPRENSA




O Movimento LEV´ARTE realiza no dia 11 de Junho, pelas 17h30, no átrio da sede da União dos Escritores Angolanos,  em Luanda, o lançamento da " ALDEIA DE DEUS " da escritora Luegi Dharma. 

O livro desvenda sociedades secretas que encerram o conhecimento e a sabedoria do mundo ancestral, a maçonaria, o Egipto e Tábuas de Esmeralda de Hermes Trismegisto... tudo se resume ao número 11, que revela coincidência e encaminha ao Grande Arquitecto do Universo. Passa-se pela poesia e recolhe-se magia...

O projecto Poesia à Volta da Fogueira, que alberga o acto, vai já na sua 6ª edição 2011. Tem como principais objectivos incentivar leitura, a escrita,  divulgar e realizar acções socioculturais.

Os melhores cumprimentos.

Lev'Arte - www.fazemosacontecer.blogspot.com
Share:

domingo, 22 de maio de 2011

Conto: "Os Três Braços do Rio" in «A Última Ouvinte», UEA&Gociante Patissa, 2010


 I

Os filhos viviam perguntando, chateando mesmo bem dizer, o pai a ver se arrancavam deste o motivo — a mínima pista que fosse — que fez com que não fossem, eles também, uma família católica, e por tabela, sem a mordomia de se confessar ao padre e saborear hóstias.
«A mesma chatice outra vez?», refilou no mistério da sua cabeça e não respondeu mesmo velho-Kamuku, como nunca aliás o fez. Simplesmente, resolveu o problema disfarçando. Se calhar não sabia ao certo qual o motivo, ou talvez evitasse remoer memórias inconfortáveis, já que «não se pode descer duas vezes a mesma água do rio». Mais velho é assim mesmo. Se os filhos perguntam o que não convém, nada diz; se não perguntam, lamenta que ninguém se importa em aprender, que a juventude hoje anda perdida.
Os dias amontoavam-se no vaso da história, como peças de missanga no fio. Velho-Kamuku percebia com nostalgia o diminuir do vigor sem nada poder fazer contra. E não era o tempo o único responsável pelo desgaste. Também a vida não fora muito generosa com ele.
Muito cedo perdera a esposa, tendo que cuidar da educação de quatro filhos, o Sipata, o Lumingu, o Moko e a Sambele, sozinho. Resolver a maka da roupa suja, dos piolhos, das bitacaias, do ranho e do makulu. E como se isso fosse lá maçada de pouca envergadura, tinha o velho de cuidar também da lavra, dos porcos e dos leitões, dos patos e das patas, das galinhas, dos galos e dos pintainhos, dos ovos, dos pombos, das ovelhas, dos bois, do leite das vacas e dos cabritos. Era a velhice de pai e a velhice de mãe numa só pessoa.
E via, com elevado sentido de triunfo, chegar a altura certa para reforçar a preparação dos herdeiros. O primeiro estava quase a trintar e o segundo tinha dois anos menos. Em condições normais já estariam
46 | A Última Ouvinte
casados, mas o templo andou encerrado por muito tempo. Sambele, única menina e a mais velha de todos, era praticamente uma mulher talhada para esposa com a perda prematura da mãe.
Como sempre fazia, quando um dos meninos estragasse algo ou houvesse uma boa-nova a transmitir, velho-Kamuku improvisou uma reunião familiar. A diferença, desta vez, era a inclusão da menina. Normalmente,
a conversa com ela era só a dois, ou então, para questões melindrosas, entre ela e uma das tias.
Sentados à volta da lareira do onjango-cozinha para desafiar o frio da época, que enchia de cieiro as pernas e as bochechas, dirigiu-se o pai aos filhos:
— Meus filhos, chegou a hora de dar as boas vindas a um visitante que ninguém gosta, mas que não se foge. Se estão a ver que o vosso pai adoece todos os meses, isso, não é só da idade. É a morte que está a mandar recados. E devo pagar a minha última dívida, me despedir de vocês, como sempre fizeram os nossos antepassados. Assim faço a minha parte, levo o cavalo ao rio e ele bebe água quando quiser. Por isso,
quero pedir um favor.
— Peça, pai, que nós o faremos! — garantiu Sipata, que era o mais velho entre os rapazes, e legítimo porta-voz dos restantes.
— Quero que sejam um rio. O fogo não, porque apaga. O vento não, porque não tem direção. A noite não, porque depende do dia. O dia também não, porque tem pena, ameaça ir, mas acaba por voltar sempre. A lua não, porque, por mais belo que seja, o luar é morno e não tem a frontalidade do sol.
— Temos de ser um rio, pai? — indagou Sipata, franzindo a testa, algo surpreso com a aparente atitude de resignação sugerida justamente pela pessoa que sempre se mostrou pró-ativa. Ao que o velho confirmou
acenando, enquanto com os filhos partilhava a saborosa ginguba que estalava na frigideira de barro. Ainda inconformado com a proposta, o filho continuou:
— E se fôssemos como a chuva, que nos enche o rio de água e rega a lavra? — contrapôs ainda Sipata, que tinha o estatuto de mais velho e guia dos irmãos, enquanto Sambele, esta sim, a mais velha de todos na idade, observava o debate entre os homens da casa, ansiosa por mais uma lição a acumular com o desfecho. — Gosto mesmo é da chuva, pai.
Gociante Patissa | 47
— Quero que sejam braços de um mesmo rio. Ao contrário do mar, o rio não é agressivo. Sabe ser maternal, humilde, alimenta e vence a sujidade com a água. Já o mar, este, perde-se na vaidade da grandeza,
mas a verdade é que não tem nascente e é sustentado por rios. E, na sua ganância, não sabe dizer chega; recebe de tudo o que é rio, até não aguentar mais de congestão e engolir casas e pessoas. Também não quero que sejam como a chuva, que só faz o que lhe apetecer, como se as preocupações dos outros não contassem. Ao contrário do vento, o rio sabe contornar obstáculos e chegar ao destino. O rio carrega nas
suas águas o barulho do dia, o silêncio da noite, e os segredos necessários para evitar confusões. E por mais que tirem da sua água, não acaba.
Share:

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Recordando: Tony Laf... é angolano, nascido no berço do reino do Kongo, mais um nosso que procura sol na Europa. Estamos aqui, conterra, fazendo figas!



Traços da letra da música deixada por comentaristas no youtube

"Yeh..... Alright.... 
When friends and family come around 
and ask me 
All I say is I'm good I'm good I'm ok alright 
Deep in side I know I can't take any more 
It's killing me slowly 
Physically mentally There's nothing left in me. 
But I don't want people to feel sorry for me 
And that's why I say 
I'm good I'm good Said I'm good I'm good I'll  be alright
 I'm good I'm good I'll be alright I'm good baby 
I'll be alright"
Share:

terça-feira, 17 de maio de 2011

Eduardo Paim "Sou o precursor da kizomba" (Grande Entrevista ao jornal O País, Vladimir Prata 17 de Maio de 2011)





Eduardo Paim é a figura desta grande entrevista. Compositor, cantor e produtor musical, a sua obra, desenvolvida quase toda nos anos 80 e 90, continua a marcar várias gerações. Começou o seu sucesso no grupo SOS, atingindo o estrelato já em Portugal com uma carreira a solo. Diz-se o precursor da kizomba, um dos estilos musicais mais consumidos em Angola. Nesta entrevista o, também conhecido General Kambuengo fala do seu percurso, das “calúnias” de que foi alvo quando acusado de tráfico de droga e do “desrespeito” que o levou a não actuar no “show da saudade” realizado recentemente na Cidadela.

Quando, onde e como é que foi “patenteado” a General Kambuengo?
Esta patente foi o público que me deu. Acho que é uma gratificação de carinho, um manifesto de estima que o público me concedeu, na medida em que ao longo dos anos fui fazendo música, vamos, em abono da verdade.
Claro que na apreciação do público, o carinho, o reconhecimento pela minha pessoa não faltou. Daí que, a determinada altura, alguém que se chama Miguel Neto disse “o Eduardo Paim, na música, é um general. Isso foi num espectáculo da Feira Popular, em 1997. O Miguel Neto terá dito assim: e agora, os vossos aplausos para aquele que eu considero o general da música. E o público ficou a repetir “ge-ne-ral, ge-ne-ral”, enquanto eu entrava para o palco. E resolvi assumir a patente que me foi dada com esse carinho todo. E num outro espectáculo, 15 dias depois, também na Feira Popular, apresentei-me fardado, mostrando claramente que eu assumi a patente e que levaria as causas do exército musical da melhor maneira possível (risos…).


E a expressão Kambuengo, de onde vem?
Kambuengo é o primeiro nome que me foi dado pela minha avó. Quando eu nasci, ela disse “esse é o Kambuengo””. As pessoas que me conhecem desde que vim ao mundo conhecem o Kambuengo. Eduardo Paim é nome de registo, de baptismo, o nome que usava na escola; em casa sempre fui o Kambuengo. E como também sou uma pessoa cujo passado me envolve com a história deste país – os meus pais foram pessoas ligadas à luta clandestina, à revolução – naturalmente, por causa de tudo isso, acabei também adoptando o termo “Kambuengo” como minha alcunha. Sabe que nas guerras dos Maquis – meus pais foram maquisardes – todos tinham uma alcunha. Meu pai, por exemplo, era o Dituba Geral. O camarada Agostinho Neto era o Kilamba. Camarada Lúcio Lara é o Tchiweca. O falecido camarada Rocha era o Dilolwa. Então, eu sou o Kambuengo (risos…). E quando sou patenteado a general da música, assumi ainda mais a minha alcunha.

Já que falou desta relação que os seus pais tiveram com a luta de libertação nacional, gostaria de perceber como é que Eduardo Paim veio a nascer em Brazzaville.

Eu nasço justamente no percurso dos meus pais. Em 1963, os meus pais viram-se forçados a salvar a pele, uma vez que o sistema colonial terá descoberto a implicância deles com a revolução angolana, a ligação deles com o movimento que, não me lembro agora se era o MPLA. Tiveram, então de fugir. Os meus pais fazem parte do famoso grupo de pessoas que sai de Nambuangongo até Kinshasa a pé. Naturalmente, neste percurso, o meu pai e a minha mãe já se conheciam, acho até que já trocavam alguns namoriscos. Uma vez rechaçados de Kinshasa pelo regime de Mobutu, baseiam-se em Brazzaville, onde eu acabo por nascer. É neste percurso dos meus pais que eu acabo nascendo onde, se me fosse dada a possibilidade de trocar, teria trocado, porque não tinha nada que nascer lá, mas pronto, aceito com muita naturalidade a minha naturalidade.
Sou o quinto de sete irmãos. Todos nasceram em Angola, inclusivamente o Nelo, que é o sexto, portanto, depois de mim. Eu fui o único que teve de nascer fora, porque até o Nelo teve a sorte de vir nascer em Luanda (risos…). Mas tenho que desmistificar algo: eu sou o quinto filho da terceira e última relação do meu pai, mas sou o primeiro filho da minha mãe.

Quando é que veio pela primeira vez a Angola?

Vamos por partes: em 1964, dia 13 de Abril, no L´hospital General de Maia-Maia, eu nasci. Lá permaneci até aos nove anos – isso bate 1974. Neste ano, após o 25 de Abril, todos os angolanos refugiados já vislumbravam o regresso à pátria. É assim que venho a Angola. Mas nesta altura eu trazia já um sonho comigo: a partir dos sete anos, comecei a revelar-me e a revelar as pessoas próximas, neste caso, ao meu pai, minha mãe, familiares e amigos da família, que tinha uma certa queda para a música. Enquanto criança já fazia uns malabarismos até com os meus brinquedos que emitiam sonoridades. Aos sete/oito anos, a minha mãe me ofereceu uma viola de brinquedo. Mas com esta viola mesmo na versão brinquedo eu fiz algumas pequenas maravilhas. Aos nove anos venho para Angola. Aos dez anos retorno a Cabinda, por razões de matrícula escolar. Nesta altura, por causa das situações de instabilidade que ocorria em vários pontos do país, todos faziam recurso a Luanda, único sítio com maior estabilidade, e todas essas famílias vindas das províncias, das aldeias, dos kimbos, enfim, congestionaram o processo escolar.
Era uma demanda muito grande para a resposta disponível. E eu fui uma das vítimas disso. Não pude me matricular em Lu8anda porque eram filas enormes. E como tinha um irmão a residir em Cabinda e me dissera que lá havia vaga, então fui para lá estudar a 5ª classe.

Uma vez afastado dos meus pais – eu sempre fui uma pessoa muito ligada à minha mãe – criou uma lacuna que eu preenchi naturalmente com a música. Porque no lar dos estudantes onde eu fiquei, onde também estava o meu irmão, havia um elemento que já era o viola ritmo do então conjunto Bela Negra, que é o Arcanjo. Ele também era um dos alunos no lar. A tardinha ele ficava a ensaiar, a praticar, e eu era o público dele. Cada vez que o Arcanjo estivesse com a guitarra a praticar, eu estava a frente dele, sentado, a observar. Até ao dia que ele me disse “tu olhas tanto porquê? Gostas de música?” e me entrega a viola. E eu, assim ao calho, consegui esboçar dois acordes. De tanto olhar as posições que ele fazia com os dedos no braço da guitarra, consegui este feito. Ele espantou-se: “mas tu tocas?” “Estou-te a ver…”.
Ele próprio entusiasmou-se e então foi me dando alguns toques. Também fui me entusiasmando. Ainda me lembro de uma música que dizia “Eh, avante povo, África em luta pela libertação”; foi por aí que eu comecei. Daí descobri que aquela tendência estava mesmo enraizada em mim. Comecei a praticar mais.

Share:

Benguela, cidade das acácias rubras, tá de aniversário, 394 anos nos "cornos"

Cibernauta disse... «Parabéns aos benguelenses. Patissa, essa acácia tão "franzina", espero k não seja o k há de melhor nesta terra das acácias rubras».
Bom, Para não desiludirmos amiga leitora Cibernauta, o Blog Angodebates foi sacar dos arquivos umas acácias mais imponentes, e nós que pensávamos em promover a juventude hehehe. Um abraço 


Share:

domingo, 15 de maio de 2011

Esperava mais da Feira Internacional de Benguela

Estive na Feira Internacional de Benguela e... não achei piada. Isso é opinião muito pessoal, mas meu conceito de feira é de um espaço multidisciplinar de oportunidades compreendendo os vários níveis da vida de uma sociedade. O que vi foi essencialmente um pensamento macro, representado naquelas stands que pouco ou nada dizem ao indivíduo. Só materiais de construção, cervejeira, algumas empresas (entre privadas e estatais) já muito divulgadas. Para se ter ideia, nada há de mambos na linha de informática nem telefonia nem de oportunidades de formação, enfim...
Share:

sábado, 14 de maio de 2011

para ocupar o sábado

Lançamentos a decorrer neste momento (14 Maio 2011) na cidade de Benguela: Anselmo Ralph (novo Album e perfume) na portaria da Rádio Morena); Fridolim Kamolakamwe (coletânea de CD de poesia) no Centro Católico.
Share:

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Oratura: ruídos que se perpetuam no tema "sakatindi" do cancioneiro Ovimbundu, grupo etnolinguístico angolano de origem Bantu

Enquanto vinha para o serviço esta manhã, servia-me de companhia a emissão matinal da Rádio Mais, com Rui Fernandes na locução e Manuel Chandikua na técnica de som. Entre um tema e outro, surge a voz de Diabick, o nosso lobitanga que se encontra adoentado em Luanda. A música "Ene a manu" adopta também a animação "Sakatindi", do cancioneiro Ovimbundu, grupo etnolinguístico angolano de origem Bantu.

Sakatindi é uma dança tradicional com toques sensuais, mais ou menos como na dança rebita, onde os integrantes da roda a dado momento se encontram aos pares (homem/mulher). A palavra Sakatindi, não me ocorrendo por enquanto sinónimo, diria que funciona um pouco como interjeição. Mas por que carga d'água venho agora com esta ladainha?

Ora, há uma passagem da canção que sempre me soou a ruído. E todos os artistas que adoptam a canção, e olha que não são poucos, caem no "erro" de pronunciar "ukãi wanjepele, ukãi wanjepele, ulume ocitende". Traduzindo, "a mulher de Isabel, a mulher de Isabel, o marido é parvo". Não faz muito sentido, já que Njepele é Isabel em Umbundu. Foi daí que certo dia interpelei meu avô paterno e xará, que disse tratar-se de uma degeneração de uma máxima Umbundu. O certo seria "ukãi kaendi epenle, ukãi kaendi epenle, ulume ocitende", que em português corresponde a "se a mulher sofre nudez, se a mulher carece de roupa é porque o marido é parvo".

Eis então a letra e tradução livre para o português:

Onguya yange ndayisile posamwa (Deixei fora a minha agulha)
yokutunga olonanga (de coser panos/tecidos)
Onguya yange ndayisile posamwa (Deixei fora a minha agulha)
yokutunga olonanga (de coser panos/tecidos)

ukãi kaendi epenle (se a mulher não tem roupa)
ukãi kaendi epenle (se a mulher não tem roupa)
ulume ocitende (é porque o homem é parvo)
ulume ocitende ongandu yuñuatele (já que é parvo, que o jacaré o ataque)
Sakatindi! Sakatindi! Sakatindi!

Esta é a versão de meu avô Manuel Patissa, que me parece muito mais perto de fazer sentido. Se você tiver outra, não hesite em partilhar.

Gociante Patissa, aeroporto da Catumbela, 11de Maio de 2011
Share:

terça-feira, 10 de maio de 2011

Convite - No dia 7 foi a abertura da Exposição África Tua. Venha visitar-nos em Barreiro, Portugal

Exmo.(a) Sr.(a)

No dia 7 foi a abertura da Exposição África Tua, contamos com várias presenças, incluindo a da TPA internacional  com o programa FLASH. O evento prolonga-se até dia 21, dia de encerramento que colmatará com um almoço à boa maneira africana (mediante inscrição prévia e pagamento de 12 €).
Venho por este meio reforçar o convite já feito, para aparecerem e divulgarem. O espaço pode ser visitado diária e gratuitamente das 15h as 19h.
Por mim e por ti, por África em nós!

-- 

Anaína Lourenço
GRIOT
Direcção e Producção
Rua Almirante Reis, 66
Sala 19, Barreiro
913647154/927739241
--------------------------------------- 
 “ENCONTROS DA LUSOFONIA”

No âmbito da actividade cultural inserta no seu programa de acção onde a interculturalidade assume especial importância face ao tecido populacional do concelho, ponto de encontro de culturas diversas a  GRIOT – associação Cultural  levará a efeito uma iniciativa integrada no ciclo “ENCONTROS DA LUSOFONIA” denominada “ÁFRICA TUA”, para a qual contámos com co-produção e parceria activa da Cooperativa Cultural Popular Barreirense, e o apoio  da Organização da Mulher Angolana no Barreiro, cuja inauguração terá lugar no próximo dia 07 de Maio de 2011 às 16h00 e decorrerá até 21 de Maio de 2011  na sede da Cooperativa sita na Rua Miguel Bombarda 64-C BARREIRO.
Da programação consta o seguinte:

PROGRAMA:
7.5.2011 ÀS 16h00 : Recepção, apresentação e
Inauguração da exposição de:
- Pintura ;
- Esculturas em mármore e madeira;
- Fotografia
-Trajes africanos;
-Literatura
-Artesanato
- Animação musical dos músicos Chalo, Frank Cruz, félix Fontoura e Be Sweet e moscatel de honra.
11.5.2011:
19h00 – Visita da RTP para gravação e
Divulgação da iniciativa;
21h00 – projecção de um fime temático
               e convivio com musica de Africa.
14.5.2011:
21h00 – projecção de dois filmes de Jorge António  e convivio
             Musical.
21.5.2011 :
13h00 – Degustação dos prazeres da gastronomia
               Africana, sujeito a marcação e pagamento
               prévio 12€.
·                    A exposição estará patente ao público, de 2ª a 6ª feira,
·                    Das 15h00 às 19h00 e excepcionalmente em horário
·                    Diferente, desde que com marcação prévia.
Contamos com a vossa presença, o que antecipadamente agradecemos.
BEM  HAJA 
Share:

segunda-feira, 9 de maio de 2011

SOS: músico Diabick carece de intervenção médica urgente

A voz e o sentido de humor mantêm-se intactos, enquanto o corpo aos poucos como tem sido nos três últimos anos, só que agora com passos cada vez mais acelerados, cede. À insuficiência renal somou-se a trombose, que no período de três anos o atacou em igual número de vezes. O lado direito é o mais visível, numa sequela que quebra o ritmo da perna direita. Como se não bastasse isso, vê-se também assolado por ondas de amnésia. "Às vezes, quando quer o telemóvel dele, pede relógio, e nós já sabemos que ele quer o contrário", conta a esposa, também esperançosa quanto à recuperação do marido.

Fernando Pires da Graça, o nosso lobitanga "Diabick", há três anos deu entrada numa clínica de referência em Luanda, onde reside, com apoio financeiro (USD 10 mil) da Ministra da Cultura, a também lobitanga Rosa Cruz e Silva, seguindo posteriormente em viagem para Luanda.

"Ene a manu, tukuati ño o henda", uma vez em Umbundu cantou Diabick, que agora oportunamente traduzimos: "ó gente, tenhamos compaixão".
Share:

Humor: "O pedreiro e seus problemas" (acabei de receber por e-mail)

Um pedreiro que não  andava a sentir-se muito bem decide consultar um médico:
- Dr. não me sinto nada bem, pois, não consigo fazer nada... sento-me na sanita... e não sai nada, absolutamente nada.
O médico olhou para ele, examinou-o e disse-lhe:
- Olhe, dobre-se aí por cima da mesa.
O pedreiro dobrou-se por cima da mesa e o médico pegou num barrote, dá-lhe uma mocada no cu e manda-o ir à casa de banho.
Quando sai da casa de banho o pedreiro diz:
- Dr., sinto-me aliviado. O que é que eu devo fazer, agora?
- Deixe de limpar o cu com os sacos de cimento. O.K.?

PS: coitado de mim que até tenho curso no ramo rsrsrs.
Share:

Um anúncio, no mínimo, inusitado

Partamos da ideia que é difícil ter imaginação aproximada ao que acontece entre o polícia regulador de trânsito e o automobilista, de tão surpreendente que é a "sociologia" das estradas cá da Banda. Disso exemplo é o comunicado do programa "Ecos do Evangelho" das Igrejas Cristãs, emitido no domingo passado pela Rádio Nacional de Angola:

"O pastor fulano de tal pede ao agente de trânsito sicrano, que está destacado no posto X, estrada Y, que o localize a fim de lhe oferecer uma bíblia".

Assim no ouvido do ouvinte, parece que quem precisa de ser localizado é o pastor, uma vez que o comunicado traz o nome e endereço concretos da pessoa que se pretende localizar. O endereço do pastor é a rádio?

Gociante Patissa
Share:

domingo, 8 de maio de 2011

Blog Angodebates citado no site REDE VIH sida NOTÍCIAS

O site define-se como sendo "Uma REDE de selecção e partilha de notícias, saberes, alertas e Boas Práticas de resposta às IST/VIH/sida nas comunidades e países que falam português. Verifique a credibilidade das suas fontes de informação: peça o CV do responsável (redesida@gmail.com)". Para ler o artigo, publicado sob o título 

Angola: Crónica: Os portadores do vírus da SIDA e o efeito inverso da luta contra o estigma Eis o link http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:To2KQk9dW3UJ:redevihsida.wordpress.com/page/104/+gociante+patissa+2008+2011&cd=54&hl=pt-PT&ct=clnk&source=www.google.com




SEXTA-FEIRA, JANEIRO 07, 2011


Crónica: Os portadores do vírus da SIDA e o efeito inverso da luta contra o estigma

A edição desta semana do programa “60 minutos”, da televisão americana CBS e que nos chega pela TPA, teve um bloco sobre a SIDA no Uganda. Naquele país africano, os índices de novos casos de infecção por VIH sobem consideravelmente. O fenómeno é associado ao aumento da noção de que “a SIDA já não mata”, na medida em que existe terapia para atenuar o efeito das doenças a ela associadas. A solução, realçava o narrador, passou a ser o próprio problema.

Vários casais aparecem, aparentemente, e aqui sublinho o aparentemente, prontos a partilharem com a televisão o momento de abertura do resultado dos testes médicos, num cenário preparado para o efeito. A primeira ilação que se podia tirar, para quem alguma vez se engajou em acções do género, era de que a campanha de sensibilização colhia resultados positivos. Não havendo ainda vacina, a informação é a mais potente arma, o que passa pela sensibilização. É certo que os testes médicos são, na sua essência, objecto de sigilo entre o paciente e o profissional. Portanto, se os casais ainda anuíram para que o momento fosse filmado, estava-se muito mais do que num encorajador caminho. É bom lembrar que os testemunhos e exemplos são relevantes na promoção da mudança positiva de mentalidades.

Estariam preparados para o resultado do teste? Teriam transposto as suas comunidades a barreira do estigma e discriminação? A mais eloquente resposta veio das lágrimas de inconformismo de uma senhora, ao saber que vivia com o vírus da SIDA, independentemente de não apresentar sintomas. A mais dramática reacção foi de um cidadão que anunciava o fim da relação, pois a companheira era VIH positiva e ele negativo.
Share:

sábado, 7 de maio de 2011

Este Blog deseja rápidas melhoras ao músico Manborró - "Há um traço / de união / é a canção".

"Há um traço / de união / é a canção". Este trecho da música "Traço de União", composição de Cassé e cantada por Man Borró, ilustra bem a iniciativa encabeçada pelo músico Maya Cool, que visa recolher apoios para o tratamento médico do "menino" do Kwanza-Sul que se iniciou na década de 80 no programa "Pió, pió" da Rádio Nacional, com Ângelo Boss, As Gingas, entre outros...

Foto achada algures na Internet.

Ler mais...


ACTUALIZAÇÃO: (Fonte das linhas abaixo http://koluki.blogspot.com/2009/01/mamborro-o-percurso-de-um-pio.html)



Mamborró foi um dos principais nomes na década de 80 e 90 em Angola. Por essa razão, transcrever a sua trajectória é um desafio de grandes obstáculos. “Vi a minha vida próximo do fim, mas graças ao apoio da sociedade civil angolana, consegui salvar-me. Muito obrigado aos angolanos de Cabinda ao Cunene e do Mar ao Leste!”. Estas foram as primeiras palavras expressas por Mamborró, no início da nossa conversa.*

José Machado Jorge sofre de diabetes por isso está proibido de beber, fumar e perder noites. Chá e a água são as companheiras inseparáveis de agora.
É filho de Felismina José da Costa e de José Manuel Machado Jorge, é o terceiro de seis irmãos. Nasceu a 7 de Agosto de 1970, na Rua C, na vila da Gabela, província do Kwanza-Sul. Tinha tudo para seguir a carreira de desportista, de empresário ou mesmo de piloto de aeronaves. Mas aos nove anos, sentiu que tinha verdadeiramente queda para a música. Mesmo assim, por causa da timidez, fugia quando era convidado a cantar em actos públicos. Foi a partir do primo Nando Borró, que já cantava no agrupamento Sagrada Esperança, que ele descobriu a forma de enfrentar a multidão. Nando Borró sempre foi um empreendedor, com valioso faro artístico. Decidiu introduzir o primo, como bailarino, num grupo de dança e música de grande sucesso, na Gabela.
Mas Mamborró queria mesmo chegar ao topo da música. Daí que durante um festival infantil, onde os membros do júri eram provenientes de Luanda, Nando Borró inscreveu o primo como um dos concorrentes do festival infantil. Mamborró conquistou o segundo lugar entre dezenas de candidatos.
Pela voz segura e pela sua maneira de dançar, Dionísio Rocha, um dos integrantes do júri, decidiu deixar-lhe o endereço e um convite. “Quando fores a Luanda, aparece”.

À procura do Dionísio

Depois do concurso, durante meses, Mamborró passou a ser uma estrela musical da Gabela. O sucesso levou-o a recordar o convite de Dionísio Rocha. Contra a vontade dos pais, partiu para Luanda, onde já se encontrava a morar uma irmã mais velha. Mas o objectivo era localizar Dionísio Rocha, para se tornar num músico de verdade.
Mamborró chegou a Luanda e minutos depois de pousar as malas, procurou imediatamente o endereço de Dionísio Rocha. Não foi difícil localizá-lo. Dionísio Rocha ensinou-lhe o caminho da RNA, onde encontraria as pessoas indicadas. Mamborró perdeu-se e não conseguiu localizar as instalações da rádio. Desgostoso com o sucedido, decidiu fazer uma segunda tentativa.
Na sua convivência com os novos amigos no Bairro Prenda, conheceu o músico infantil Maranax que lhe deu as instruções precisas para chegar à RNA. Desta vez teve êxito. Pela mão de Artur Arriscado foi fazer um teste de voz em companhia de vários concorrentes como Joséca, Ângelo Ramos, hoje Boss, entre outros nomes da música em Angola. Com a canção “Quando Passo pelas Ruas”, Mamborró deixou toda a gente de boca aberta e foi aceite.
Alguns meses depois passou a ser uma figura emblemática da música infanto-juvenil do país, o que o levou a ganhar o apelido de Mamborró. Partiu para uma carreira notável que o levou, em 1987, a conquistar o Top dos Mais Queridos e o título do melhor cantor do Top dos Cinco. Depois de um ano de glórias, sucessos e inúmeros espectáculos, José Manuel Machado Jorge foi chamado para o serviço militar obrigatório.

Músico na recruta

Aos 18 anos, Mamborró era visto como um dos pilares da música em Angola. Mas nem com isso ficou isento do cumprimento do serviço militar obrigatório. Em 1988 foi para Menongue. As dramáticas notícias vindas do campo de batalha levaram-no a pensar no pior. Mas por força do amor à pátria desprezou o medo e enfrentou os dissabores da recruta na Escola Primeiro-tenente Marcolino.
“Justamente por ser o famoso Mamborró, fui chamado para a tropa. Fiz a minha parte como patriota”. E, logo no ano seguinte, depois do juramento da bandeira fui transferido para a direcção política em Luanda.

Brasil e regresso dramático

A necessidade de se aperfeiçoar cada vez mais no domínio da música, levou Mamborró a estabelecer contactos para ­conseguir uma bolsa de estudo. Solicitou ajuda ao então comandante da direcção política. O pedido foi aceite e partiu para o Brasil, onde estudou durante três anos violão e canto. Mas nem tudo foi bom para Mamborró. Os atrasos no pagamento da bolsa levaram-no a desistir do curso. O pouco apoio para a sua sobrevivência vinha do jornalista João Melo, que na época trabalhava no Brasil. “Esta pessoa esteve presente na minha formação”. Em Agosto de 1993, por causa das dívidas, decidiu abandonar o Brasil e regressar.
Já em Angola, as mudanças políticas que se operaram no país, levaram à desvalorização da música angolana. Mamborró deixou de ser o ídolo e o nome esfumou-se no meio dos enormes problemas sociais que o país vivia na época. Passou a viver autênticas odisseias em cada acção do seu dia a dia.

Mamborró responde

Como foi a sua reintegração em Angola?

Muito difícil. Primeiro fui taxista e depois trabalhei no Terminal Aéreo Militar (TAM), como motorista. O Zecax disse-me que um dia eu abandonaria essa actividade, acabei por abandonar. No TAM passei a oficial de operações. Trabalhei seis anos nessa situação. Mas nunca pensei em desistir da música. Há pessoas que dizem que usei drogas, é mentira. Nunca cheguei a esse ponto. Apenas bebia muito. Hoje, vivo da música e sou relações públicas da empresa do meu promotor Manuel Dias dos Santos (Kito).

Quando é que decidiu regressar à música?

Não tive quem que me ajudasse a gravar um disco. Bati portas, enviei cartas para várias instituições, mas nunca obtive respostas satisfatórias. Talvez por causa dos 16 anos que fiquei inactivo. Num belo dia, caminhava com destino a Ilha de Luanda, encontrei-me com o Kito dos Santos, um companheiro e compadre de longos anos. Reconheceu-me e, depois de vários minutos de conversa, disse que me apoiaria. Tirou-me da fossa. É um pai para mim, atendendo à vida que eu levava: cigarro, bebida e perdas de noites consecutivas. Agora só penso na música e no curso superior de Sociologia. Sei que vou a tempo.

A fama deu para conquistar muitas mulheres?

Não é verdade. Se assim fosse teria muitos filhos, mas veja que só tenho cinco, com três mulheres apenas. Elas é que me moldaram para este mundo, pois que fui sempre uma pessoa tímida. Mas ao longo do sucesso apareceram muitas Belinhas Chuchus, Guidas e Nonôs. Foi uma fase que já passou. Hoje eu é que corro atrás delas. Chamo por elas e já ninguém liga o Mamborró.

Aconteceu comigo

José Manuel Machado Jorge ou Mamborró, como é conhecido nas lides artísticas, aos 38 anos, tem guardado na sua trajectória de vida, vários momentos. Mas o realce recai para a solidariedade e carinho dos velhos tempos, enquanto cantor do programa radiofónico “Piô-piô” e o bom senso que o salvou das vicissitudes que viveu recentemente, depois do seu internamento num dos hospitais na Namíbia. “Muito obrigado Angola”, diz Mamborró.

*Entrevista de Jornal de Angola
Share:

A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

Publicações arquivadas